Sacrifiquei o meu fado, a minha alma, para ser a esposa perfeita de um oficial.
Meses de audições e sonhos para finalmente me juntar ao meu marido, Tiago, no Brasil, no programa de intercâmbio cultural.
Era o nosso recomeço.
Até que o oficial sênior pronunciou as palavras que destruíram o meu mundo: "A vaga foi dada a outra pessoa."
Choque. "Mas fui a mais bem classificada!"
A verdade veio como um murro no estômago: Tiago entregara a minha vaga à sua amiga de infância, Inês, alegando que eu a "cedera voluntariamente" .
Traição. A mentira descarada do homem que jurou amar-me.
Ele, que apregoava a meritocracia, estava a dormir com a trapaceira.
A humilhação escalou: tive de servir a Inês doente, ouvi-o justificar a sua crueldade, e até tive os pastéis de nata da minha tia, que estava no hospital, roubados por ele para a sua amante.
O pior veio quando, após um ataque na rua, fui arrastada para os alojamentos disciplinares da Marinha.
Ele trancou-me ali, baseando-se nas mentiras dela e numa trama sórdida.
Fui deixada para apodrecer por ser mulher de militar, sem defesa.
Eu, vítima, fui transformada em vilã.
Mas a verdade, por vezes, tem uma forma de se revelar, e a vingança, uma melodia própria.
A ajuda chegou de onde menos esperava: um músico de fado, que me libertou e me mostrou o caminho para um novo começo.
Nesse momento, soube que não era o Brasil o meu destino, mas o Porto, e o meu fado, a minha verdadeira liberdade.