Prólogo
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Prólogo
No silêncio da madrugada, Lobão caminhava sozinho pelas ruas estreitas da cidade, iluminadas apenas pelos postes desgastados e pela luz hesitante da lua. A sombra que ele projetava no asfalto refletia muito mais do que seu corpo forte e imponente; ela é o eco de uma alma marcada por cicatrizes invisíveis, cicatrizes que jamais esquecerá. Rodeado de respeito e temor entre os que o conheciam, Lobão é um homem solitário, um enigma que poucos ousavam decifrar. Mas, por trás do olhar duro e do semblante frio, tem uma história de dor e resistência, uma jornada que ele carrega consigo como um fardo pesado demais para dividir.
Lobão nasceu em uma casa onde o amor era apenas uma palavra sem significado. A mãe, sempre com os olhos baixos e o rosto marcado por lágrimas e hematomas, tentava proteger os filhos de um destino crüel. Mas o pai, um homem bruto e violento, era a tempestade constante que destruía qualquer vestígio de paz. Lobão tinha apenas oito anos quando viu sua mãe pela última vez. A lembrança daquela noite ainda é nítida, gravada em sua mente como uma tatuagem que ele nunca quis. Os gritos abafados, o som dos golpes e, por fim, o silêncio aterrorizante. A mulher que o havia embalado em seus braços já não respirava mais, e o mundo de Lobão desmoronou.
O pai foi preso, e por um breve momento, parecia que a tormenta havia passado. Mas o que se seguiu foi um vazio avassalador. Lobão e suas irmãs foram deixados à própria sorte, sem comida, sem amparo e sem esperança. As noites eram longas e geladas, e a fome era uma constante. Ele, o mais velho, tomou para si a responsabilidade de cuidar das irmãs. Mesmo sendo apenas um menino, Lobão percorreu as ruas da cidade pedindo um pouco de comida para alimentar as duas. Com o rosto sujo e os olhos suplicantes, ele enfrentava olhares de indiferença e desprezo. Algumas pessoas jogavam moedas, outras simplesmente o ignoravam, e havia aquelas que achavam graça em humilhá-lo.
Uma vez, enquanto estava pedindo ajuda, um homem jogou um balde de água suja nele, rindo de sua desgraça. Lobão, encharcado e tremendo de frio, apertou os punhos, mas não derramou uma lágrima. Ele sabia que chorar não mudaria nada. Foi naquela noite que algo dentro dele começou a endurecer, uma couraça invisível que ele construiu para sobreviver.
Quando o pai saiu da prisão, o inferno retornou com força total. As irmãs de Lobão passaram a sofrer abusos terríveis, e ele, impotente, se tornou o alvo preferido das surras. Ainda assim, ele resistia. Mesmo machucado, continuava a sair às ruas, buscando qualquer coisa que pudesse colocar na mesa para dividir com as irmãs. As ruas o ensinaram a ser rápido, a ser forte, a nunca confiar em ninguém. Lobão aprendeu a lutar pela sobrevivência, mas, em algum momento, perdeu a inocência que uma criança deveria ter.
Os anos passaram, mas as feridas do passado continuaram abertas, sangrando silenciosamente. Lobão se tornou um homem frio, calejado pela vida, mas nunca esqueceu de onde veio. A dor que carregava era o combustível que o movia, a lembrança de tudo o que ele jurou jamais permitir que acontecesse novamente. Dentro do comando, ele era temido e respeitado, mas no fundo, era apenas um homem tentando sobreviver às sombras que o perseguiam.
Naquela noite, enquanto caminhava sozinho, Lobão parou em uma esquina e olhou para o céu. As estrelas estavam escondidas pelas nuvens, como se também tivessem medo de testemunhar sua história. Ele respirou fundo e seguiu em frente. Porque, apesar de tudo, ele ainda estava de pé. E isso, por si só, já era uma vitória.
Lobão cresceu no caos de uma vida sem amor e sem rumo, mas encontrou no crime não apenas sobrevivência, mas também propósito. Ele nunca conheceu a bondade genuína até encontrar DK, um homem que, embora já enredado no submundo, ofereceu a Lobão comida, conforto e uma chance de ser útil. Foi a primeira e a única pessoa em quem Lobão depositou confiança.
O homem já experiente, Cuidou de Lobão, Cuidou das suas feridas, e se importou com ele, como ninguém nunca fez.
O relacionamento entre os dois começou com pequenos favores, trabalhos simples que Lobão executava em troca de sustento. Aos poucos, DK percebeu o potencial do jovem: rápido, esperto e com um olhar vazio que refletia uma dor profunda, mas também a ausência de medo. Essa combinação fez de Lobão uma peça valiosa no comando.
Quando Lobão revelou sua história e o ódio que alimentava pelo pai, DK não hesitou em ajudá-lo a executar sua vingança. A morte do homem que destruiu sua infância foi um ponto de ruptura. Lobão sentiu um alívio, mas também percebeu que a vingança não apagava o vazio. Sua irmã mais velha fugiu com um homem, Pelo menos foi isso que lobão ficou sabendo, cortando todos os laços, partiu sem se despedir. Enquanto a outra irmã caiu na escuridão da prostituição, virou uma usuária compulsiva, terminou assassinada. Para Lobão, essas perdas não o abalaram; elas apenas reforçaram seu isolamento emocional, e fardos a menos para carregar em suas costas. Já lhe bastava o peso da vida.
Sem mais amarras, ele mergulhou completamente no mundo do crime. Dentro do Comando Vermelho, encontrou algo que se aproximava de uma família, embora a confiança fosse um luxo que ele se recusava a conceder. Lobão se destacou pela postura rígida, a coragem inabalável e a lealdade ao comando. Lobão Conheceu a paixão, mas nunca o Amor, aprendeu a dividir a vida, mas nunca a confiança.
Como uma máquina, ele executa Ordens, inimigos e o que mais lhe afrontar. Lobão não tem medo de nada.
Sua frieza e eficácia o elevaram ao status de "Lobo do Morro", um homem temido e respeitado, que governa seu território com honra e determinação.
Apesar de seu poder, Lobão carrega uma solidão que ninguém consegue ver. Ele vive para o comando, mas, no fundo, ainda é o garoto que nunca encontrou a paz.
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