esposa completamente nua sobre ele, agradeço a Deus
por não andar armado.
Descobrir uma traição de Evelyn, incrivelmente, não
me causa estranheza. Desde o início ela se mostrou
insatisfeita com o casamento. Eu andava tão ocupado com
o trabalho, que quando ela se aproximou, eu a analisei
como faço com minhas transações financeiras e decidi que
nossa união seria satisfatória o bastante.
Ela vem de uma boa família, é sofisticada e bonita.
Isso aliado a um sexo dentro da média, riscou outro item do
meu plano de vida, mas eu nunca a amei.
Assim, não chega sequer a me incomodar que tenha
me traído. O problema é com quem ela me traiu.
É tudo sobre ele. Meu sangue.
O homem que cresceu ao meu lado e compartilhou
dores e alegrias. Aquele em quem sempre confiei tanto
quanto nos meus três irmãos.
Por minha vontade, viro as costas e vou embora,
mas de jeito nenhum sairei sem que saibam que os peguei
em flagrante.
Não tem nada a ver com ciúmes, mas tudo sobre a
sensação de ser atraiçoado pelo meu melhor amigo.
Bato palmas para lhes chamar a atenção.
Evelyn desperta rapidamente, sentando-se na cama
com a culpa estampada no rosto. Callum, demora um
pouco mais.
- Hudson, eu posso explicar - ela diz, ao mesmo
tempo que meu primo pergunta.
- O que diabos está acontecendo aqui?
- Fodam-se os dois. Vocês se merecem - falo.
Viro as costas para sair, enquanto ela ainda me
chama uma última vez.
- Hudson...
- Nunca mais se aproxime de mim - interrompo,
com gelo escapando de cada palavra. - Meus advogados
entrarão em contato para tratarmos do divórcio.
Capítulo 1
Hudson
Dallas - Texas
Dois anos depois
- Ela finalmente assinou.
- Quanto isso vai me custar?
- Muito mais do que havíamos pensado a princípio,
mas você ainda deu sorte que ela nem desconfia das suas
intenções em se tornar governador. Eu não tenho dúvidas
de que se soubesse, o preço subiria.
Balanço a cabeça, concordando com a minha assistente
e também única amiga, Dominika. Claro que tem razão.
Estou há exatos dois anos tentando me livrar de Evelyn e
ela não recua.
Nesse meio tempo, muita coisa mudou, principalmente
meus objetivos.
Estava entediado com a carreira de CEO da indústria
petroleira apenas. O que mais eu poderia querer? Sou o
homem mais rico do Texas - daí o apelido que a mídia me
deu de o dono do Texas - e um dos cinco mais dos
Estados Unidos.
Eu precisava de algo que realmente me estimulasse,
assim, decidi focar em uma meta mais grandiosa: quero ser
o próximo governador do estado.
Como tudo em minha vida, criei um plano para atingir o
alvo. Um que não inclui uma ex-esposa gananciosa
perturbando minha assistente quase todos os dias.
- Então finalmente acabou? Sou um homem livre?
- Sim. Completamente. Vamos comemorar?
Ao invés de responder, ergo uma sobrancelha.
Ela me conhece bem demais para saber que não perco
tempo com essas bobagens. Sua sugestão foi uma espécie
de piada. Dominika tem um senso de humor estranho.
- Tudo bem, vou beber uma garrafa inteira de
champanhe francês e colocar na sua conta. Um brinde ao
fim dos telefonemas com sua ex gritando no meu ouvido.
- Faça isso. - Autorizo. Ela realmente merece por ser
meu escudo contra Evelyn, durante o tempo em que
ficamos separados até a assinatura do divórcio hoje.
Depois que a flagrei na cama do meu primo, nunca mais
fiquei em um mesmo ambiente com ela sem um advogado
presente. No começo, minha agora ex-esposa tentou de
tudo para conseguir uma reaproximação, mas quando
percebeu que não teria mais volta, se dedicou ao que
realmente a interessava: arrancar a maior quantidade de
dinheiro possível com o fim do nosso casamento.
- Ele telefonou novamente. - Dominika avisa e sei de
quem está falando. Callum. - Não perguntou por você.
Era sobre a propriedade ao norte do estado. Seu primo
quer saber se aceitará sua oferta e lhe venderá sua parte.
- Por que eu venderia? Não preciso de mais dinheiro
do que já possuo.
Ela suspira e sei que a irritei. É isso o que acontece
quando você é amigo de alguém por tempo demais.
Aprende a decifrar até seus suspiros.
- Não seja irracional. Vocês precisam chegar a um
acordo. Venda seu terreno ou compre o dele, mas se quer
um conselho, venda. Você não precisa daquilo.
- Não gosto de me desfazer dos meus bens.
- Você está sendo intransigente. Não há sentido em
estender a briga pessoal de vocês em uma disputa de
negócios. Ele não é um concorrente qualquer, mas seu
sangue. No seu lugar, eu também não sei se o perdoaria,
mas essa guerra entre vocês está trazendo sofrimento para
sua avó e irmãos também. Eles sentem sua falta.
Ela sabe que acertou um nervo exposto.
Até o incidente com Evelyn, eu não passava um fim de
semana sem visitá-los. A cidade em que vivem, Grayland,
pertence à minha família há gerações. Tanto eu quanto os
meus irmãos e Callum temos propriedades rurais enormes
lá e nos arredores. Apesar da minha vida sempre
atribulada, eu gostava da sensação de voltar para casa aos
fins de semana. Não importa o quão caras sejam as
minhas roupas, eu sempre serei um cowboy.
Agora, quase não volto mais para a minha terra. Eu falo
com meus irmãos esporadicamente. Com vovó, há um
contato diário por telefone ou mensagens, mas não é a
mesma coisa.
Minha avó criou meu primo junto com todos nós, já que
no acidente de barco que vitimou meus pais, também
estavam os dele. De uma hora para outra, vovó, que já era
viúva, se viu sozinha com cinco rapazes. Eu, meus três
irmãos e meu primo. Há cerca de cinco anos, ainda trouxe
para juntos de nós Rebecca[3], a garotinha que foi
encontrada vagando abandonada em nossa cidade.
Apesar de não ser particularmente carinhoso, me fazia
bem encontrar minha família com frequência.
Atualmente, essas viagens se limitam ao almoço de
Ação de Graças[4] e Natal e ainda assim, me mantenho o
mais afastado possível do bastardo traidor.
- Se há uma coisa em comum em todos os membros
do clã Gray, é o orgulho. - Dominika continua, se
mostrando mais impaciente.
- Não é uma questão de orgulho somente. Ele era um
irmão para mim.
- Eu sei, mas aquela bruxa acabou separando a
família, não percebe isso?
Minha assistente não conhece os detalhes do que
presenciei naquele dia no rancho de Callum, mas sabe o
suficiente da traição de Evelyn e do meu primo.
Sei que ela tem razão quando diz que houve perdas de
todos os lados. Nós éramos muito unidos. Embora minha
relação com meus irmãos estivesse longe de ser uma
enseada calma, nos mantínhamos perto uns dos outros,
para o bem ou para o mal.
Desde a minha separação de Evelyn, Dallas, que
sempre foi um lugar em que eu somente trabalhava
durante a semana, acabou se tornando meu lar em
definitivo.
Meus parentes optaram por condenar Evelyn e acreditar
na palavra de Callum, de que nunca houve nada entre os
dois, mas eu sei o que vi.
- Tudo pronto para minha viagem a Chicago? -
Pergunto e ela comprime os lábios, sabendo que assim
estou abortando qualquer tentativa de falar novamente
sobre meu primo.
- Sim. Já enviei para seu e-mail todo o cronograma
das reuniões. Esses encontros serão fundamentais para
que consolide as últimas alianças para a campanha. Com
Evelyn fora da estrada, sua caminhada para o topo será
limpa e reta.
- Com ou sem Evelyn, eu não tenho nada a esconder.
- Veremos, chefe. De qualquer modo, terei que revirar
seu passado do avesso no decorrer dos próximos meses.
- Isso não me agrada.
- O que prefere: eu ou os democratas[5]?
- Pelo amor de Deus, Dominika! Do jeito que você fala
parece que fiz parte de um cartel de drogas na
adolescência. Minha vida pode não ser um livro aberto
porque não me agrada a ideia de bisbilhoteiros noticiando
cada passo que dou, mas também não escondo segredos
obscuros.
- Não diga isso em voz alta, futuro governador. As
mulheres preferem os bad boys, que atravessaram a
juventude partindo o coração de uma conquista diferente
em cada esquina. Apesar de que, nesse quesito, você não
deixa nada a desejar. Minha irmã me contou a quantidade
de namoradas e casinhos que teve na universidade.
Dominika é a irmã caçula de uma colega de faculdade e
quando precisei de uma assistente, me foi altamente
recomendada, apesar de estar recém-formada.
Trabalhamos juntos já há cerca de quatro anos e a
admiração que tenho pela profissional que ela é, acabou se
transformando em amizade.
- Seu papel não é julgar o meu passado. Organize
minha campanha e tente não meter esse nariz sardento
onde não é chamada.
Ela sorri e dá de ombros. Infelizmente, sei que
vasculhará a minha vida amorosa inteira, incluindo ensino
médio e faculdade. Se existe alguém comprometido com
seu trabalho tanto quanto eu, é minha assistente. Seu
dever no momento é me fazer vencer a campanha eleitoral
e ela não desistirá até alcançar o objetivo.
- Daqui a uns dias você oficializará sua candidatura ao
governo. Eu gostaria muito de ver a cara da Evelyn quando
perceber que poderia lucrar mais com o divórcio.
- Ela não poderá me prejudicar. Meus advogados a
fizeram assinar um acordo de confidencialidade[6]. Se abrir
a boca em um site de fofoca ou para um repórter, haverá
um desconto de vinte por cento na pensão a que tem
direito. E se der mais entrevistas, trinta por cento e assim
sucessivamente, além de uma substancial multa no valor
total do acordo de divórcio.
Na verdade, eu não queria qualquer tipo de arranjo com
minha ex, mas acabei seguindo o conselho da banca
jurídica que contratamos especialmente para a
candidatura, mantendo essa possibilidade de punição
contra Evelyn durante seis anos. Esse será o tempo
necessário para que eu finalize minha campanha, cumpra
meu mandato como governador e ainda tenha um tempo
de descanso contra possíveis indiscrições dela.