Quatorze anos atrás
- Onde estamos indo? - questionei meu pai enquanto ele dirigia pelas ruas de Chicago. - Eu tenho aula amanhã cedo.
Meu pai mantinha o silêncio desde que saímos de casa, ele não disse nada nem mesmo para mamãe, apenas falou que ia me levar a um lugar.
Por sorte aquela hora da noite o trânsito infernal já tinha aliviado, mas ainda sim, havia muitos carros à nossa volta, enquanto entrávamos ainda mais na área movimentada da cidade.
- Não se preocupe com aula garoto, essa noite vai mudar a sua vida. - meu pai finalmente abriu a boca. - Garanto que daqui a algumas horas a última coisa que você vai pensar é na aula de amanhã.
Nada do que ele tinha acabado de falar tinha feito muito sentido, assim como toda a aproximação repentina dele. Meu pai nunca foi muito apegado a mim, mas desde que Travis e ele brigaram, alguns meses atrás, ele tem ficado cada vez mais próximo de mim, querendo sair, me levando para a empresa e tentando me ensinar coisas que ele dizia serem coisas de homem.
- Mas eu não posso perder aula, estou no time e vou ficar no banco no próximo jogo se faltar um dia de aula.
Ele não tinha que saber que isso era apenas porque eu tinha matado mais aulas neste semestre do que ido às aulas. A única que se importava era minha mãe, então nunca tive que me preocupar com ele, mas é claro que assim que o filho prodígio deu o fora de casa e virou as costas para ele, seu alvo tinha que mudar e eu agora ia pagar o pato.
- Esquece o time de futebol americano, você tem que pensar além, no futuro de verdade não nessa merda de passatempo. - ele falou virando o carro em uma rua, dando de frente com uma boate famosa da cidade. - Logo você vai assumir a empresa em meu lugar e até lá eu vou te ensinar a ser um homem de verdade, não um como o seu irmão.
- Você sabe que eu tenho só dezesseis anos, não é?
- Idade é só um detalhe, mas sim, quando completar seus vinte anos a empresa vai passar para as suas mãos, como era para ser com Travis. - ele parou o carro na entrada da boate e desceu com tranquilidade, jogando as chaves para o vallet e sorrindo, mostrando serem bons conhecidos.
Eu olhei em volta, ainda não conseguia acreditar que ele me deixaria entrar naquele lugar. Não era como as boates que já tinha passado em frente com meus amigos, não havia cartazes do lado de fora anunciando as atrações, essa tinha apenas uma fachada com o nome em letras douradas: Nympha
- Ainda pode passar a empresa ao Travis, vocês só precisam que fazer as pazes, pois ele continua falando com a mamãe.
Meu pai bufou parando na porta e se virando para me olhar. Não havia uma nota de felicidade no olhar dele, nenhum sorriso ou euforia com o lugar onde estávamos prestes a entrar, ele só continuava com o olhar duro.
- Não vai existir paz entre seu irmão e eu, ele escolheu virar as costas para a família e desistir de tudo, só porque a história de amor dele não deu certo. - ele agarrou meu pulso sem medir as forças e me puxou para perto. - Eu errei deixando que sua mãe criasse vocês, ensinando essa ideia tola de romance.
- Qual é o problema de estar apaixonado? Você ama minha mãe, e eu...
- Você não ama ninguém e vai entender isso, romance e paixão é para tolos! - ele afirmou voltando a andar me puxando junto. - As mulheres são interesseiras, todas elas, não se iluda com essa ideia de amor. Você viu o que aconteceu com seu irmão, bastou oferecer uma quantia em dinheiro para ela não só se livrar do bebê como abandonou o idiota!
Eu sabia de toda essa merda, todos nós sabíamos, a garota era uma vadia sem dúvidas, só estava atrás do nosso dinheiro. Papai salvou Travis de cair em um belo golpe, por isso eu não entendia meu irmão ter saído de casa.
Tudo bem que o velho usou artimanhas baixas e agiu pelas costas dele, mas só estava tentando protegê-lo, de uma forma que meu irmão nunca deixaria.
- Isso foi fodido, eu sei, mas não acho que todas as mulheres são assim, especialmente Cindy. - falei pela primeira vez dela com meu pai, mesmo que já estivesse gostando dela há meses.
Por um instante nossa conversa foi ofuscada pela música sedutora e meus olhos foram automaticamente atraídos para o palco, onde uma loira de lingerie vermelha dançava junto ao pole dance sobre uma luz azul neon.
Os homens se amontoavam na frente do palco, todos querendo uma visão privilegiada e mais próxima dela, e a quem eu podia julgar? Mesmo a distância eu já estava babando, totalmente vidrado quando ela levou as mãos ao fecho do sutiã e arrancou a peça de vez.
- Essa noite você vai começar seu treinamento para ser um Wayne de verdade! - ouvi meu pai falar perto demais do meu ouvido, mas meus olhos não desviavam dos seios grandes pulando livremente. - E sua primeira missão é se tornar um homem de verdade.
- Pai sabe que eu nunca fiz isso, nunca...
- Eu sei disso, por isso estamos aqui. - ele acenou para uma mulher loira, usando saltos muito altos e um vestido preto transparente, que não cobria quase nada em seu corpo. - Essa é Maya, ela vai te ensinar tudo o que precisa saber e quando ela terminar com você com certeza não vai nem se lembrar dessa garota da escola!
- Vem docinho, garanto que vai ser a melhor noite da sua vida!
E sem sombra de dúvidas aquela foi a noite que começou a mudar a minha vida. O mundo se tornou um lugar mais simples e prazeroso de se viver depois que aprendi a lição mais valiosa do meu pai: todos tem um preço!