A poeira fina do ateliê de cerâmica parecia o véu da minha solidão, meu único refúgio na casa dos Silva, meus pais adotivos.
Eles nunca me deixavam esquecer a "dívida" que eu tinha, cada peça que eu vendia era dinheiro para o bolso deles, e meu talento, apenas mão de obra gratuita.
Mas então, a notícia bombástica: Dr. Ricardo, um empresário famoso, procurava sua filha biológica perdida, e todas as pistas apontavam para mim.
A família Silva entrou em êxtase, não por mim, mas pela fortuna que esperavam.
O pesadelo começou a se materializar quando Patrícia, uma moça deslumbrante e arrogante, surgiu à porta, afirmando ser a verdadeira filha de Ricardo.
Ela exigiu um teste de DNA, e eu, por algum motivo, senti um frio na espinha, como se já tivesse vivido aquele momento.
Os Silva, pálidos e confusos, viraram-se contra mim como abutres, já calculando suas novas probabilidades financeiras.
Naquela noite, meu forno foi sabotado, minhas obras-primas destruídas, e eu sabia, era ela.
Não bastasse a humilhação, Patrícia tentou me envenenar com um sanduíche laxante para que eu chegasse atrasada ao encontro com Dr. Ricardo, tudo para se posicionar como a "filha ideal".
Eu deveria estar arrasada, mas algo era diferente. Eu me lembrava disso.
Lembro-me de cada mentira, de cada passo cruel.
Era como se eu tivesse tido um vislumbre do futuro, um pesadelo tão real que se tornou um aviso.
Não era a primeira vez para mim.
Desta vez, eu não seria a vítima.
Aquele sanduíche envenenado não seria o meu desastre.
Eu estava prestes a reescrever o roteiro, e Patrícia nem imaginava o que a esperava.
Minha vingança começaria agora, e não seria doce, seria implacável.