Olivia - Ponto de Vista
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Olivia - Ponto de Vista
Há um ano, Olivia vivia sob o mesmo teto que Damon, o alfa da Alcatéia Lunar. Há um ano, ela tentava, em vão, entender o homem com quem havia sido forçada a se unir. Estava sendo moldada para ser Luna, guiada pela própria mãe dele, como se tudo fosse certo, como se aquele destino já tivesse sido escrito antes que ela pudesse ter escolha.
Mas Damon a odiava.
Ele odiava sua presença, odiava estar marcado com ela, odiava cada gesto que ela fazia, por mais silencioso ou cuidadoso que fosse. E, acima de tudo, ele exigia uma resposta que ela não podia dar.
"Por que você fez isso comigo?", ele perguntava com raiva nos olhos, como se ela tivesse arquitetado tudo.
Mas Olivia não sabia.
Naquela noite, a primeira coisa que ela se lembrava era de acordar. O quarto de hotel estava em silêncio, e o sol já invadia as cortinas. Ela sentia dores no corpo - entre as coxas, nos pulsos, nos tornozelos. Marcas roxas, sinais de cordas. E nada fazia sentido.
Ela tentou se recompor, mas o pânico tomou conta quando a porta se abriu abruptamente e seu pai entrou, frenético. Luiz parecia fora de si ao vê-la naquele estado. Seus olhos passaram dela para Damon, que ainda dormia na cama.
"Você marcou a minha filha?!", ele gritou, fazendo Damon despertar num sobressalto. O alfa a olhou com confusão. Passou a mão pelo próprio pescoço e, ao sentir a marca, sua expressão mudou. Raiva. Incredulidade.
"O que você fez comigo?", ele rugiu.
Olivia apenas chorou. Ela não sabia. Não lembrava. Era como se alguém tivesse apagado sua memória ou ela tivesse sido arrancada.
Luiz continuava gritando. Damon mandou que ele se calasse. Mas seu pai não abaixou a cabeça, nem diante do futuro alfa. Continuou a exigir responsabilidade, a clamar por honra, por justiça.
Foi quando Damon, num impulso de fúria, socou Luiz no rosto. Olivia gritou, correu até o pai, ajudando-o a se levantar.
"Eu vou cuidar disso, filha. Vou falar com o Alfa Richard. Vamos resolver isso", Luiz disse com os olhos cheios de raiva e dor.
E foi assim que tudo começou.
O escritório do Alfa Richard era amplo, revestido em madeira escura e com o brasão da Alcatéia Lunar entalhado na parede atrás da grande mesa. O silêncio ali era quase tão sufocante quanto os olhares que recaíam sobre Olivia. Quando ela se sentou, uma pontada aguda a fez se encolher discretamente. Richard percebeu.
- Chame o médico da matilha - ordenou a um dos guardas, com a voz firme.
Damon permaneceu parado, de braços cruzados, encostado na parede. Seu olhar pousava sobre Olivia com uma frieza que cortava mais do que qualquer dor física. Ele já havia contado sua versão: não se lembrava de nada, apenas que acordou marcado, ao lado dela. E não havia consentido.
Quando Richard virou-se para Olivia, seus olhos carregavam mais paciência que julgamento.
- E você? O que tem a dizer?
Ela respirou fundo, lutando para manter a voz firme.
- Eu... também não me lembro. Acordei confusa, com dor... e vi meu pai entrando no quarto. Só isso. Juro que não sei o que aconteceu naquela noite.
Luiz a olhou com o cenho franzido, surpreso.
- Olivia... você estava desaparecida. Achamos que tinha sido sequestrada! Foram dias de agonia.
- Quatro dias, para ser exato - corrigiu o Alfa Richard, recostando-se na cadeira. - Damon e Jeremiah lideraram as buscas, dia e noite. A matilha toda ajudou. E você estava a poucos quilômetros daqui, em um hotel humano.
Luiz bufou, claramente descontente.
- Por isso não a encontraram. Estavam procurando no lugar errado. Damon sabia onde ela estava desde o início, é óbvio.
- Eu não a levei! - rugiu Damon, dando um passo à frente, a voz carregada de raiva.
Richard ergueu a mão, pedindo silêncio.
- Chega. Gritar não vai ajudar. Precisamos de respostas, e nenhuma está aqui ainda.
- Mas a responsabilidade está! - rebateu Luiz, endurecendo a voz. - Ele marcou minha filha. Ele a possuiu. Querendo ou não, ela é sua companheira agora. Você vai aceitá-la, Damon, ou eu mesmo irei ao Conselho dos Alfas. Você será punido.
Damon soltou uma risada amarga.
- Isso é ridículo. Eu não fiz nada. Nenhum de nós sabe o que aconteceu!
A porta se abriu com força, interrompendo o confronto. Taylor, a madrasta de Olivia, entrou chorando, quase tropeçando em si mesma, seguida de perto pelo médico da matilha. A presença dela surpreendeu Olivia, nunca se deram bem, a convivência era fria e distante. Mas naquele momento, Taylor parecia sinceramente abalada.
Taylor não era exatamente uma madrasta cruel, nunca foi. Mas desde os doze anos, Olivia simplesmente não conseguia se aproximar dela. Conviviam sob o mesmo teto com respeito silencioso e cordialidade forçada, sem afeto, sem trocas reais. Apenas coexistiam.
Por isso, vê-la entrar no escritório chorando, correndo em sua direção, foi tão inesperado quanto confuso.
- Quem fez isso com a minha garotinha? - Taylor perguntou, a voz embargada, abraçando Olivia com força.
Foi ali, naquele abraço tão fora do comum, que a dor no peito da jovem se somou à física. Taylor a envolvia como se, pela primeira vez, sentisse algo sincero. Como se, por um breve instante, a distância entre as duas tivesse desaparecido.
- Vai ficar tudo bem. Eu prometo.
Houve gritos atrás delas. Damon e Luiz voltaram a se desentender, e o Alfa Richard já se mostrava impaciente. O médico da matilha, um homem de fala baixa e olhos atentos, se aproximou de Olivia com delicadeza.
- Precisamos avaliá-la - disse ele. - O banheiro privativo do alfa está disponível. Vamos, por favor.
Olivia assentiu com um gesto tímido. Taylor a acompanhou até a porta, mas ficou do lado de fora, respeitando o espaço. O banheiro era espaçoso e bem iluminado, com toalhas limpas e cheiro de sabão neutro. Ela se sentou sobre o banco acolchoado, e o médico começou o exame.
Suas mãos eram experientes e cuidadosas, mas nem mesmo isso conseguiu impedir o constrangimento. Ele avaliou os hematomas, verificou seu pulso, seus olhos, seus sinais vitais. Depois de um tempo, soltou um suspiro pesado.
- Me desculpe pelo seu estado atual, Olivia... - disse em voz baixa. - Nem eu posso entender completamente o que aconteceu aqui. Mas isso não foi culpa sua. E nem minha.
Ela mordeu o lábio, tentando segurar as lágrimas. Mas os olhos se encheram contra sua vontade.
Nem mesmo Damon lhe pedira desculpas.
Nem um gesto.
Nem uma palavra.
Como se ela fosse apenas uma consequência, um erro inconveniente, uma obrigação que ele rejeitava com nojo.
- Seu lobo é jovem, mas saudável - continuou o médico, oferecendo um comprimido. - Com este analgésico, você conseguirá descansar. Sua cura será rápida. Em dois ou três dias, seu corpo vai se regenerar. Mas... se sentir dor emocional, não tente esconder. Essas feridas levam mais tempo.
Olivia engoliu em silêncio, sem saber se o agradecia ou se chorava ali mesmo.
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