A Casa Dos Desprezados
img img A Casa Dos Desprezados img Capítulo 2 O Baile da Mansão Bright - Parte I
2
Capítulo 6 Fogos de Artifício img
Capítulo 7 A Casa de Campo - Parte 1 img
Capítulo 8 A Casa de Campo - Parte 2 img
Capítulo 9 Fervendo por Você img
Capítulo 10 Momento de Fraqueza img
Capítulo 11 Sentença img
Capítulo 12 O Preço do Pecado - Parte I img
Capítulo 13 O Preço do Pecado - Parte II img
Capítulo 14 Humilhação Assistida - Parte I img
Capítulo 15 Humilhação Assistida - Parte II img
Capítulo 16 O Tormento da Espera: Cartas, Decisões e Um Golpe do Destino - Parte I img
Capítulo 17 Cartas, Decisões e Um Golpe do Destino - Parte II img
Capítulo 18 A Trágica morte de Louis e Phillip img
Capítulo 19 Surge o Novo Duque de Alexandria img
Capítulo 20 Reencontro img
Capítulo 21 Irmandade img
Capítulo 22 Fazendo as pazes com o barão img
Capítulo 23 A Escolha do Duque - Parte I img
Capítulo 24 A Escolha do Duque - Par img
Capítulo 25 O Casamento de Sebastian e Heloísa img
Capítulo 26 Os Corpos Cedem Quando o Amor fala Mais Alto - Parte I img
Capítulo 27 Os Corpos Cedem Quando o Amor fala Mais Alto - Parte II img
Capítulo 28 Interrupto - Parte I img
Capítulo 29 Interrupto - Parte II img
Capítulo 30 Veneno De Cobra Burguesa - Parte I img
Capítulo 31 Veneno De Cobra Burguesa - Parte II img
Capítulo 32 Veneno De Cobra Burguesa - Parte II img
Capítulo 33 Em Busca de Uma Solução - Parte I img
Capítulo 34 Em Busca de Uma Solução - Parte II img
Capítulo 35 O Último Beijo da Madrugada - Parte I img
Capítulo 36 O Último Beijo da Madrugada - Parte II img
Capítulo 37 Desalento - Parte I img
Capítulo 38 Desalento - Parte II img
Capítulo 39 Uma Fuga Romântica - Parte I img
Capítulo 40 Uma Fuga Romântica - Parte II img
Capítulo 41 Noite de Nupcias img
Capítulo 42 O Casamento de Edward e Aurora - Parte I img
Capítulo 43 O Casamento de Edward e Aurora - Final do Livro I img
img
  /  1
img

Capítulo 2 O Baile da Mansão Bright - Parte I

🌹 Aurora 🌹

Aquela noite era para ser agradável, afinal, Sebastian - o barão das rosas - estava em sua casa em Londres e, quando se encontrava por lá, Lady Rose tratava Aurora com o mínimo de cortesia que era possível. Conseguia esconder seus olhares de insatisfação e nojo para a menina, sempre com o objetivo de mostrar ao enteado que era uma boa madrasta. Claro, Sebastian nunca acreditou nisso, quando na verdade a própria já havia lançado seu veneno contra ele inúmeras vezes.

Lady Rose achava que Sebastian acabaria com a reputação da família sendo o futuro barão, pois o mesmo nunca fora recatado como o pai. E ela tinha medo que essa característica – que a própria Aurora havia também herdado – recaísse sobre Marianne e seu futuro brilhante. Contudo, precisou se retrair a tais comentários quando se deparou com o marido morto, e Sebastian como herdeiro de tudo.

Mas, mesmo travestida de uma falsa simpatia, ao menos a casa em que viviam parecia mais leve para Aurora, a irmã mais velha de Sebastian, que vivia dias de horror ao lado da madrasta.

Lady Rose a odiava. Dos pés à cabeça. Para ela, Aurora era a pessoa mais inútil e desgraçada em beleza na alta sociedade, e com sorte não conseguiria se manter por ali por muito tempo mais e sumiria do seu campo de visão, a ponto de nunca mais saber o seu paradeiro. Para ela, Aurora deveria ter morrido junto à Lilian, sua mãe, quando ambas tiveram uma grave pneumonia – e se Deus ouvisse suas preces de vez em quando, Sebastian pereceria também.

Mas não. A garota não só sobreviveu naquela época, como ainda estava viva, mesmo após ser mandada diversas vezes na chuva para fazer alguma tarefa sem importância nenhuma. No máximo, Aurora pegava um resfriado leve e pouco tempo depois estava curada e pronta para outra.

Felizmente Sebastian a amava mais do que tudo nesse mundo, e a protegia como conseguia. Chegou a convidá-la para ir morar com ele na casa de campo, contudo, voltou atrás após perceber que não conseguiria fazer-lhe companhia, e também a prejudicaria na árdua tarefa de conseguir um bom marido. Sebastian achava que Lady Rose a estimulava para ir aos bailes e cuidava para que ela também tivesse bons pretendentes, afinal, era de seu interesse que a menina saísse de casa e a deixasse a sós com seus planos para o ducado da filha.

Entretanto, Aurora só conseguia comparecer aos bailes quando Sebastian estava na cidade. No restante do ano, sua vida era reduzida a uma miserável existência, praticamente sendo tratada como criada pela madrasta e a irmã.

- Qual vestido quer usar, senhorita? – Irene, a criada mais velha, mas que ainda assim estava em idade de ter filhos, questionou enquanto encarava o pequeno armário repleto de vestidos novos de Aurora.

Ela tinha muitos, pois eram presente de Sebastian, e quase nunca tinha a oportunidade de usá-los.

Aurora passou os olhos negros como a noite – iguais aos de seu pai – por cada um deles à procura do último que recebera da modista. Era azul, quase tão claro quanto os olhos da irmã.

Franziu o cenho quando não o encontrou. Afinal, ela nunca havia o usado antes.

- Onde está o vestido azul de chifon? – Perguntou, passando mais uma vez pelo armário seus olhos curiosamente.

Ele era enorme, não dava para se esconder entre os outros. Ela ficara encantada com os detalhes e surpresa que o corte e escolha do tecido que havia pedido para a modista havia deixado o modelo ainda mais bonito do que imaginara. Mas ele não estava lá.

- Verei com Hilda, talvez ela tenha se adiantado e o pego para desamarrotar. – Tentou dar um sorriso tranquilizador para a menina, mas sabia que ela notara que havia algo de errado.

Irene saiu do quarto de Aurora, deixando-a só. O cômodo era um pouco apertado, afinal era o menor quarto da casa em que não dormia um empregado.

Sabendo que provavelmente se atrasaria caso o vestido não aparecesse, Aurora retomou a sua busca pelo traje daquela noite. Tinha muitos, felizmente nenhum repetido, mas nenhum tão bonito quanto o azul, afinal fora ela quem o imaginou e encomendou nos mínimos detalhes. Afinal, aquele tinha sido o presente de seu irmão para ela no seu aniversário. O vestido mais caro de todos, com mais camadas e mais nobre que ela poderia ter.

Suspirou, logo imaginando que Patrícia tivesse dado cabo em mais um deles. Ela sempre fazia aquilo quando notava que Aurora poderia chamar mais a atenção do que Mary, e a mínima menção de elogio para sua enteada lhe causava ânsia.

Exausta de encarar tantos modelos sem muita vontade, lembrou-se de um em especial: estava guardado num baú, era rosa e tinha pequenas flores bordadas em seu busto. Ela amava aquele vestido, e ele fora a inspiração para ela fazer o azul. Não era tão glamouroso, deixava-a com um ar mais infantil, mas ainda assim se sentiria especial nele.

Retirou-o de lá. As flores – pequenas rosas cor de rosa – a fazia associar o nome da família, e ela amava a sua, mesmo pensando que seu pai fizera uma escolha um tanto questionável quando se casara com Patrícia.

- Nenhum criado viu o vestido. – Irene advertiu, voltando para o quarto sentindo o fôlego escapando de seus pulmões. – Ora, este é lindo.

Aurora estendeu a saia para ela após analisar em frente ao espelho se o caimento ainda ficaria bom nela.

- Mande passar este então, por favor.

Irene saiu do quarto às pressas, deixando Aurora só mais uma vez. Como não tinha criadas para a bajular, costumava fazer seu ritual solitária antes de ir a um baile.

O que era ótimo, na verdade. Assim, nenhuma veria a tristeza percorrer seus olhos e cair em forma de lágrimas pelo seu rosto quando a angústia tomava o seu peito.

Aquela seria mais uma noite em que seu cartão de dança não receberia o nome de ninguém. Talvez do senhor Georgie Williams, melhor amigo do seu pai que a amava como se fosse sua filha, ou de algum outro velho que mal se importava com a sua falta de graça. A questão era que Aurora nunca era alvo dos bons homens, em parte porque não era loira e estupidamente feminina como as outras, em parte porque não tinha uma mãe agarrada em seu pulso caminhando entre os belos pretendentes apresentando a sua filha insistentemente até algum deles ceder.

Sabia que ela era um exagero à parte em coisas que não eram consideradas belas. Os cabelos escuros demais, assim como os olhos que eram tão grandes e lhe dava um ar de curiosa que ela não conseguia evitar. O rosto comprido, o queixo levemente pontudo, as sobrancelhas arqueadas que tanto foram alvo de comentários horríveis de sua madrasta. A boca voluptuosa que tanto a fez sentir vergonha em temporadas passadas quando a moda eram lábios tão finos e retos. Os seios pequenos demais, a ponto de mal aparecerem, não importava o quanto o espartilho era apertado.

A sua cor mais bronzeada do que as outras. Um pouco mais clara do que a sua mãe, que vinha de uma família miscigenada, mas ainda assim... traços que os outros abominavam, mesmo ela sem entender o porquê.

Aurora encarava o pó de arroz pensando se deveria carregar um pouco mais como fazia sempre a mando da madrasta. Odiava ter que fazer aquilo, pois, por mais que conseguisse mudar o tom de sua pele, nunca parecia que era ela mesma. Afinal, precisaria passar o resto de sua vida se escondendo dos outros?

Deixou a vontade de jogar o pequeno vidro pela janela e se concentrou em pentear seus cabelos que estavam cada vez mais longos, pois não conseguia pensar em um corte que a fizesse ficar possivelmente mais atraente – se é que isso era possível.

- Aqui está. – Irene voltou como uma rajada forte de vento, balançando o vestido tão maravilhada por ele quanto era pelo azul. – Ah, senhorita, deixe que eu a ajude. – Ofereceu quando notou a moça tentar enrolar os cabelos para prendê-los num penteado.

Irene tinha grande estima por Aurora. Viu a menina crescer e adquirir traços parecidos com a falecida lady rose, exceto pelos olhos, que eram exatamente como os do pai. A ensinara muitas coisas, e compartilhava um afeto de mãe e filha.

Aprontou Aurora com muito cuidado, vestindo-a e maquiando um pouco o seu rosto. Achava que ela era a garota mais bela da cidade justamente por seus traços diferentes, mas nenhum elogio parecia suficiente para elevar a auto estim da moça. Afinal, como poderia? Sua madrasta a desprezava e lançava palavras de grande mau gosto contra ela, como se fosse um pequeno porco que vivia entre os membros da família.

- Está maravilhosa, senhorita Rose. – Irene completou, dando um toque final em seus cabelos. Aurora não tinha muitas joias, mas uma pequena flor num grampo ganhava destaque em conjunto com as demais vestimentas.

- Obrigada. – Agradeceu, mas Irene sabia que era da boca pra fora. A menina nunca se sentira bela ou desejável, e admitiu isso muitas vezes para si.

Aurora e Irene desceram e aguardavam na sala. Sebastian estava atrasado, mas ele iria acompanha-las naquele baile.

Sabendo que deveria aproveitar a noite ao lado de seu irmão, ela suspirou e pôs um singelo sorriso no rosto.

Todavia, o mesmo fora apagado alguns minutos depois quando se deparou com sua irmã, Mary, descer as escadas radiante com o seu belo vestido azul.

Era para ser uma noite agradável. – Pensou Aurora novamente.

Sim, era. Mas tudo fora estragado, mais uma vez, por sua madrasta, que simplesmente roubara seu vestido azul e dera para Mary vestir. Sabia que fora ela porque sempre estava de olho em seu guarda roupas como quem censurasse suas escolhas.

Ora, ela nem precisava de vestidos. Mary tinha uma infinidade de modelos em seu closet, um mais belo do que o outro, que Aurora nem pensaria duas vezes caso sua irmã quisesse trocar naquele.

Mas não. Mais uma vez, ela esbanjava em sua face o fato de que podia fazer o que quisesse, ter o que quisesse e tomar o que quisesse dela.

Não bastava ter roubado a chance de Aurora se casar com o futuro duque, ela ainda fazia questão de lhe roubar seus vestidos!

Tudo aconteceu numa rajada de ódio súbito. O chifon rasgou em sua mão facilmente, tornando o mais belo de todos um traje de mendigo.

A briga entre Mary e Aurora começara sem precisar de um pio sequer, mas foi aos berros de Sebastian que fora separado.

- O que está havendo aqui?! – Indagou, ainda segurando a irmã mais velha que chorava de soluçar. – O que você fez, Mary?

Sebastian sabia que a culpa era da irmã mais nova, de alguma forma. Aurora não costumava chorar, só em ocasiões muito avassaladoras.

- Eu? – Como um pio de passarinho, a loira questionou fingindo-se de ofendida. – Foi ela que veio para cima de mim!

Sebastian colocou Aurora em sua frente e a encarou solidário.

- O que houve? – Perguntou com voz branda.

- Ela roubou meu vestido. – Aurora esclareceu baixinho, sentindo a garganta arder. – O seu presente de aniversário, que eu mesma basicamente desenhei.

Voltou seus olhos escuros cheios de ódio para os da irmã, que a encarava cheia de deboche.

- Não sabia que era seu. – Mentiu, assistindo sua mãe descer as escadas afobada e com perguntas no olhar. – Fora mamãe que me deu.

- Ora, o que está havendo aqui? – Lady Rose questionou, encarando o vestido destruído no corpo da filha.

- Aurora destruiu o meu vestido. – Mary precipitou-se a falar antes que Sebastian raciocinasse sobre aquilo direito.

- Esse vestido é meu! – Berrou a irmã mais velha, voltando a se alterar. – Vocês roubaram.

- Acalme-se, Aurora. – Sebastian pediu, tocando no braço da irmã.

- Pelos céus, Aurora, isso não são modos. – Patrícia comentou, tentando chama-la a atenção. – É apenas um vestido.

- Por que roubou o vestido dela? – Questionou o barão, pondo-se à frente da irmã. – Fora um presente meu.

Lady Rose coçou a cabeça pensando no que iria dizer e tentou sorrir.

- Ele deve ter se misturado no meio dos de Mary, não é? – Inventou uma desculpa qualquer, fingindo uma calma que não existia. – Não precisamos nos exaltar por isso. Certamente foi um erro dos serviçais.

- Ele estava no meu armário. – Aurora fitou a madrasta com ódio nos olhos. – Até ontem a noite. E eu não pedi a ninguém que o retirasse de lá.

Patrícia a fitou com amargura. Aquela garota ficará uns bons dias de castigo assim que Sebastian partisse de Londres.

- Tenho certeza que foi algum deles. – Afirmou, lançando um olhar gélido para Irene, que assistia a cena um pouco de longe. – Ou acha que eu e Marianne nos sujeitaríamos a isso?

Era exatamente isso o que Aurora acreditava.

- Está bem, chega! – Firmou Sebastian, segurando o braço de Aurora. – Estamos atrasados. Vá se trocar, Marianne, e devolva o vestido dela, por gentileza.

- Este trapo? – Debochou, subindo o chifon que se arrastava rasgado no chão.

- Faça esse favor. – O barão retrucou, nem um pouco feliz.

Assim que chegaram ao baile, Lady Rose notou que Mary havia escolhido um vestido não tão bonito quanto o que Aurora usava. Mas não tinha problema, porque, ao contrário de sua adorável filha, a irmã não ficava bonita em absolutamente nada. Nem um milagre conseguiria tirar dela aquela cor imunda ou aqueles traços grotescos.

Suspirou satisfeita assim que viu o cartão de dança da filha sendo preenchido sem o menor esforço, enquanto Aurora assistia grudada nos braços de Sebastian como se ele pudesse protegê-la do desprezo alheio também.

Aurora conseguia sentir a repulsa e o nojo a cada vez que Patrícia a encarava. Às vezes ela desejava que a menina virasse um pequeno inseto para pisar em cima com força, até vê-la esmagada em seu sapato. Só que Aurora nunca conseguiu entender o porquê, e em sua mente só havia aceito que as pessoas odeiam umas às outras sem causa aparente.

Após assistir a família Bright se dirigir para elas sem fazer o mínimo esforço de serem educados com Aurora, Sebastian afastou-se, afim de deixar a irmã respirar. Não parecia nada feliz naquela noite, e tinha razão para não estar.

- Que tal uma bebida? – Ofereceu à irmã, que suspirava desgostosa a cada segundo. – Ora, anime-se. Finja que Lady Rose não existe nesta noite, e verá como poderá ser agradável.

Ela também esperava que fosse, mas começara muito mal. Pensou que não deveria ter entrado num embate corporal com a irmã por causa do vestido, mas não pode evitar. Aquele não era nem o primeiro e nem o último que a madrasta faria questão de se apoderar, e ela estava mais do que cansada disso.

- Tudo bem. – Tratou de por um sorriso no rosto, mesmo que fingido.

- A darei muitos vestidos ainda, um mais belo do que o outro. – Falou o irmão, indo em direção à mesa de limonada e taças de champanhe. – Podemos ir à modista na semana que vem. Chame Heloísa para acompanhá-la e se divertirem um pouco.

Aurora sorriu um pouco mais, agora de verdade. Amava quando podia sair com sua melhor amiga para fazer qualquer coisa que fosse. E ter a companhia de Sebastian era ainda melhor, porque ela sabia que ele tinha uma queda nada secreta por ela.

- Tente isso, ficará mais animada. – Sebastian ofereceu uma taça de champanhe para a morena sem pudor algum.

- Não posso beber ainda. – Balançou a cabeça, negando.

- Claro que pode. – Empurrou a bebida para sua mão, fazendo-a segurar com firmeza. – Já está na hora de começar a fazer coisas de adulto.

Aurora não sabia se deveria aceitar ou recusar, dada às circunstâncias que seria julgada pelos demais convidados. Entretanto, tinha a ligeira impressão que ninguém a enxergava ali – e em nenhum outro canto.

Tomou um gole, sentindo as bolhas estourarem em sua língua. Gostou da sensação de cócegas e resolveu dar uma chance.

- Só não beba muito, não quero que fique bêbada. – Sebastian advertiu, assistindo a irmã rir. – Ótimo.

- Senhor Rose. – Queenie White, matriarca da família White e mãe de quatro adoráveis filhas, o abordou com grande simpatia. Vinha carregando duas rebentas em seu encalço, obviamente indo à caça ao marido, como sempre. – Fico imensamente feliz por finalmente vê-lo. Senhorita Rose, seu vestido é adorável.

Queenie foi a primeira pessoa a cumprimentar Aurora com uma reverência e um sorriso. Sebastian notara, e sentiu em seu coração que deveria ouvir ao menos o que aquela dama gostaria de dizer.

- Senhora White. Senhoritas. – Tratou de ser um amável cavalheiro e colocou um sorriso no rosto. – Como estão radiantes.

Aurora, muito observadora, concluiu que o irmão estava de bom humor naquela noite. Aparentemente se deixaria ser vítima das mães caçadoras de marido e dançaria com todas as moças possíveis. Sentiu uma pontada de inveja dele. Afinal, além de ter um título, herdado muitas riquezas e ser bondoso a ponto de essa ser a característica mais forte em si, Sebastian era bonito.

Os cabelos eram escuros e encaracolados como os dela, mas sua pele era da mesma cor de seu pai. Seus olhos castanho-claros, sua estatura alta. Tudo nele era encantador para qualquer mulher que observasse.

Ele só perdia, é claro, para Louis Thompson, o futuro duque de Alexandria. Afinal, Louis era mais alto, tinha olhos azuis extremamente expressivos e dono de uma beleza incomum. Qualquer garota que tivesse a sorte de se casar com ele certamente ergueria as mãos para os céus agradecendo a dádiva.

E essa garota de sorte era ninguém menos que sua irmã.

Aurora suspirou, novamente sentindo uma pontada de angústia no peito e deixando uma tristeza forte tomar conta de si. Tomou mais um gole do champanhe, depositou o resto com a taça na mesa e passou a ignorar a conversa calorosa entre Lady White e seu irmão. Aquela seria uma longa noite em que ela se sentaria ao lado das viúvas e rejeitadas e assistiria as pessoas dançarem felizes, enquanto a mesma não era cortejada por ninguém.

Já tinha dezenove anos e, desde que começou a debutar no ano passado, nenhum pretendente a visitou. Nenhum. Nem mesmo aqueles velhos tarados que só se importavam em ter companhia no fim da vida.

Mas, mesmo sabendo que não era vista por ninguém, Aurora costumava ignorar essa parte. Gostava de ir aos bailes porque quase nunca ia, e, mesmo que não dançasse, ver as moças dando risinhos envergonhados e encarando cavalheiros solitários nos cantos, procurando saber como atingir os seus alvos, a fazia criar histórias de amor em sua cabeça. Quando um casal mais antigo dançava, ela imaginava quando fora a sua primeira dança, como fora o cortejo, o pedido de casamento...

...Como fora primeiro beijo.

Aurora nunca conseguia imaginar como seria com ela – porque achava que morreria solteira - mas ao ver casais se formando, logo um conto de amor era produzido em sua mente. Normalmente mais fantástico do que como acontecera na vida real.

Por isso ela amava os bailes. Ela amava ver o amor nascer neles.

Mas naquela noite tudo parecia sem cor. Ela se sentia invisível, como de costume, contudo havia um embolo em seu estômago que não queria passar e se começasse a se debulhar em lágrimas ali mesmo certamente seria o centro das atenções. Engolira o choro diversas vezes no caminho para a mansão dos Bright, todavia, imaginava que seus olhos entregavam a sua amargura.

Afastou-se de Sebastian sem avisá-lo: precisava de ar, ficar um pouco só, quem sabe, deixar as lágrimas descerem para aliar seu âmago.

Olhou para cima na esperança de não ter ninguém no andar superior, mas viu Louis Thompson parado antes das escadas, encarando o salão exatamente onde Marianne estava. Pensou em ir cumprimenta-lo e quem sabe puxar algum assunto, porém sabia que ele também não gostava nem um pouco dela. Na verdade, Louis a descartou como pretendente antes mesmo de Patrícia colocar a filha à sua mercê diante o contrato.

Afastou o desejo de ouvir sua voz, nem que fosse por cortesia, e decidiu tomar rumo à sacada do jardim. Sebastian sumira na multidão, cercado por mais uma mãe desesperada.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022