"Aaaargh! Quem é agora? Quando vão parar de me encher o saco?!"
Com passos pesados e rápidos, ela se arrastou até a porta.
"Fala logo!", rosnou, sem cerimônia.
Do lado de fora, o homem atraente piscou, surpreso pela hostilidade. Mas num piscar de olhos, seu rosto se transformou num sorriso perfeito e encantador.
"Boa tarde, Senhorita Catalina", cumprimentou ele, com a voz melíflua.
A garota franziu a testa, desconfiada. Cabelo bem cortado, camisa social branca num calor desses, sapatos lustrosos. Tinha "funcionário da NexaCore" escrito na testa. Estavam enviando um galã para tentar amolecer seu coração.
"Acham que um rostinho bonito vai me fazer mudar de ideia? Que pensamento raso!", refletiu, com um leve sorriso de escárnio nos lábios.
"Se veio me convencer a vender esta casa, pode poupar seu fôlego. Não estou interessada. Diga ao seu chefe para parar de encher minha paciência e deixar minha casa em paz. É perda de tempo e energia."
Ela tentou fechar a porta, mas o homem, num reflexo rápido, bloqueou-a com o braço. Os olhos de Catalina arregalaram diante daquela ousadia.
"O que foi?", ela contestou, fazendo força contra a porta. O medo de que aquele estranho invadisse sua casa a assaltou.
"Não é por isso que vim." O sorriso doce reapareceu na fresta.
"E então?", Catalina franziu a testa ainda mais.
"Já que a senhorita se recusa a vender, a empresa gostaria de. negociar."
"Negociar? E isso é diferente de persuadir?"
"Claro que é. Então, me permita entrar para explicar em detalhes."
A garota mordeu o lábio inferior e soltou uma risada cínica. Mesmo assim, a expressão do homem à sua frente permaneceu inalterada.
"Você realmente quer entrar?", perguntou Catalina, pondo à prova sua coragem.
"Sim." Ele assentiu, sem uma sombra de preocupação.
Após um momento de hesitação, a anfitriã soltou um suspiro e concordou com um meneio de cabeça.
"Tá bom. Pode entrar."
A porta finalmente se abriu.
"Obrigado." O homem bonito mantinha o sorriso doce. Mesmo sentado no sofá, sua postura transbordava simpatia calculada.
"Toma um drink", disse a anfitriã, colocando uma xícara de café e um copo de água na mesa. Os cantos de sua boca se curvaram para cima.
"Obrigado. Sou Wesley, da NexaCore."
"Já sei", respondeu Catalina, com os lábios apertados.
"Já sabe?" Ele ergueu uma sobrancelha, surpreso.
"É, claro. Quem mais viria perturbar a paz da minha vida, se não são os enviados da NexaCore?"
A expressão de Wesley se suavizou, tornando-se novamente amigável. "Certo. Peço desculpas pelo incômodo."
Catalina deu de ombros, fingindo indiferença.
"Antes de explicar, permita-me confirmar", ele começou, o tom ainda cortês. "Tem certeza de que não vende a casa, mesmo por quatro vezes o valor de mercado?"
"Tenho."
"E tem certeza de que se sentirá confortável morando aqui quando nosso projeto começar?"
"Tenho."
"Mesmo com arranha-céus cercando sua casinha?"
Catalina baixou o olhar por um instante, beliscando o nariz.
"Você não disse que não veio me convencer?", protestou, com um tom de desdém.
"De fato. Só queria ter certeza", explicou ele, descontraído. Num piscar de olhos, colocou uma pasta sobre a mesa. "Nesse caso, a senhorita não deve ter objeções em assinar esta carta."
Catalina leu o documento com a testa franzida. "Carta de consentimento?"
"É para garantir que a senhorita não se importa com a continuação do nosso projeto. E que não fará protestos ou denúncias à mídia."
Inconscientemente, a garota cerrou o maxilar.
"Então. sua empresa realmente vai transformar toda esta área em zona urbana?", sussurrou, com a voz trêmula.
"Não tocaremos na sua casa, nem no quintal ou na cerca. A construção manterá uma distância segura."
De repente, Catalina bufou e abaixou a cabeça.
"Como posso confiar que não vão interferir na minha casa? Nada do que você prometeu por último está escrito aqui. Sua empresa pode estar me passando a perna."
"Que tipo de 'perna' você quer dizer?"
O dedo indicador da garota subiu repentinamente.
"Perae! Vou fazer uma lista com as condições que sua empresa tem que cumprir. Enquanto isso, aproveita e toma esse café."
Sem perder tempo, Catalina sumiu por uma porta.
Assim que a anfitriã saiu, os olhos de Wesley percorreram a sala com liberdade. Examinou cada retrato na parede e o troféu na estante de vidro. Um suspiro de desdém escapou-lhe involuntariamente.
"Mas quem é essa garota?"
Seu olhar vagou até o piano, visível na sala ao lado. A observação só foi interrompida pela vibração do celular.
"E aí, chefia? Já se convenceu de que a mulher é. única?" Wesley leu a mensagem da secretária com um sorriso irônico.
"Tsc. Única, o quê. Cada vez mais suspeito que ela foi paga pela concorrência", respondeu o CEO, sem hesitar.
"Mas é verdade que ela parece um anjo? Ouvi dizer que a Catalina é uma graça."
Wesley soltou um suspiro.
"Hm. Uma graça?", resmungou, olhando de novo para a foto de Catalina criança com os pais. "Tá brincando." Suspirou de novo e pegou a xícara.
Mal o café quente tocou sua língua, seus olhos quase saltaram da cara. No segundo seguinte, cuspiu o líquido negro de volta para a xícara.
"P***! Por que tá tão apimentado?!"
Sem pensar, agarrou o copo de água. Antes que conseguisse molhar a garganta, um jato d'água saiu de sua boca.
"Aargh! Que salgado!"
Enquanto limpava a boca e o queixo com um lenço, seus olhos procuravam desesperadamente a cozinha.
"Preciso de água!", pensou, ofegante.
Infelizmente, todas as portas que tentou estavam trancadas. Num instante, a indignação substituiu toda a paciência que lhe restava.
"Essa maluca. Ousou fazer gracinha comigo!"
Com os punhos cerrados, Wesley bateu com força na porta atrás da qual Catalina havia sumido.