Nathaniel Alexander Montenegro
O barulho dos tiros ainda ecoava nos meus ouvidos quando corri pelo beco escuro. O cheiro de pólvora misturado ao de sangue grudava na minha pele como uma tatuagem impossível de apagar. Era mais uma missão encerrada, mais um inimigo eliminado, mais um risco a menos para o governo dos Estados Unidos.
Eu deveria estar acostumado. Anos trabalhando como investigador, caçando criminosos internacionais, traficantes, terroristas, gente que só conhecia a palavra poder e destruição. Mas, naquela noite, algo dentro de mim quebrou.
Meu parceiro havia caído minutos antes. Vi sua vida se esvair diante dos meus olhos. E, mesmo tendo conseguido cumprir o que vim fazer, tudo em mim gritava que já não valia a pena.
Encostei minhas costas na parede fria e respirei fundo, tentando recuperar o fôlego. Minhas mãos tremiam. Meu coração parecia bater fora do peito. E foi ali, em meio àquela madrugada de sirenes e caos, que percebi que eu já não era apenas um caçador. Eu era também a presa.
Meus inimigos cresciam em número. A cada vitória minha, surgia alguém novo para me odiar, alguém disposto a esperar a hora certa para se vingar.
Aposentar. A palavra nunca tinha feito sentido para mim até aquele instante. Mas ela bateu com força dentro da minha mente, como uma ordem. Eu tinha dinheiro suficiente, contatos suficientes e uma vida inteira pela frente. O que eu não tinha mais era paz.
No dia seguinte, entreguei meu distintivo. Não olhei para trás. Peguei o primeiro voo sem destino certo, e dias depois desembarquei no Brasil, em uma pequena cidade do interior de São Paulo, chamada Boituva. Um lugar simples, escondido, onde ninguém me procuraria.
Eu só queria silêncio. Esquecer os anos de perseguição, de tiros, de sangue. Queria acordar e ouvir apenas o canto dos pássaros, não o grito dos homens.
Mal sabia eu que, naquela cidade pacata, meu destino ainda estava escrito. Que não seriam meus inimigos a me destruir, mas sim uma garota de olhos profundos, capaz de me desarmar sem disparar uma única bala.