A semana havia sido particularmente frustrante. Sua última investigação, uma denúncia sobre práticas corruptas em uma empresa farmacêutica, tinha sido arquivada pelo editor-chefe do jornal em que trabalhava. "Risco legal demais," ele havia dito, embora ela soubesse que o verdadeiro motivo era a pressão dos anunciantes. A impotência a corroía. Sentia que sua paixão pelo jornalismo estava se chocando contra as barreiras do poder e do dinheiro.
Estava tão imersa em seus pensamentos que quase não percebeu o homem que entrou no café. Apesar de se mover em uma cadeira de rodas com a destreza de quem domina cada movimento, sua postura elegante e o cabelo perfeitamente arrumado o destacavam entre os frequentadores habituais. Vestia um casaco escuro, e sua presença emanava autoridade, mesmo em um ambiente tão informal. Quando seu olhar encontrou o de Valeria, algo em seus olhos escuros e penetrantes fez com que ela parasse por um instante. Era Damián Ferreira.
- Valeria Armenta? - perguntou ele com voz firme, aproximando-se de sua mesa. Sua cadeira de rodas mal fez ruído ao deslizar pelo chão.
Valeria piscou, surpresa. Já tinha visto o rosto dele em revistas e artigos, mas nunca esperou encontrá-lo pessoalmente. Endireitou-se ligeiramente no assento, tentando disfarçar a confusão.
- Sim, sou eu. Posso ajudá-lo em algo? - respondeu com cautela. Seu instinto de jornalista se ativou imediatamente. O que um magnata como Damián Ferreira estaria fazendo em seu café habitual? E por que a estava procurando?
- Sou Damián Ferreira. Acho que nossa conversa pode ser mutuamente benéfica, - disse ele, com um leve sorriso que não suavizava sua expressão séria.
Valeria franziu a testa. O nome de Damián não era famoso apenas nos negócios; também era cercado de rumores e segredos. Ele era conhecido por sua habilidade em manipular situações a seu favor. Algo dentro dela dizia que aceitar aquela conversa podia ser perigoso, mas sua curiosidade natural era mais forte.
- Certo, - respondeu finalmente, indicando a cadeira à sua frente com um gesto, embora logo tenha se corrigido, lembrando da situação. - Ou... bem, sente-se aqui, por favor.
Damián manobrou sua cadeira de rodas com fluidez, posicionando-se diante dela. Por um momento, o silêncio entre os dois esteve carregado de tensão. Foi ele quem quebrou o gelo.
- Tenho acompanhado seu trabalho há algum tempo, - começou ele, seu tom medido, mas direto. - Você tem a reputação de não desistir, mesmo quando os poderosos tentam silenciá-la.
Valeria o encarou. Sabia que aquilo era um elogio disfarçado de alerta.
- Não costumo desistir, é verdade. Isso o incomoda?
Um sorriso quase imperceptível surgiu no rosto de Damián.
- Pelo contrário. É exatamente por isso que quero lhe fazer uma proposta.
Valeria inclinou a cabeça, intrigada. Damián Ferreira não era alguém que desperdiçava tempo com trivialidades. O que quer que ele estivesse prestes a oferecer, certamente seria significativo. Ou perigoso.
- Estou ouvindo, - disse, cruzando os braços sobre a mesa.
- Preciso de uma esposa, - soltou ele, tão direto que Valeria quase derrubou sua xícara de café.
O silêncio que se seguiu foi carregado de incredulidade. Valeria o olhou como se ele tivesse acabado de dizer a coisa mais absurda do mundo.
- Desculpe, o quê?
Damián apoiou os cotovelos na mesa, entrelaçando os dedos.
- O que você ouviu. Preciso de uma esposa, mas não no sentido tradicional. É um acordo estritamente profissional. Um contrato de um ano.
Valeria o observou atentamente, tentando encontrar algum indício de que ele estivesse brincando, mas não encontrou. Sua expressão era séria, calculada.
- E por que eu? Há milhares de mulheres que aceitariam essa proposta sem hesitar.
- Porque não quero uma mulher que busque benefícios pessoais ou que se deixe manipular pelo dinheiro. Quero alguém que tenha algo a ganhar por si mesma, alguém com princípios. E você, Valeria, precisa de algo que eu posso lhe oferecer.
A mente de Valeria trabalhava a mil por hora. A proposta era inusitada, para dizer o mínimo, mas também tentadora de certa forma. Havia muitas coisas que ela precisava: recursos, acesso a informações, até mesmo uma plataforma maior para expor as injustiças que combatia. Mas aceitar um acordo com alguém como Damián Ferreira significava entrar em um mundo cheio de intrigas e riscos.
- Digamos que eu aceite ouvir mais detalhes. O que há para mim nisso?
- Liberdade, - disse Damián, inclinando-se ligeiramente em sua direção. - Acesso a recursos que podem transformar suas investigações em armas reais contra as injustiças que você tanto odeia. E, além disso, proteção. Os inimigos que você e eu compartilhamos não ousariam tocar em alguém sob minha proteção.
- E o que você ganha?
Damián sorriu, mas desta vez havia algo sombrio em sua expressão.
- Estabilidade. Imagem. E tempo. Tempo para descobrir quem está tentando destruir meu império por dentro.
Valeria o estudou, tentando ler nas entrelinhas. Era evidente que havia muito mais em jogo do que ele estava revelando.
- Teremos que discutir os termos com muito cuidado, - disse finalmente. - Não sou alguém que aceita acordos no escuro.
Damián assentiu, como se esperasse essa resposta.
- Claro. Vou lhe enviar os detalhes esta noite. Tome o tempo que precisar para decidir, mas não demore.