Abri os olhos.
Não estava no Cabo da Roca, mas sim na suíte nupcial do Hotel Ritz, a noite do meu casamento com a Sofia.
Tinha voltado.
Mas não para mim.
Mas para ela.
Tinha de cumprir os três desejos não ditos da Sofia, os três maiores arrependimentos que a atormentaram na primeira vida: anular este casamento, desafiar a vontade do pai dela, e garantir a felicidade de Lucas, o homem que ela amava.
Para a libertar, manipulei-a a assinar o divórcio, aguentei a sua crueldade quando me mandou mergulhar no mar gelado por um relógio de Lucas e fui atacado pelo seu carro, ao tentar salvá-la de si mesma depois de um reencontro fatídico com ele.
Deixei Lucas colher os louros por ter salvo o pai dela de um incêndio e doei o meu próprio sangue, mesmo com a perna partida, para salvar a vida do meu rival.
Cada ato de sacrifício era uma facada no peito, mas eu suportava, acreditando que a sua cegueira, manipulada pelo Lucas, um dia se dissiparia.
Seria a felicidade dela digna de tanto sofrimento?
Mas quando Lucas, num acesso de fúria, a empurrou pelas escadas, foi ela que se atirou à minha frente.
E nesse instante de desespero, percebi que a minha missão, e a nossa última parte, estava finalmente a começar-não para a felicidade dela, mas para a minha, a libertação de uma paixão que tanto me custou.