Sentada na primeira fileira da igreja, assisto de camarote o casamento da minha meia-irmã com meu grande amor de infância e ex-namorado, Matias Souza.
O altar, decorado com flores brancas e douradas, quase brilha sob a luz suave das velas, e o som da música sacra preenche o ambiente com uma melancolia doce. Os convidados estão todos ali, imersos em um momento de felicidade que, para mim, parece distante, um sonho que nunca foi real.
Eu estava ali, observando, tentando encontrar algum tipo de paz nas palavras do padre, nas risadas dos convidados, mas tudo o que eu sentia era um peso enorme em meu peito, como se o mundo estivesse desabando ao meu redor. A cada passo de Matias, que avançava até o altar com um sorriso cauteloso, meu coração se partia um pouco mais. Ele estava tão diferente, tão distante, quase irreconhecível, mas ao mesmo tempo, ainda era o homem com quem compartilhei os melhores momentos da minha vida. E agora, ele estava prestes a se casar com Brenda.
- Se alguém tiver algo contra esta união, que fale agora ou cale-se para sempre. - A voz do padre ressoou pela igreja, interrompendo o fluxo de meus pensamentos. Ele olhou ao redor, esperando alguma reação, algum protesto.
Eu senti o ar ficar denso ao meu redor, a expectativa criando uma pressão que me sufocava. Era como se o mundo estivesse aguardando o meu movimento, o meu grito, minha intervenção. Não consegui impedir que o pensamento passasse por minha mente: "E se eu impedir esse casamento? E se eu fizesse algo agora?"
Olhei para Brenda, vestida com um deslumbrante vestido de noiva branco. Ela parecia perfeita, sua expressão de felicidade radiante enquanto olhava para Matias. A mesma expressão que eu costumava ter quando ele era meu, quando ele ainda não me tinha deixado para trás. Agora, ela estava tomando meu lugar, e a dor em meu peito aumentava a cada segundo.
Olhei novamente para Matias, que parecia estar em um transe, imerso na expectativa de fazer o que se esperava dele. Nada parecia genuíno ali.
Ele olhou para Brenda, e, por um breve momento, seus olhos se encontraram com os meus. Havia algo neles, um misto de arrependimento e dúvida. Mas era tarde demais para ele se lembrar de mim, tarde demais para nós.
Eu quase gritei naquele momento, quase levantei e interrompi a cerimônia com as palavras que tanto guardara dentro de mim, mas algo me segurou. Não podia fazer isso. Não podia expor minhas inseguranças, minha dor, diante de todos. Afinal, o que eu tinha para dizer? Que o amava ainda? Que queria voltar a estar ao seu lado, mesmo depois de tudo o que ele me fez? Que não conseguia aceitar que ele estava com Brenda e não comigo? Eu não tinha mais nada para dizer. Nada além de dor e tristeza.
Meus olhos se encheram de lágrimas, mas eu as segurei. Não deixaria ninguém ver minha fraqueza ali. Eu não seria mais a tola que se entregava a sentimentos vazios. Me levantei lentamente da cadeira, tentando evitar o olhar de todos, e caminhei até a saída da igreja, os passos pesados, como se cada um deles fosse uma despedida, um adeus.
O som da música, das palavras do padre, do "sim" que Brenda pronunciou, tudo isso ficou distante enquanto eu atravessava os corredores da igreja. Minha visão estava turva, minhas mãos tremiam ligeiramente. Eu queria correr para longe dali, sair daquele lugar, mas minha mente se recusava a me deixar escapar. Eu não podia simplesmente fugir da dor. A dor me seguia, me acompanhava em cada passo.
A porta da igreja se abriu na minha frente, e a luz do sol invadiu meus olhos, cegando-me por um momento. Eu estava fora, respirando o ar frio do fim da tarde, tentando afastar a sensação de vazio que me consumia por dentro.
O vento gelado me envolveu enquanto eu caminhava sem rumo, perdida em meus próprios pensamentos. Eu não sabia para onde estava indo, não sabia o que fazer a seguir. Tudo o que eu sentia era uma perda irreparável, uma sensação de que, por mais que eu tentasse, nunca conseguiria retomar o que eu tinha com Matias. Ele agora era dela, e a ideia de que ele jamais seria meu novamente me dilacerava.
Havia dias em que eu acreditava que a dor que ele me causara tinha diminuído. Que eu conseguiria seguir em frente. Mas naquele momento, vendo o sorriso de Brenda, vendo Matias finalmente se entregar a outro amor, eu percebi que nada havia mudado. Eu ainda o amava, ainda o desejava, mas ele não sentia o mesmo. Ele a amava agora.
Não, ele amava o dinheiro que ela poderia oferecer, sua ganância foi maior que o sentimento de uma vida inteira.
Sentei-me no banco de uma praça próxima, as lágrimas finalmente caindo livremente, sem medo de serem vistas. Eu não me importava mais com os outros, com os olhares dos transeuntes que passavam por ali. Eu estava quebrada, e não havia como esconder isso.
Tudo o que eu queria era voltar no tempo, quando as coisas eram mais simples, quando eu acreditava que a felicidade de Matias e a minha estavam entrelaçadas para sempre. Mas agora, eu sabia que tudo havia terminado. Ele estava casando com ela, e eu... eu estava sozinha.
Olhei para o céu, buscando alguma resposta, alguma explicação para o que tinha acontecido. Como é que ele tinha se tornado o homem que estava ali, naquele altar, dizendo "sim" a Brenda, enquanto eu ainda estava presa a um passado que parecia tão distante?
Mas nada veio. Nenhuma resposta. Apenas o silêncio.
Eu tinha perdido, e ele não era mais meu. E aquela dor, aquele vazio, seria a minha companhia por um tempo.
Fiquei ali por horas, até que o frio começou a me penetrar, e eu me levantei, sem saber para onde ir, apenas querendo desaparecer, fugir da realidade que se impôs diante de mim.
Eu não queria voltar para casa, mas não tinha outra opção, fugir era pior e ainda teria que lidar com o drama de Isaías.