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Entre chamas e sombras

Entre chamas e sombras

img Fantasia
img 1 Capítulo
img Aryam Villas Boas
5.0
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Sinopse

Em Entre Chamas e Sombras, Elara, uma historiadora com um passado misterioso, descobre um grimório ancestral que contém segredos há muito perdidos. Ao tocá-lo, ela liberta Lucien, um bruxo amaldiçoado que esteve preso por cem anos, aguardando uma alma pura para ser libertado. Juntos, eles enfrentam um mundo de magia, mistério e perigos ocultos, enquanto Elara luta para entender a conexão profunda entre seu destino e o grimório. No caminho, o amor entre eles surge em meio a segredos sombrios, forças poderosas e escolhas que podem mudar o curso de suas vidas para sempre. Uma história de paixão, magia e aventura, onde chamas e sombras se entrelaçam em uma jornada de descobertas e emoções intensas.

Capítulo 1 O Retorno de Elara

A chuva fina escorria pelos vitrais manchados da estação de trem enquanto Elara apertava o casaco marrom contra o corpo, tentando afastar o frio que parecia brotar de dentro de sua própria alma. A cidade de Veyrhold não mudara muito desde que ela partira - ainda tão cinza, com a névoa espessa abraçando cada esquina, cada rua estreita e silenciosa como se guardasse segredos demais para serem sussurrados. O som de seus passos sobre as pedras molhadas ressoava como uma batida de coração solitário. Desde que deixara o orfanato aos dezoito anos, Elara jamais se fixara em um lugar.

Sua vida era feita de malas, cafés baratos e bibliotecas empoeiradas. A busca por respostas a levara por muitas cidades e países, sempre perseguindo histórias esquecidas, lendas antigas, fragmentos de uma verdade que parecia sempre fugir pelos dedos. Mas agora, dez anos depois, estava de volta ao ponto onde tudo começou. O orfanato em que cresceu fora demolido, transformado em um prédio residencial moderno que destoava do restante da arquitetura gótica da cidade. Ela parou diante do portão de ferro enferrujado, onde ainda restava a placa antiga, com letras quase ilegíveis: "Casa das Rosas Negras - Fundada em 1882". Um nome irônico, pensou. Rosas negras não floresciam, apenas morriam em silêncio. A infância de Elara fora marcada pelo silêncio. Nunca soube ao certo o que acontecera com seus pais. Diziam que morreram em um acidente, mas ninguém lhe dava detalhes. Sempre houve uma névoa em torno de seu passado, como se a verdade fosse perigosa demais para ser revelada. As freiras do orfanato não falavam sobre isso. Apenas a encaravam com olhos duros, como se houvesse algo nela que merecia ser temido - ou ignorado. Talvez tenha sido esse vazio que a levou à história. Tornou-se historiadora não apenas pela paixão por documentos antigos ou mitos esquecidos, mas pela sede de sentido. Cada ruína escavada, cada texto traduzido era uma tentativa de preencher o buraco onde deveria estar sua identidade. E quanto mais mergulhava nas histórias do passado, mais percebia que o mundo estava repleto de peças soltas, como um quebra-cabeça sem bordas. Ela se hospedou em uma pequena pousada ao lado da antiga praça central, onde a estátua de um anjo com olhos vendados apontava uma espada para o céu. Um símbolo de justiça ou cegueira? Em Veyrhold, era difícil saber. As pessoas ainda evitavam olhares longos e mantinham as portas trancadas antes do anoitecer. Superstição, diziam alguns. Mas Elara aprendeu a não ignorar os sussurros de um povo que carrega medo nos ossos. No segundo dia, visitou os arquivos municipais, um prédio de colunas grossas e janelas com moldura de pedra. O interior cheirava a mofo, couro velho e segredos. Ela andava com passos lentos, quase reverentes, por entre os corredores estreitos, observando os arquivos como quem pisa num campo de ossos - com respeito e um certo medo. Nada parecia diferente à primeira vista. Mapas antigos, livros de registros, tratados históricos... mas então, em uma ala isolada, algo atraiu seu olhar. Na parede mais ao fundo da seção proibida, escondida por uma estante com rodinhas emperradas, havia um desenho estranho: um círculo de símbolos entalhados diretamente na pedra - runas que não pertenciam a nenhum idioma comum. Elara sentiu o coração acelerar. A curiosidade que a guiara durante toda a vida se acendeu como fogo em palha seca. Ela empurrou a estante com esforço, revelando o conjunto de runas completo. No centro do círculo, havia uma pequena cavidade em forma de mão. Sem saber ao certo por que fazia aquilo - talvez movida por impulso ou por um chamado silencioso -, Elara posicionou os dedos sobre o entalhe. No instante em que sua pele tocou a pedra, uma vibração percorreu seu braço, subindo até o ombro como eletricidade viva. As runas brilharam em dourado por um segundo, e então a parede cedeu. Um clique ecoou, seguido pelo som áspero de engrenagens escondidas há séculos. A parede deslizou lentamente para o lado, revelando uma abertura escura, como a garganta de um animal adormecido. Lá dentro, o ar era mais frio. Havia uma escada de pedra que descia para as entranhas do prédio, envolta por raízes secas e velas apagadas que pareciam ter sido usadas há muitas décadas. Elara hesitou apenas um instante antes de seguir. Cada passo rangia sob seus pés, e o silêncio lá embaixo era denso, abafando até o som de sua própria respiração. Ao chegar ao fim da escada, deparou-se com uma pequena câmara circular. As paredes estavam cobertas por tapeçarias desbotadas, ilustrando cenas de um ritual antigo - figuras encapuzadas, um círculo mágico e um livro ao centro, irradiando poder. No pedestal de mármore negro, repousava o objeto que marcaria sua vida para sempre. O grimório. Era maior do que um livro comum, com capa de couro escurecido por séculos e um fecho de metal adornado por um símbolo que ela não reconhecia. Elara sentiu imediatamente que não estava sozinha naquele lugar. O ar parecia pulsar, e um sussurro percorreu a sala - como uma prece antiga que nunca cessava. "Elara..." Seu nome foi sussurrado, suave e profundo, mas não por uma voz humana. Era como se o próprio grimório a chamasse, reconhecendo-a. Sentiu os pelos do braço se arrepiarem. Aquilo não era uma simples relíquia histórica. Aquilo era... vivo. Ela estendeu a mão, mas hesitou a centímetros do fecho. Seus dedos tremiam. O fecho parecia vibrar sob seu toque, quase implorando para ser aberto. Mas Elara recuou. Ainda não. Algo dentro dela dizia que abrir aquele livro sem estar pronta seria como invocar uma tempestade sem saber nadar. O sussurro cessou, mas a sensação de ser observada permaneceu enquanto ela voltava lentamente pelas escadas, de volta à superfície. O segredo agora pulsava sob seus pés, como um coração enterrado que começava a acordar. Ela não podia desver o que vira. Nem esquecer o chamado.

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