Elif concordou com um aceno de cabeça e se levantou da cama. Ela se dirigiu ao banheiro, ainda sonolenta, para se arrumar rapidamente. Enquanto escovava os dentes, pensava nas expectativas que tinha para seu primeiro dia na faculdade de jornalismo. Estava animada para aprender mais sobre a profissão que sempre a fascinou.
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Ömer Divit, 36 anos, publicitário, é dono de uma das melhores agências de talentos e propaganda da Turquia. Abandonado e desacreditado no amor, três meses atrás, na noite em que pediria a namorada em casamento, ao invés de fazer uma surpresa para Sevda, foi surpreendido ao ouvir que, além de estar indo embora para a Itália, ela o abandonou depois de cinco anos de namoro. Na mala, ela levaria seu novo amor, que era ninguém menos que seu rival.
Naquela manhã, o publicitário acordou tarde, tendo perdido a hora após passar quase a noite toda em claro, tentando se concentrar na nova campanha em que sua agência estava disputando.
Tudo lembrava Sevda, e depois de muito tentar, ele acabou desistindo.
Saiu da cama e foi para o banho. Uma nova semana começava e ele tinha certeza de que teria sucesso em criar algo.
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- Elif, presta atenção no primeiro dia de aula. Cuidado ao andar na rua com o fone de ouvido porque te conheço e sei bem que a senhorita ouve isso nas alturas. Você sabe que mesmo uma caminhada curta até a faculdade é perigosa com o movimento dos carros a essa hora do dia.
Furkan, o pai da jovem, repreendeu a esposa.
- Querida, pare de tratar Elif como uma criança. Ela é adulta e sabe bem o certo e o errado. Filha, aqui está o dinheiro do lanche da semana. Se precisar de algo, me fale.
Ahmet, que tomava o café em silêncio, reclamou com o pai que enquanto ele levava o lanche, a irmã ganhava dinheiro.
- Olha a minha idade para sua, garoto. Pai, mãe, me desejem sorte e que eu me saia bem no primeiro dia de aula. Tchau, seu chatinho. Você também se cuida na escola e vê se não vai arrumar confusão.
A jovem se despediu da família e saiu. Com a mochila nas costas, viu se a mãe não estava olhando, tirou o celular e conectou o fone de ouvido. Guardou na bolsinha que ficava de lado e saiu caminhando para a faculdade. Da sua casa até lá eram menos de quinze minutos, assim ela aproveitava para fazer seu exercício logo cedo.
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Ömer conversava com a irmã, que em meio à décima crise no casamento, incomodava o irmão naquela hora do dia.
- Bahar, minha querida, podemos conversar quando eu chegar ao trabalho? Estou dirigindo, o trânsito está caótico e, com você chorando desse jeito, não consigo entender nada.
- Irmão, eu juro que tentei, mas Aras não entende que quero me firmar na carreira e não penso em ter filhos agora.
Ömer era o irmão mais velho e sua irmã caçula era tudo que ele tinha na vida. Os pais moravam em uma cidade no interior e os filhos viviam na grande Istambul.
- Tudo bem, Bahar. Passo na sua casa hoje à noite. Agora eu realmente preciso desligar! Conversamos mais tarde.
Os dois se despediram e Ömer parou no sinal, em uma rua que não estava tão movimentada. O sinal abriu e, quando ele virou a esquina, ouviu apenas o baque de algo se chocando contra seu carro.
- Que não seja nenhum motoqueiro. - Ömer parou o carro, desceu apressado e se surpreendeu com o que encontrou.
Uma adolescente havia batido na lateral do carro. A garota estava caída no chão, gemendo de dor por conta do impacto.
- Menina, você não presta atenção por onde anda? - Ömer brigou com a jovem que permanecia caída, gemendo de dor.
- O senhor é que não presta atenção para onde está dirigindo, é cego ou o quê? Eu estava dobrando a esquina, seu carro se aproximou de mim e acabou me atropelando.
Ömer não acreditava no que ela falava. Ali mostrava que a preferência era dele e aquela menina estava errada e queria culpá-lo.
Ela tentou levantar e Ömer foi até ela e a ajudou a ficar de pé.
Quando a garota mexeu no cabelo, Ömer viu os fones de ouvido. Com certeza ela ouvia a música nas alturas e não prestou atenção no trânsito.
- Se estivesse sem esses fones, tenho certeza de que teria prestado atenção e não iria entrar ao mesmo tempo que eu.
Elif estava indignada, ela estava certa e tinha certeza disso. Aquele homem estúpido e péssimo motorista que aproximou o carro dela.
- Vem cá, seu sabe-tudo, você é que deve ter comprado a carteira e tá pagando de bom motorista.
Assim que a menina falou, reparou na calça suja e na pulseira da sorte quebrada.
- Inferno! Olha o que você fez! Seu idiota, a minha pulseira da sorte está quebrada. Hoje é meu primeiro dia na faculdade e, por sua culpa, chegarei atrasada! E ainda por cima levar um grande sermão dos meus pais.
Ömer nunca encontrara uma garota tão sem educação e boca suja como aquela.
- Ei, mocinha, eu não tive culpa de nada e você é quem virou a esquina ao mesmo tempo que eu.
Elif sabia que ele tinha razão, mas não iria assumir seu erro e agora precisava arrumar sua pulseira e não sabia como. Se contasse a verdade para os pais, levaria uma bronca por ser irresponsável e provavelmente Eda a deixaria de castigo.
Então uma ideia veio à sua mente.
- Olha só, você me deixa na faculdade, arruma a minha pulseira da sorte e eu não conto nada para os meus pais e nem chamo a polícia de trânsito para você.
Ömer não acreditava no que ouvia. Aquela garota estava fazendo chantagem e ainda por cima queria que ele pagasse o conserto da pulseira.
- Garota, eu...
- Tudo bem, vai recusar, então ligo agora mesmo para o meu pai, que é advogado, e ele virá até aqui resolver essa situação.
Ömer pelo jeito teria uma segunda-feira infernal ao encontrar aquela garota mal-educada e ainda por cima chantagista.
- Tudo bem, garota. Eu te deixo na faculdade e mando consertar a sua pulseira e você esquece o que aconteceu aqui.
O publicitário auxiliou a garota a entrar no carro. Ela havia entregado a pulseira para ele, que guardou no bolso do terno. A chantagista se acomodou no banco do carona e, quando entrou no automóvel, notou como ela estava instalada.
- Com licença? - Ömer apontou para os pés dela, que estava mexendo no celular e não prestou atenção. - Você pode, por favor, tirar os pés de cima do banco?
- Ops, desculpa, senhor. É que já estou acostumada.
Ömer ligou o carro e respirou fundo. Perguntou o endereço da faculdade e descobriu que era a menos de dez minutos dali a pé e a garota estava fazendo ele de idiota. Achou melhor não falar nada. Já teve confusão demais em menos de cinco minutos ao lado dela.
Ela ouvia som no último volume e ele ouvia o ruído que vinha dos fones no ouvido dela.
Foi por isso que não prestou atenção no trânsito. Adolescentes sem noção e sem educação, Ömer pensava consigo mesmo e, em menos de três minutos, estacionou na porta da faculdade dela.
- Senhorita... - Ömer deu carona para a jovem e nem mesmo sabia o nome dela.
- Elif! E qual é o nome do senhor?
- Ömer!
- Bom... você está entregue. Peço que consertem sua pulseira e peço para um funcionário trazer para você.
- Por que você não me busca às 13h e traz a minha pulseira? Assim posso te desculpar por quase me atropelar e por estragar algo que tem um valor importante para mim.
A menina olhou o horário no relógio e falou um palavrão que Ömer até se assustou com os modos daquela moça.
- Espero você aqui na frente às 13h? Não se atrase, porque preciso estar em casa antes das 13h30 ou minha mãe come meu fígado.
Ömer ficou sem saber o que responder, apenas concordou com a garota e ficou surpreso com o beijo que ela deu em seu rosto.
Ela saiu do carro e, antes de entrar, se despediu novamente dele.
- Tchau, Ömer. Não se atrase e leve a minha pulseira para uma joalheria que preste.
A jovem correu, atrasada, deixando Ömer totalmente sem reação.