"Vou me divorciar do Alex", eu disse à Carla, minha melhor amiga.
Ela quase engasgou com o café, chocada. Por três anos, minha vida de casado foi uma sombra tênue, onde o verdadeiro amor do meu marido sempre foi outro.
Alex, a estrela do time de natação da faculdade, nunca me amou. Eu era o porto seguro, o substituto convenientemente disponível quando seções de seu coração se estilhaçaram pela partida de Daniel, seu noivo, no altar.
Casei-me com ele, sabendo que era amor de segunda mão, mas alimentava a esperança tola de que um dia eu seria suficiente.
Essa esperança definhou a cada vez que Alex corria para o lado de Daniel, a cada crise - real ou fabricada - do homem que ele ainda idolatrava.
Eu era a figura de fundo, o zelador, aquele que cuidava da casa enquanto ele vivia sua vida, em constante devoção a Daniel. Ele me defendia casualmente, mas o fez porque eu era seu "marido", não Leo, a pessoa.
No dia do meu aniversário, quando ele cantou "Parabéns pra Você" com um bolo em mãos, meu coração vacilou. Mas então, o celular tocou, o nome "Daniel" brilhou na tela, e Alex se desculpou, apressado para atender ao chamado de seu verdadeiro amor, deixando-me sozinho com a vela acesa.
Naquele momento, não houve mais hesitação. "Desejo nunca mais te amar", sussurrei para o silêncio, apagando a vela.
Eu não era mais um prêmio de consolação. Não era mais o estepe.
Era hora de me libertar de uma década de amor não correspondido e três anos de uma mentira.
Com uma calma assustadora, preparei os papéis do divórcio. Seria a última vez que Alex me subestimaria.
Seria a minha própria libertação.