Naquele instante, o amor que eu sentia virou cinzas. A mulher dócil que ele conhecia morreu junto com a inocência da minha filha.
Quando um segurança tentou me impedir, a fúria que eu segurava explodiu. Eu o derrubei com um único golpe, e minhas irmãs guerreiras surgiram das sombras.
Eu não era mais a noiva abandonada. Eu era Beatriz Amaro, herdeira de um império de tecnologia e líder de um clã de guerreiras. E eu estava voltando para casa para reivindicar meu trono.
Capítulo 1
Eu estava a caminho do meu próprio noivado, a caminho de me tornar a esposa de Rodolfo De Melo, quando o telefone tocou. Era um número que eu não discava há cinco anos.
"Mãe" , eu disse, sentindo um gosto amargo na boca. "Eu tenho uma herdeira. Estou pronta para voltar para casa e reivindicar meu lugar como sucessora do Grupo Amaro."
A voz da minha mãe, Alcina Nasser, estava calma, mas eu ouvi o tremor.
"Beatriz, você tem certeza?"
Uma lágrima escorreu pelo meu rosto.
"Tenho. Ele escolheu ela e o filho dela. Ele escolheu a empresa deles. Eu não sou nada aqui. Minha filha não é nada aqui."
"Então volte, meu amor. O seu império espera por você."
Eu desliguei o telefone. Liz, minha filha, estava dormindo no banco de trás, o pequeno rosto angelical virado para a janela. Ela não sabia que estava indo para uma farsa. Ela não sabia que seu pai estava se casando com outra mulher. Eu não podia deixá-la ser humilhada. Não de novo. Não mais.
Voltar para casa era a única opção. Minha mãe, Alcina Nasser, a temida CEO do Grupo Amaro, um dos maiores conglomerados de tecnologia do Brasil, sempre soube que eu voltaria. Eu só não sabia que seria assim.
Eu precisava levá-la embora. Liz era a minha prioridade. Eu a ajustei no assento, o cheiro de lavanda do seu shampoo me trouxe de volta à realidade. Não havia tempo para chorar. Havia apenas tempo para agir.
Eu peguei meu celular e tentei reservar um voo. Tudo esgotado. Tentei voos para cidades vizinhas. Nada.
Tentei ligar para as companhias aéreas. Todas as linhas ocupadas.
Era como se o universo estivesse conspirando contra mim. Ou apenas a influência da família De Melo. Eles eram poderosos. Eu havia esquecido o quão poderosos eram.
O sol estava se pondo. A festa de "anúncio de união familiar" começaria em breve. Era o mesmo dia em que Rodolfo me pediu em casamento, há cinco anos. Uma ironia cruel.
Eu ri. Uma risada seca e sem humor. Hoje, a data que marcaria o início da nossa vida juntos, marcaria o fim. O fim de tudo. E eu estava pronta.
Rodolfo entrou na sala, o cheiro de Susana Faria, sua cunhada viúva e minha rival, grudado nele como uma segunda pele. Era um perfume floral, adocicado, que me dava náuseas. Seus cabelos estavam úmidos, e alguns fios escuros caíam sobre a testa.
"Onde você estava, Beatriz?" Ele perguntou, a voz um pouco áspera. Ele tentou parecer relaxado. Falhou miseravelmente.
Eu estava no quarto de Liz, arrumando as coisas dela. Eu estava planejando nossa fuga. Mas eu não disse isso.
"Eu estava com Liz. Ela não estava se sentindo bem. A febre dela subiu um pouco."
Ele franziu a testa, mas a preocupação não atingiu seus olhos. Ele estava distraído. Isso era bom.
Eu senti o cheiro de Susana de novo. Era pior quando ele se aproximava. Minha garganta apertou.
Eu o empurrei.
"Você precisa de um banho, Rodolfo. Você está fedendo."
Seus olhos se arregalaram. Ele cheirou a própria roupa, a expressão de surpresa se transformou em vergonha.
"Oh, Beatriz, me desculpe. Eu não percebi."
Ele se virou para o banheiro, a expressão culpada.
"Eu prometo que isso não vai acontecer de novo. Eu juro. Vou tomar um banho rápido. Em alguns dias, quando o bebê nascer, eu não vou mais vê-la. Eu prometo."
"Sim, eu sei." Minha voz estava fria, mas ele estava muito absorto em sua própria culpa para perceber.
Ele chamou Susana de "ela". Susana. Minha rival. Minha inimiga. Ele costumava chamá-la de "minha querida Susana" quando falava comigo sobre ela. Agora era apenas "ela".
Como se estivesse tentando se distanciar dela, mas o cheiro ainda estava lá. O cheiro dela estava em cada centímetro dele.
Ele saiu do banheiro, envolto apenas em uma toalha. O corpo dele ainda era o mesmo. Forte, atlético, cada músculo no lugar certo. Eu costumava amar esse corpo. Costumava amar a maneira como ele me abraçava.
Seus olhos encontraram os meus. Havia um brilho familiar neles, um brilho de afeto. Mas não foi o suficiente. Nunca foi o suficiente.
Lembrei-me dos dias em que ele me abraçava com essa mesma paixão, seus lábios murmurando juras de amor eterno.
"Você é minha" , ele sussurrava, os olhos fixos nos meus. "Para sempre."
Essas palavras agora soavam como uma melodia distorcida, um eco de uma promessa quebrada.
Ele veio até mim, os braços abertos. Eu me encolhi.
"Beatriz, meu amor." Ele tentou me abraçar.
O cheiro de sabonete e do perfume de Susana se misturavam. Minha pele rastejou.
Eu não era mais dela. Nem por um segundo.
Eu baixei a cabeça.
Ele não era mais o homem que eu amava.
Um toque irritante soou na porta. A voz de uma das empregadas da família De Melo.
"Senhor De Melo, a Senhora Faria está se sentindo mal novamente. Ela pediu para o senhor ir vê-la. Disse que é urgente."
O rosto de Rodolfo mudou. A culpa em seus olhos foi substituída por uma preocupação palpável, urgente. Ele se virou para a porta.
Ele correu para se vestir, a pressa em seus movimentos era evidente.
"Beatriz, eu preciso ir. Susana está grávida. Ela não tem mais ninguém. Eu sou o único que pode ajudá-la."
Ele se virou para mim, os olhos cheios de desculpa.
"Eu prometo que volto. Você é tão compreensiva."
Eu não consegui segurar. Uma risada amarga escapou dos meus lábios.
"Compreensiva. Sim. É isso que eu sou."
Eu me curvei para pegar o agasalho dele do chão.
"Está frio lá fora. Vista isso." Minha voz estava um sussurro.
Ele pegou o agasalho, os olhos confusos.
"Beatriz, o que...?"
Eu não deixei ele terminar. Antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, fechei a porta do quarto atrás dele.
Desta vez, não haveria espera.