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Morpheus: A Primeira Vigília

Morpheus: A Primeira Vigília

img Aventura
img 5 Capítulo
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img Rafael Augusto
5.0
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Sinopse

Em um mundo devastado por um século de guerra, as terras foram subjugadas pelo implacável imperador Hurok, um tirano cujo domínio sombrio foi consolidado por artes mágicas proibidas e uma ambição insaciável. No centro desse conflito épico, os metamorfos – uma raça singular dotada da habilidade de assumir qualquer forma – enfrentaram sua maior tragédia. Capazes de alterar suas identidades e influenciar eventos com sutileza, eles eram temidos por todas as raças, mas sua habilidade única logo se tornou sua maldição. Durante a ascensão de Hurok, os metamorfos foram sistematicamente caçados e eliminados, seus vilarejos destruídos e seus sobreviventes condenados a uma existência nas sombras. Agora, com o fim da guerra e o desaparecimento das forças mágicas que antes equilibravam o poder, os poucos metamorfos restantes lutam para preservar o que restou de sua herança. Sua magia, vista como uma ameaça, tornou-se o símbolo de resistência contra um regime opressor que busca controlar todo o mundo. Nesse cenário de desespero e caos, surge Morpheus, um jovem metamorfo marcado por perdas irreparáveis e impulsionado por um desejo feroz de vingança. Carregando o peso de sua ancestralidade e de um passado destruído, ele se infiltra nas engrenagens do Império, disfarçando sua verdadeira identidade enquanto aprimora suas habilidades para enfrentar forças maiores do que jamais imaginou. Transformação, vingança e esperança se entrelaçam em uma jornada épica que promete revelar segredos antigos e desafiar o próprio destino. Na luta para restaurar a justiça e reescrever o legado de sua raça, Morpheus descobre que sua habilidade, antes vista como maldição, pode ser a chave para libertar um mundo dilacerado pela opressão.

Capítulo 1 O Vilarejo de Nuta

Nuta era um modesto vilarejo situado às margens do pequeno rio Vorter, cercado por colinas verdejantes que escondiam as sombras da guerra. Apesar de pequeno, o vilarejo abrigava almas resilientes que lutavam diariamente para preservar sua cultura e sobrevivência. Athor, o líder da comunidade, era um homem de postura imponente e presença marcante. Alto, de cabelos negros e pele bronzeada, sua fama como um mestre da lâmina o tornava não apenas admirado, mas também temido. Ele era o tipo de homem que, mesmo no silêncio, emanava respeito e autoridade.

Darka, sua esposa, não era menos extraordinária. Seu corpo esguio e seus cabelos negros, característicos dos metamorfos, refletiam uma força que transcendia a habilidade física. Dotada de inteligência e carisma, ela era conhecida por sua sabedoria e pela calma determinação com que encarava as adversidades. Seu papel no vilarejo era tão central quanto o de Athor, e juntos formavam um casal que simbolizava resistência e esperança em tempos sombrios.

Entre eles estava Morpheus, o único filho do casal. Desde pequeno, sua presença exalava algo diferente. Seus cabelos marrons, uma peculiaridade rara entre os metamorfos, faziam com que ele se destacasse de maneira sutil, mas não menos intrigante. Ainda muito jovem, ele já demonstrava sinais de possuir habilidades extraordinárias, muito além do que se esperaria de um garoto de sua idade.

1. Os Laços dos Metamorfos e o Preço da Sobrevivência

Os metamorfos, uma raça singular entre os povos oprimidos por Hurok, eram conhecidos por sua habilidade de assumir a forma de qualquer ser. Contudo, essa dádiva que outrora os tornara temidos agora os condenava. Durante a ascensão de Hurok, os metamorfos foram declarados inimigos do Império, sendo caçados e dizimados. Seus assentamentos foram reduzidos a cinzas, e os poucos que restavam estavam obrigados a viver ocultos, tentando preservar sua existência em silêncio.

Darka carregava em seus olhos a dor do que seu povo havia perdido, mas também a determinação de proteger sua família. Athor, embora fosse um guerreiro experiente, sabia que apenas força não seria suficiente para enfrentar o Império. Como líder, ele tomava decisões calculadas, sempre priorizando a sobrevivência e segurança da sua comunidade. Ambos compreendiam o imenso peso de criar um filho em tempos tão incertos, mas encontravam forças na esperança que o pequeno Morpheus trazia.

Foi em um inverno particularmente rigoroso que essa esperança começou a ganhar novas dimensões. Com apenas três anos, enquanto brincava inocentemente na neve com seus pais, Morpheus fez algo extraordinário. Do nada, um calor intenso emanou dele, derretendo o gelo ao redor e revelando um círculo de terra exposta. O evento durou apenas alguns segundos, mas foi o suficiente para deixar Athor e Darka inquietos. Não era apenas o fenômeno em si, mas a possibilidade de que aquilo marcasse o início de algo muito maior - ou perigoso.

Os anos seguintes trouxeram novas revelações. Aos cinco anos, durante um dia tranquilo ao longo do rio Vorter, algo semelhante aconteceu. Enquanto brincava, pequenas bolhas de água começaram a se erguer ao seu redor, flutuando como se obedecessem à sua vontade. A magia de Morpheus, ainda instável e imprevisível, não deixava dúvidas de que havia algo extraordinário nele. Ao mesmo tempo, essa força fascinante também trazia consigo medo - não apenas pelo que poderia significar para a criança, mas pelos perigos que isso poderia atrair para todos à sua volta.

Entre os metamorfos, essas manifestações mágicas eram vistas como presságios. Uma antiga profecia circulava entre eles, afirmando que metamorfos portadores de magia estavam destinados à ruína ou à grandeza. Porém, a grandeza sempre fora mais uma lenda do que uma realidade. Apenas um metamorfo na história havia superado as expectativas da profecia e alcançado feitos extraordinários: Kaelor, o Impassível, um guerreiro e estrategista que liderou as forças mágicas na batalha das Planícies Cinzentas.

Kaelor era conhecido não apenas por sua habilidade de se transformar, mas também por sua magia excepcional e liderança inabalável, qualidades que uniram raças divergentes em um breve momento de resistência contra os antigos opressores mágicos. Mesmo assim, a história de Kaelor terminou tragicamente, pois sua glória foi seguida por uma traição que o levou à morte. Desde então, os metamorfos mágicos eram mais frequentemente considerados uma maldição - um perigo para si mesmos e para aqueles ao redor.

Temerosos de que as habilidades de Morpheus fossem mais uma maldição do que uma dádiva, Athor e Darka tomaram medidas drásticas. Mudaram-se para uma área isolada do vilarejo, erguendo uma cabana entre colinas que ofereciam pouca visibilidade para curiosos. Eles reforçaram as regras:

- Morpheus não deveria usar magia em público, nem mesmo nas brincadeiras mais inocentes.

- A transformação deveria ser praticada apenas sob supervisão de Darka, sempre com cuidado para não chamar atenção.

Apesar de jovem, Morpheus obedecia, compreendendo em sua inocência que havia algo incomum e perigoso em si mesmo.

Aos doze anos, Morpheus já havia aprimorado sua habilidade natural como metamorfo. Sob as orientações rigorosas de sua mãe, ele havia aprendido a transformar-se com precisão. Darka o ensinava com paciência, destacando os limites e riscos do dom:

- Nunca tentar reproduzir alguém com diferenças físicas muito grandes, pois isso causaria dor excruciante ao corpo.

- Transformações mais duradouras exigiam um vínculo com algo pertencente à pessoa - um objeto ou fragmento de DNA.

- A metamorfose era um dom baseado na precisão, e um erro pequeno poderia comprometer todo o disfarce.

Morpheus se destacou pela habilidade de copiar traços e maneirismos, embora sua mãe o advertisse sobre os perigos de se perder na identidade de outra pessoa. Para Darka, o maior risco da metamorfose era esquecer quem você realmente era.

Ainda assim, o jovem revelava uma inteligência notável, dominando os princípios de sua transformação de maneira impecável. Ele dedicava-se com afinco, praticando os ensinamentos enquanto mantinha uma rotina simples de trabalho no pequeno sítio da família.

Apesar de suas interações limitadas com os outros jovens do vilarejo, Morpheus carregava uma curiosidade latente pelo mundo além das colinas. Mas o medo silencioso de seus pais pelo cumprimento da profecia de ruína o mantinha confinado - protegido, mas também aprisionado.

2. Um Inverno Memorável

O inverno havia envolvido o vilarejo de Nuta em um frio cortante, onde o branco da neve contrastava com os tímidos sinais de vida que insistiam em perdurar. Apesar disso, a rotina seguia como sempre. Athor, com sua postura imponente e movimentos calculados, cuidava dos animais com a mesma destreza com que empunhava sua lâmina. Darka, por sua vez, ocupava-se na pequena cabana, onde o aroma de especiarias começava a encher o ar enquanto ela preparava o jantar.

Morpheus, como de costume, auxiliava seus pais onde podia. Naquele dia, foi enviado por seu pai para buscar lenha. Com um pequeno machado em mãos e uma cesta de vime presa ao ombro, ele partiu em direção à floresta, uma área que conhecia tão bem quanto os próprios arredores de sua casa.

Embora fosse um garoto obediente, sua curiosidade frequentemente o levava além do esperado. Conforme adentrava mais na floresta, os troncos das árvores pareciam abraçá-lo com sua imensidão, e o som de seus próprios passos na neve era quase hipnotizante. Ele demorou-se, observando pequenos esquilos subindo pelos galhos e o rastro de aves migratórias no céu.

Quando finalmente decidiu retornar, percebeu algo incomum. O cheiro de fumaça, inicialmente sutil, tornou-se mais forte a cada passo. Morpheus parou, levantando o olhar para os céus. Nuvens cinzentas subiam em diversas direções, manchando o azul pálido do dia.

Seu coração acelerou. Sem pensar duas vezes, apressou-se em direção à cabana de sua família. Cada passo parecia mais pesado, como se o vento frio conspirasse contra ele, retardando sua chegada. Ao alcançar o pequeno sítio, a visão foi desconcertante: a cabana estava vazia, as cinzas ainda quentes na lareira indicando que seus pais haviam partido há pouco.

Morpheus olhou ao redor, tentando entender a situação. Não havia sinal de Athor ou Darka, mas ele sabia que algo estava errado. Com sua mente correndo em várias direções, deduziu que seus pais deviam ter ido ao vilarejo para ajudar. Era a única explicação lógica, e ele precisava encontrá-los.

Largando o machado e a cesta no chão, Morpheus correu. O caminho até o centro de Nuta parecia mais longo do que nunca. Perguntas tomavam conta de sua mente enquanto ele sentia a adrenalina pulsando. *O que causou o incêndio? Foi algum acidente? Será que seus pais estavam seguros?

Quando finalmente chegou, deparou-se com o caos. O vilarejo que antes conhecia tão bem agora era quase irreconhecível. Corpos estavam espalhados pelo chão, cobertos por neve vermelha de sangue. As chamas consumiam as casas, transformando madeira e telhados em cinzas. Soldados, com armaduras pesadas e espadas desembainhadas, atacavam qualquer um que resistisse.

No centro de tudo, uma bandeira azulada com corvos negros balançava lentamente sob o vento impiedoso. O coração de Morpheus pareceu parar quando reconheceu o símbolo. As palavras de seu pai ecoaram em sua mente, frias como o gelo que cobria o vilarejo.

- Se um dia vir essa bandeira, esconda-se.

Morpheus ficou paralisado por um momento. Ele sabia que precisava agir, mas a cena à sua frente era avassaladora. Pessoas que ele conhecia estavam caídas, algumas em poças de sangue, outras tentando fugir sem sucesso. A realidade parecia distante, como um pesadelo que ele queria acordar, mas sabia que era real.

Determinando-se a encontrar Athor e Darka, o jovem avançou com cautela, esgueirando-se por entre cabanas em chamas. Ele não sabia se seus pais estavam entre os combatentes ou entre as vítimas, mas precisava descobrir a verdade.

3. O duelo Mortal

Movendo-se com cautela, Morpheus chegou ao centro do vilarejo, esgueirando-se entre as casas enquanto o som de metal contra metal ecoava pelas ruas tomadas pelo caos. Soldados do Império gritavam ordens, mas a atenção de Morpheus estava fixada em apenas uma cena: seus pais, Athor e Darka, enfrentando um único homem.

Ele vestia uma armadura vermelha que refletia as chamas ao redor, e seus cabelos loiros brilhavam sob a luz do fogo. Seu semblante era sereno, quase indiferente à intensidade do combate, mas seus movimentos eram rápidos e letais, desviando cada ataque com uma precisão que fazia parecer um jogo.

Athor avançou com sua lâmina curta, tentando desferir um golpe certeiro. O homem, sem sequer perder a compostura, bloqueou com facilidade e deslizou para o lado, fazendo a espada de Athor atingir o vazio. Aproveitando a abertura, desferiu um corte em arco que atingiu a coxa esquerda de Athor, forçando-o a recuar.

Darka não hesitou. Com um movimento ágil, ela atacou pela lateral, sua espada tentando explorar qualquer brecha na defesa do inimigo. Mas o homem girou a lâmina em um movimento perfeito, desviando o golpe e obrigando Darka a dar um passo atrás.

Morpheus, escondido nas sombras, tentava se aproximar. Mas a visão do sangue manchando a perna de seu pai o fez hesitar. Ele sabia que não poderia ajudar - não era um guerreiro, e qualquer intervenção seria um fardo para eles. Mesmo assim, seu corpo tremia, dividido entre o instinto de correr e a necessidade de testemunhar o desfecho.

- Vocês são habilidosos. - O homem loiro comentou com um leve sorriso, desviando outro golpe de Athor com facilidade. - Mas é inútil resistir. Entreguem-se e talvez eu poupe suas vidas.

- Mandaram a mão direita do rei para um vilarejo como este? - Darka respondeu, sua voz carregada de sarcasmo, enquanto preparava sua postura para outro ataque. - Ele deve estar desesperado.

O sorriso do homem vacilou por um momento, mas apenas por um instante. Ele se lançou para frente como um raio, bloqueando uma tentativa conjunta de ataque de Athor e Darka. Sua lâmina colidiu com a de Athor em um impacto que ressoou como trovão, e em um movimento rápido demais para que Morpheus pudesse acompanhar, ele deslizou para o lado e desferiu um corte horizontal.

A espada de Athor foi quebrada com um golpe limpo e violento, os pedaços caindo no chão coberto de neve. O líder do vilarejo tentou recuar, mas não foi rápido o suficiente. Um corte profundo atingiu seu braço direito, e o grito de dor ecoou pela praça, enquanto ele caía de joelhos, sangrando.

- Parabéns, devo admitir, você é muito bom. - O homem loiro inclinou a cabeça, zombando. - Conseguiu se defender no último instante. Pretendia levar sua perna, mas agora... acho que o próximo ataque você não tem como resistir.

Darka, visivelmente abalada, gritou o nome do marido e se colocou entre ele e o inimigo. Apesar do medo que brilhava em seus olhos, ela continuou segurando a espada. Avançou com um golpe desesperado, sua lâmina mirando o pescoço do homem.

O inimigo riu. Com um giro de seu pulso, ele desviou o ataque com facilidade, fazendo Darka recuar um passo para recuperar o equilíbrio.

- Vocês são habilidosos, devo admitir. - O homem loiro falou, examinando o sangue na própria lâmina. - Uma pena que escolheram o lado errado.

Ele avançou mais uma vez, com precisão letal. Darka tentou se mover para proteger Athor, mas a velocidade do golpe era impossível de acompanhar. A luz vermelha de sua lâmina reluziu no ar, e tudo terminou em um instante.

A cabeça de Darka rolou pelo chão, seus olhos ainda abertos em desafio. Athor, ajoelhado e com o olhar fixo no homem, não teve tempo de reagir antes que um segundo golpe o silenciasse para sempre.

Morpheus estava paralisado, seu corpo congelado em choque. O som ao redor desapareceu, e tudo o que ele conseguia ver eram os corpos de seus pais no chão. Ele quis gritar, mas sua voz não saía. Quis correr até eles, mas suas pernas não obedeciam.

O homem loiro limpou a lâmina com calma antes de dar ordens aos soldados.

- Ateiem fogo em todo o lugar. Se encontrarem alguém vivo, matem.

Um dos soldados hesitou.

- Mulheres e crianças também, senhor?

O homem loiro deu de ombros, ajustando a espada na cintura.

- Façam o que quiserem com elas, contanto que morram no final.

Enquanto os soldados seguiam as ordens, Morpheus recuou lentamente para as sombras, forçando suas pernas a se moverem. Cada passo parecia pesar uma tonelada, mas ele sabia que não podia ser visto. O cheiro de fumaça e sangue enchia o ar enquanto ele se afastava, seus olhos ainda fixos na cena devastadora que o assombraria para sempre.

Ele correu. Correu para longe das chamas, longe do vilarejo que queimava e dos corpos de seus pais. Mas sabia que não havia distância suficiente para escapar da dor daquele momento.

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