O calor de fevereiro parecia derreter o chão de pedra da universidade. Ana Clara ajeitou a alça da mochila no ombro, a camiseta branca colada ao corpo pelo suor, os fios castanhos grudados na nuca. O primeiro dia de aula. Faculdade de Direito. Ela sentia as pernas bambas, mas não era só pelo nervosismo: o campus fervia de gente bonita, madura, cheia de charme.
Mas nada, absolutamente nada, preparou Ana para o que aconteceria ao entrar na sala 42.
Ele estava lá.
Professor Arthur Sampaio.
Alto, ombros largos sob a camisa social branca, mangas dobradas no antebraço, cabelo castanho levemente grisalho nas têmporas. E aquela voz - grave, pausada, que vibrava direto entre as pernas de Ana, antes mesmo que ela entendesse o que estava acontecendo com o próprio corpo.
"Bom dia, turma. Eu sou Arthur Sampaio, professor de Direito Penal."
O olhar dele percorreu a sala e, por um segundo longo demais, parou em Ana. O estômago dela afundou. O rosto queimou. As pernas apertaram instintivamente. Ela sentiu a calcinha úmida, como se um interruptor tivesse sido ligado dentro dela.
As palavras do professor eram como música: "culpabilidade, dolo, tipicidade". Ana não entendia metade, mas queria ouvir mais. Queria ouvi-lo sussurrando aquilo no ouvido dela, bem de perto, a respiração quente roçando a pele.
Ele andava entre as fileiras. Passava atrás dela. O perfume amadeirado misturava-se ao cheiro do quadro recém-apagado. Um arrepio subiu pela espinha de Ana quando ele inclinou-se por cima do ombro dela, os lábios perigosamente próximos da orelha.
- Está acompanhando, senhorita...?
- Ana... Ana Clara - ela gaguejou, sentindo o hálito quente.
- Muito bem, Ana Clara. Espero que continue prestando atenção. - O tom baixo carregava algo além de uma simples correção. Era quase uma promessa.
Ela quase gemeu baixo.
No final da aula, Ana recolheu o caderno devagar, coração disparado. Mas foi quando todos saíram que tudo explodiu. Arthur fechou a porta e aproximou-se. Ela não sabia se ficava, se fugia, se derretia ali mesmo.
- Você parece muito interessada no assunto - ele murmurou, os olhos cravados nos dela.
Ela engoliu em seco.
- Eu... eu gosto de Direito Penal.
O sorriso dele foi perigoso, inclinado num canto só da boca.
- Espero que goste também... das partes práticas.
Antes que Ana pudesse reagir, ele roçou os dedos no queixo dela, inclinou-se e sussurrou no ouvido:
- Nos vemos à noite, sala 42. Só nós dois.
Quando Ana saiu, as pernas tremiam tanto que quase caiu. O coração martelava nas costelas. O corpo inteiro pulsava, e a calcinha molhada colada à pele era um lembrete obsceno do que ela mais queria.
Naquela noite, Ana sabia: não ia estudar só Direito Penal. Ia estudar o pecado.