No meio do dia.
Jeffrey segurava o pai pelas costas, tentando ajudá-lo a levantar, mas Donald mal conseguia mover metade do corpo. A perna sangrava muito - um tiro de longa distância. A mão do homem pressionava o ferimento, os lábios tremiam, os olhos marejados fixos no filho, que o segurava em silêncio, chorando.
"Papai, por favor! Aguenta firme! Já chamei o SAMU, eles estão vindo. Fique comigo!", implorou Jeffrey.
"Alguém ajuda! Socorro! Meu pai levou um tiro!", gritou, erguendo a cabeça para olhar em volta.
Mas quem os ouviria?
Estavam num beco estreito, quase sem movimento. O atirador - que supunham ser um assassino - havia atingido Donald Brown, pai de Jeffrey e presidente do império bilionário da família em Londres, durante um simples passeio.
"Ouça, Jeffrey!", Donald falou baixinho.
Os lábios tremiam de dor. O sangue escorria sem parar. Jeffrey tirou a camisa e apertou forte o ferimento. Era fim de outono, o vento cortante, mas ele nem sentia - só a preocupação.
"Vá para Townsend, para a cidade da sua mãe. Você não está seguro aqui!", Donald falou sério, segurando a mão do filho.
"Não vou deixar você e a mamãe sozinhos. Vou protegê-los! Não vou a lugar nenhum!"
"Jeffrey, escute! Você ainda não pode nos proteger. Vá para Townsend, termine seus estudos. Quando estiver pronto, volta. Quando estiver mais forte, enfrentaremos juntos. Nossos inimigos são gigantes, meu filho. Somos formigas para eles." Donald mal conseguia falar.
Por respeito, Jeffrey fingiu que entendeu tudo.
Tinha dezoito anos. Sua vida como filho único de uma grande família londrina sempre fora feliz e elegante. Era neto publicamente reconhecido do Senador Owen Brown - o único que ele orgulhosamente apresentava em eventos. Sua mãe, diretora de uma escola internacional prestigiada.
Viviam numa mansão sob o teto do avô. Uma família elegante, sim - mas também um tesouro cheio de segredos, que muitos tentavam desvendar.
A chave para entender sua complexidade.
O Senador Owen Brown tinha dois filhos: Donald e Hattie. Hattie era casada com Floyd Nelson, um magnata que, secretamente, vivia às custas dos Browns - e por isso odiava o sogro. Como não sustentava a família sozinho, o Senador e Hattie o menosprezavam. Eles tinham dois filhos: um menino da idade de Jeffrey e uma menina mais nova.
Todos moravam na mesma mansão, mas os três primos nunca foram próximos. Alguém plantara em suas mentes que um dia seriam inimigos.
Quem? Ninguém menos que Floyd Nelson, o próprio tio.
"Pai, seja forte. Fique comigo e com a mamãe!", Jeffrey insistiu, tentando encorajá-lo.
Donald sorriu fraco e acenou. Deu um tapinha no braço do filho.
Então, a ambulância chegou.
"Socorro! Aqui! Ajudem meu pai!"
Quatro paramédicos desceram, verificaram Donald e o colocaram com cuidado na maca.
"Vista isso, senão vai pegar um resfriado", disse um deles, entregando uma jaqueta a Jeffrey.
"Obrigado! E a perna do meu pai?", perguntou ele, já dentro da ambulância.
Donald ouvia tudo. Não sentia nada da cintura para baixo, mas via o sangue jorrando.
"Ainda não dá pra saber. Precisamos estabilizá-lo primeiro - ele perdeu muito sangue", respondeu uma enfermeira.
Donald puxou o colarinho do filho pela última vez:
"Vá embora antes do crepúsculo. Só roupas para cinco dias. e dinheiro, Jeffrey. Dinheiro, não cartão. Eles rastreiam cartões."
"Certo, pai. Farei tudo. Agora vou ligar para a mamãe."
Antes do anoitecer, Jeffrey já estava no aeroporto de Heathrow, esperando seu voo. Só uma mochila e um punhado de dinheiro.
Sentado, reviu tudo na mente.
Na noite anterior, por volta das onze.
"Jeffrey, seu primo Clive acabou de chegar dos EUA. Com certeza você será o alvo dele de novo", Donald dissera no escritório, no segundo andar da mansão.
Estavam no sofá, um de frente para o outro. O cômodo mal iluminado. Jeffrey via a porta; Donald, de costas.
"Não se preocupe, pai. Ele só fala besteira - não tem cérebro nem coragem!"
"Filho, não o subestime. Ele é um Nelson. Tem o mesmo sangue do pai. Você sabe."
"Sim, pai."
A porta estava entreaberta. De repente, Jeffrey viu uma sombra encostada na parede.
"Quem está aí?!", ele gritou, levantando de repente.
Donald olhou por cima do ombro, com olhos afiados. A somra correu - e sumiu na escuridão, como um fantasma.
"Viu quem era?"
"Não. mas acho que não eram eles."
"Tudo bem, vai descansar. Mas fica atento. Seu tio tem gente aqui dentro. Até entre os empregados - não confie em todos." Donald deu um tapinha no ombro do filho.
Lembrando de tudo, Jeffrey cerrou os punhos.
Era sua própria família que mandara atirar no pai.
Mas por que na perna, e não no peito, se queriam matá-lo?
"Para nos amedrontar? Patético.", sussurrou.
Ele se levantou, suspirou fundo e seguiu pesadamente para o embarque.
Levava consigo uma promessa: vingaria o pai.
Por agora, precisava sumir dos holofotes.
Ele, Jeffrey Brown - neto do senador, herdeiro de um conglomerado bilionário, criado na elegância e no luxo - agora se disfarçaria como um simples estudante de Contabilidade Empresarial na Universidade de Marysville, filho de uma diretora de escola, morando numa vila.
A única pessoa que sabia de sua identidade.
.era a garota que ele tentava conquistar havia tempos: Belinda Cooper, da poderosa família Cooper.