A dor aguda no meu abdômen era a última sensação, um fogo que me consumia.
Pedro estava sobre mim, seus olhos outrora cheios de carinho, agora vazios e frios.
"Por que, Maria? Por que você não pôde simplesmente me deixar em paz?", ele gritava, a voz rouca de raiva.
Eu queria responder, mas o sangue enchia minha boca.
A culpa era minha por amá-lo demais, por tentar salvá-lo de um futuro que eu via claramente que o destruiria. Um futuro com a Sofia.
Sua mão apertou meu pescoço, e a última coisa que vi foi seu rosto distorcido pelo ódio, um monstro que eu mesma ajudei a criar.
"Se eu não posso ter sucesso, você também não vai ter!", foram suas últimas palavras para mim. E então, tudo ficou escuro.
...
"Maria, você não vai mesmo dizer nada?"
A voz de Pedro, irritada e impaciente, cortou o silêncio. Abri os olhos, confusa.
Não estava no chão frio do nosso apartamento, sangrando.
Estava na varanda da minha casa de infância, o sol aquecendo meu rosto, o cheiro de jasmim no ar.
Ele parecia... jovem.
"Eu já decidi, Maria. Eu não vou para a universidade."
Gelei.
Essa frase. Eu já tinha ouvido essa frase antes. Foi o começo do fim. O ponto exato em que minha vida, e a dele, começou a desmoronar.
Na minha vida passada, eu chorei, implorei, argumentei. Ele me chamou de egoísta.
Agora, olhando para o rosto do meu assassino, eu não sentia nada além de um vazio gelado. A dor, o amor, a esperança, tudo havia sido queimado na minha morte.
Eu tinha voltado. Voltei para o dia da decisão.
Pedro me olhava, esperando a explosão, a cena de choro. Era o que ele esperava, o que seu ego precisava.
Respirei fundo. Olhei diretamente nos olhos dele.
"Tudo bem, Pedro."
A expressão dele mudou para pura confusão.
"O quê? Só isso? 'Tudo bem' ?"
Eu me levantei.
"Sim. A vida é sua. A escolha é sua."
Passei por ele e entrei em casa, deixando-o boquiaberto.
Desta vez, eu não iria tentar salvá-lo.
Desta vez, eu iria me salvar.