Quando pegou um livro na biblioteca para ler até o sono chegar, praticamente pode ouvir aquela voz em sua cabeça como se contasse a história. Ela daria sua única joia - uma belíssima coroa deixada por sua mãe - para ele em troca de uma leitura em sua entonação.
Todavia, tratou de espantar a sua imaginação fértil e se concentrar no dia a dia. Edward seria padre na catedral, realizaria o casamento de Marianne no ano seguinte e seria cunhado dela. De uma forma muito distante ele faria parte da sua família.
A família dos desprezados. - Pensou ela, lembrando que ambos eram como intrusos no seu próprio seio familiar.
Aurora dormiu e sonhou com absolutamente nada.
Entretanto, mantinha um esforço para conseguir afastar os pensamentos que porventura voltavam-se a ele. Era ridículo, afinal, Edward fora apenas um homem cortês e nada mais.
- Olá! - Heloísa aparecera de repente, dando um susto dos grandes nela. - Pensei que não estivesse em casa.
Aurora levantou-se num pulo.
- Quase não me encontra. - Esclarece. - Mas a aguardava para irmos juntas à modista.
- Para quê? - Questionou a amiga, ajeitando os cabelos louros no espelho da penteadeira. Ela sempre checava a aparência caso Sebastian aparecesse de repente.
- Vamos encomendar vestidos. - Aurora pontuou, pegando sua bolsinha de contas, seu chapéu e o guarda-sol.
- Vamos? - Heloísa deixou um olhar feliz escapar. Sabia que quando Aurora dizia isso era porque Sebastian estava sendo generoso com ela também.
- Sim.
Aurora e Heloísa passaram a tarde procurando coisas inusitadas para colocar em seus vestidos: plumas, berloques, flores de renda, etc. O próximo baile seria na mansão do duque de Alexandria - futuro sogro de Marianne.
Sua irmã, claro, estava radiante com a perspectiva de ser destaque naquela festa tão aguardada pela alta sociedade. Afinal, haviam anos que nada acontecia por lá. Todos foram convidados, e Heloísa não ficara de fora graças ao pedido de Aurora para Sebastian.
- O que busca, senhorita Rose? - Questionou Lady Daene Fleur, muito simpática. Na verdade, ela sempre tratava Aurora bem pois encomendava vestidos aos montes quando o irmão aparecia na cidade. - Marianne pediu um vestido muito semelhante ao seu de meses atrás. Sugiro que faça o caminho contrário desta vez.
É claro que ela pediu. Afinal, nem ela e nem a madrasta eram criativas o bastante, mas sempre ficavam atentas às vestimentas alheias para roubar o que era de melhor e se vestir.
- Hm... - Aurora suspirou. Não que não tivesse boas ideias para se vestir adequadamente, mas queria algo sublime, que a fizesse ser ao menos vista pela beleza do traje. - Então não pedirei nada azul.
- Certo. - Ouviu Daene, buscando os modelos de outras cores que ela havia guardado ali. - Azul é a cor da estação, mas tenho boas opções aqui.
Aurora escolheu dois. Um verde escuro e um branco. Mas não estava satisfeita. Queria algo que nunca houvesse usado antes.
Num dado momento, enquanto Heloísa tirava suas medidas para o vestido lilás que escolhera, os olhos de Aurora foram cometidos por um tecido amarelo um pouco diferente dos outros. Parecia cor de mostarda.
O toque era macio, mas o pano um pouco grosso. Um detalhe dourado aqui e ali o deixariam divino.
- Lady Fleur, posso ver este? - Pediu antes de colocar suas mãos na prateleira acima de sua cabeça.
- É claro, Mademoiselle. Fique à vontade.
Aurora puxou o tecido e viu que o vestido estava pré-pronto. Era um pouco sem graça, mas umas modificações aqui e ali o deixariam esplêndido.
Talvez um corpete bem cinturado, mais algumas camadas de tecido para ficar maior... alguns fios dourados, mas não muitos, para dar o toque final.
O desenho se formou em sua cabeça perfeitamente. Sem pedir, pegou uma folha de papel e um pouco de nanquim para desenhar o que estava pensando. No final, quando o vestido de Heloísa estava todo demarcado, o desenho pairava em sua mão.
- Mademoiselle. - A modista encarou o papel encantada com o desenho de Aurora. - Tens um dom incrível e bom gosto para modelos.
Aurora corou, feliz pelo elogio.
- Acha que pode transformar este vestido no que está desenhado? - Indagou apreensiva.
- Certamente que sim. - Lady Fleur sorriu, tomando o papel em suas mãos. - Ficará ainda mais bonito do que imaginei neste tecido. O que são estas coisas?
- Fios dourados. - Aurora esclareceu.
- Só tenho de ouro.
Aurora refletiu por um momento. Ficaria muito mais caro do que qualquer vestido que ela fez. Contudo, Sebastian havia estipulado uma quantia exponencial em pedido de desculpas pelo que aconteceu com o azul. Ela havia pensando em comprar um colar de pérolas com o restante do dinheiro, mas com fios de ouro no vestido não precisaria de nenhuma outra joia.
- Pois faça. - Garantiu.
⚜⚜⚜
Aurora não queria admitir que estava um pouco mais animada para aquele baile do que antes após conhecer o irmão mais novo de Louis. Ela não poderia reconhecer isso, na verdade.
Como sabem ele seria padre.
Entretanto, sorria sozinha às vezes. Ouvia Edward em sua mente conversando com ela, e começou a achar que pudesse estar louca.
Ora, só podia ser.
Quando se sentaram para tomar um chá mal ouvia as palavras de Heloísa. Geralmente ela confessava para Aurora sobre o quanto estava apreensiva com a chegada dos seus dezoito anos e em como Sebastian a deixava um tanto irritada e apaixonada ao mesmo tempo.
- No que está pensando, Aurô? - Heloísa perguntou, retendo a atenção da amiga.
- De onde tirou este apelido? - Indagou ela, notando que fora a primeira vez que notou a amiga chamá-la de tal maneira.
- Do que está falando? Eu sempre a chamo assim. - Esclareceu ela.
- Não, não chama não. - Se chamasse, ela saberia.
- Chamo quase todas as vezes que nos vemos. - Heloísa sentiu-se ignorada.
- A única pessoa que me chamou assim em toda a minha vida fora Edward. - Despejou ela.
- Quem diabos é Edward?
Aurora prensou os lábios como se não quisesse ter dito aquilo. Mesmo sendo sua melhor amiga, não desejava compartilhar os momentos com Edward com ninguém.
Como se algo importante tivesse acontecido. - Pensou.
- O irmão mais novo de Louis. - Engoliu em seco e decidiu tomar um gole de chá antes de continuar. Heloísa franziu o cenho confusa. - Ele é clérigo e está para se tornar padre.
- Nunca ouvi falar que Lorde Louis tem um irmão.
- Aparentemente quase ninguém sabe. Mas ele é melhor amigo de infância de Sebastian. O conheci na noite de ontem. - Refletiu.
- Ora, Sebastian nunca me contou sobre ele. O conheceu ontem e já recebera um apelido? - Heloísa riu, deixando um ar malicioso nos lábios.
- Não. Quer dizer... - Aurora pensou novamente naquela conversa. Sentiu-se boba por um instante, e deveria ser exatamente isso o que Edward pensava sobre ela. - Foi uma brincadeira.
- Certo. E esse Edward... - Heloísa arrastou a última palavra, deixando seu nome destacado em sua boca. - É bonito como o duque e o filho mais velho?
- É. - Aurora deu de ombros como se não se importasse. - Acho que é uma dádiva da família.
Heloísa encarou a amiga ainda mais curiosa acima do misterioso irmão, mas Aurora não estava disposta a deixar tão claro que havia olhado para ele mais do que deveria.
Poderia descrever a cor dos seus olhos com destreza. O desenho dos seus lábios ou até mesmo o toque das suas mãos. Mas sentia-se impura demais quando a imagem dele vinha à sua cabeça.
Era pecado desejar um padre. Não era?
⚜⚜⚜
O dia do baile chegara rápido demais. Marianne estava tão feliz que irradiava pela casa inteira. Claro, quando estava assim, pelo menos ela e a mãe deixavam Aurora em paz.
E foi o que aconteceu nos dias seguintes. Sabia que a história do vestido rasgado não seria esquecida pela madrasta, mas tratou de sentir a paz selada enquanto Sebastian estava ali.
O vestido amarelo ainda não estava pronto. Se não ficasse, deveria se contentar com o branco ou o verde novo que comprou. Mas nenhum deles chegariam aos pés daquele que ela imaginou.
Irene estava para lá e para cá á mercê das duas loiras. Não tinha importância. Aurora sabia se arrumar sozinha, apenas precisaria de ajuda para colocar o vestido.
- Como posso saber que não cairei com estes sapatos? - Heloísa apareceu como uma rajada de vento, como sempre fazia. - São altos demais, não acha?
- Você não treinou em casa? - Questionou Aurora, vendo o par forrado por renda branca nas mãos da amiga.
- Sim, porém tenho medo de pisar nos pés de alguém e me desequilibrar. - Atentou.
- Se isso acontecer, nenhum cavalheiro se relutará em segurá-la nos braços antes de vir ao chão.
Heloísa parecia ansiosa para aquela noite. Ao contrário de Aurora, ela deixava transparecer. Era a primeira vez que iria a um baile ao lado de Sebastian.
- Dará tudo certo. - Garantiu, ouvindo a amiga loira bufar.
Heloísa pendurou seu vestido - presente do barão - num cabide. Ela e Aurora se arrumariam juntas, afinal iriam na mesma carruagem ao lado de Sebastian.
- Acha que Edward estará lá? - Perguntou ela entusiasmada. Aurora sabia que tinha despertado a curiosidade dela.
- Provavelmente. - Chutou. Tinha conhecimento que ele ainda permanecia em Londres.
- Quero conhecer o Lorde que chamou a sua atenção.
- Ora essa, Heloísa. De onde você tirou isso? - Aurora se surpreendeu.
- De você, obviamente. Ficou muito vermelha quando pronunciou o nome dele na última quarta. - Garantiu, assistindo a amiga corar novamente. - E está ficando da mesma maneira agora.
Srta. Rose passou suas mãos em seu rosto, sentindo o toque quente vindo deles.
- Não tire conclusões precipitadas. - Pediu. - Ele é quase um padre. É um homem santo.
- Ainda assim, é um homem.
- Não acredito que está pensando nele dessa maneira. - Assustou-se, censurando a amiga.
- Você não pensou nele desta maneira? - Heloísa questionou, levando várias piscadas confusas em resposta.
- Claro que não. - Mentiu, voltando a sua cabeça para o par de brincos bijuteria em suas mãos. - Como pode achar isso?
Heloísa conhecia muito bem sua amiga. Bem até demais. Aurora não tinha nada a esconder porque nada acontecia em sua vida além do inferno que vivia com sua madrasta. Entretanto, ela sabia que neste momento algo diferente estava havendo, e tinha a ver com Edward.
Porém, para Aurora nada estava mesmo acontecendo porque, apesar do rubor em suas bochechas, ela sabia que o futuro não a aguardava com grandes surpresas e que Edward não passaria de um amigo.
- O seu vestido não chegou? - Heloísa encarou o verde bem passado pendurado no cabide.
- Ainda não. Estava para chegar hoje, mas nada ainda. - Aurora suspirou descontente. - Ao menos estes não chamaram a atenção da baronesa. Ela veio aqui observá-los para ver se eram mais bonitos do que o de Marianne.
Aurora e Heloísa fizeram cachos nos cabelos e maquiaram-se uma a outra com bastante cuidado para não exagerar em nada. Por mais que gostaria de falar sobre Edward com a amiga, a morena preferiu se calar.
Seus cabelos estavam magníficos e parcialmente presos num penteado que Heloísa fizera. Afinal, estava tão grande que era possível fazer qualquer coisa neles.
Se dera por vencida. O vestido não ficaria pronto a tempo. Contudo, ela não se deixaria abater por aquilo.
Heloísa se vestiu e ficou pronta aguardando a amiga, apenas. Sentou-se na cama e passou a observá-la colocar alguns grampos com pequenas flores no cabelo. Aurora adorava isso.
- Senhorita. - O mordomo aparecera de repente, batendo à porta. - Uma visita a aguarda.
Aurora desceu as escadas afobada e foi para a sala, sendo acompanhada pela amiga que estava tão curiosa quanto ela.
- Perdoe-me pelo atraso, Srta. Rose. - Daene Fleur, a modista, pediu assim que notou a presença da mesma. - Mas eu precisava termina-lo de maneira que ficasse um primor. É o vestido mais belo que já fiz.
- Oh. - Aurora mal conseguiu cumprimentar a senhora visivelmente feliz por ter chegado a tempo. - Obrigada. Não se preocupe, estou feliz por trazê-lo.
Lady Fleur sorriu para a menina, contente. Pensou que ela daria uma ótima ajudante se se interessasse por moda.
Com uma reverência, deixou a casa da família.
Aurora carregava o vestido embrulhado nos braços quando Marianne desceu as escadas vestida num azul claro. Havia uma fita prendendo a cintura num laço, mangas curtas e um decote de coração. Era muito semelhante ao que ela havia mandado fazer.
A irmã mais nova passou, sem se dar o trabalho de cumprimentar Heloísa. Para ela, aquela menina não passava de uma sanguessuga em sua casa.
Lady Rose desceu as escadas trajando rosa, com algumas flores bordadas no busto. Claro, além de roubar a ideia do primeiro modelo para a filha, roubara a do segundo para si mesma. Será que ambas não se tocavam que as pessoas notavam o quão prosaico aquilo parecia?
- Estamos atrasados, Sebastian. - Chamou a atenção do enteado assim que o viu descer as escadas, também pronto, e encarando Aurora que ainda não estava adequadamente vestida.
- Podem ir na frente, as encontro lá depois. - Sebastian não se importava com regras de etiqueta. Se fosse ter que esperar a irmã se vestir, ele aguardaria. Se as demais não quisessem, que fossem na frente.
Lady Rose não estava disposta a esperar Aurora - pois ela não passava de uma ninguém naquele meio. E a sua tão adorada Marianne precisava estar lá quando os convidados fossem chegando, afinal, estava praticamente noiva de Louis.
- Certo. - Tomou o rumo da porta sem questionar. Estava feliz demais naquela noite para se importar com pormenores.
- Eu não me demoro. - Informou a irmã mais velha ao barão, indo sentido à escada.
- Fique tranquila, não estou com pressa. - Garantiu Sebastian, sentando-se numa poltrona e passando a contemplar o quão bela Heloísa estava.
Aurora desceu as escadas após seu vestido ser desamarrotado e cobrir o seu corpo. Lady Fleur colocara alguns botões de rosas amarelas bem discretas em sua extensão, o que o deixou ainda mais bonito. A manga ia até o pulso, os ombros ficavam de fora, a saia era rodada e a cintura estava bem marcada. Se colocasse uma capa atrás, seria digno de uma rainha.
Pensou em usar sua coroa, mas deixou para lá quando notou que precisaria mexer no penteado. Ela ainda era filha e irmã de um barão, então ninguém deveria estranhar aquilo.
Sebastian sentiu uma pontada de emoção quando a viu. Estava belíssima, e sabia que ela era, apesar do que os outros pensavam. Aurora parecia mesmo um raio de sol.
Tomou sua mão enluvada para descer os últimos degraus e não deixou de sonhar com o dia que ela se casaria. Por que sim, Aurora se casaria algum dia, nem que ele arrumasse um bom marido para ela em outro continente.
Sua irmã mais velha merecia ser feliz, e ele não ficaria satisfeito enquanto não a visse ser.
Pegaram a carruagem meia hora depois da partida de Lady Rose e sua filha. Elas certamente já estavam por lá cumprimentando os convidados como se aquela casa as pertencesse.
Quando chegaram, a música já soava. Sebastian colocara Aurora de um lado e Heloísa do outro e, juntos entraram na enorme mansão.
✝️ Edward ✝️
Edward tentava ler as escrituras sem sucesso. Não conseguia se concentrar em absolutamente nada.
O baile em sua casa - quer dizer, na casa de seu pai - aconteceria em três dias. Ouviu dele diversas vezes que, se ele não se sentisse bem com o barulho e movimento, poderia ir para outro lugar. Claro, como sempre, o duque estava querendo vê-lo bem longe dali.
Entretanto, Edward decidiu ignorar as tentativas do pai de não o deixar ficar. Aquela era a primeira vez desde que sua mãe morreu que haveria um baile naquela casa, e ele não queria perder. Lembrava-se de que sua mãe adorava planejar nos mínimos detalhes as festividades e receber os convidados de braços abertos.
Ela era tão doce e tão terna.
Ela fazia tanta falta.
Era como um elo que juntava a sua família. Era a perfeita descrição de lar. Kate amava seus filhos igualmente, mas Edward era o mais especial para ela, pois fora descartado pelo pai desde o nascimento, dando-a a missão de cria-lo basicamente sozinha por causa do afastamento amoroso do marido.
Edward sentiu mais do que ninguém a sua partida e sua vida havia virado um caos. Ele se viu sozinho ali, sem ter para onde ir ou quem recorrer. Às vezes ficava na casa de Sebastian, mas logo que o luto passou - o que não demorou muito - o duque decidiu que ele viraria clérigo e iria estudar num convento.
Todavia, Eddie não gostaria de ser padre. Não queria estudar e muito menos morar no convento. Tudo o que ele queria era ser tratado como um igual, como um Thompson. Mas isso nunca aconteceu. Ele era um parasita em sua própria casa.
Não foi à toa que sentiu a dor de Aurora no exato momento que a menina confessou sua tristeza. Ele a entendia perfeitamente. Ele sabia também que ambas as confissões - a dele e a dela - nunca antes haviam saído de suas bocas tão sentimentais daquele jeito. O que sentiam podia ser visto por qualquer um. O desprezo estava não só no olhar, mas nas atitudes e na voz.
Felizmente, como um estudante clérigo, ele aprendera a perdoar e relevar coisas que uma pessoa comum não aguentaria. Aprendeu a se calar e deixar a fúria do pai sair boca afora e não guardar mágoas.
Contudo, às vezes gostaria de ter como lembrança uma única vez em que o patriarca Thompson o dissera que o amava. Ou até mesmo um mínimo elogio sequer.
Mas não. Nada saía de seus lábios a não ser críticas que não eram nem um pouco construtivas.
Quando deu por si, o relógio batera as duas da tarde. Não havia almoçado pois estava perdido em seus pensamentos, e não sentia fome alguma por ter acordado tarde e tomado um bom café.
A noite anterior fora curiosamente divertida. Todos os outros bailes contaram com a presença da senhorita Marianne Rose, noiva de seu irmão, e a baronesa, mas não a de Aurora.
E Aurora era uma figura muito peculiar, que Edward gostaria de ver mais vezes nos bailes, nem que fosse de longe.
Entretanto, tinha conhecimento de que ela não ia sem a presença do irmão. Ficou triste por algum tempo pensando em seus olhos debulhados em lágrimas, até se tocar de que estava pensando demais numa garota.
Ele não podia pensar em garotas. Ou desejar garotas. Ou qualquer pessoa que fosse.
Sabia que alguns estudantes não se importavam em ter amantes antes de virarem padres - ou até mesmo depois. Sabia que ele poderia fazer igual, mas preservou-se de alguma maneira misteriosa que nem ele mesmo sabia explicar.
Na verdade, homens tem a companhia do pai ou do irmão mais velho ao descobrir tais coisas. Edward não tinha sequer um amigo por perto para cair na farra, ir em cabarés, bares ou até mesmo visitar as damas escandalosas depois da ópera.
Todavia, ele não se importava com isso.
A única coisa que ele concordava cem por cento dos textos bíblicos era a santidade de um casamento. Sabia que era uma visão romântica até demais, mas adorava a ideia de duas pessoas fiéis uma a outra até o final da vida.
Lembrava-se, com tristeza, que isso não aconteceria com ele, no entanto. Ele não teria alguém que o amasse para todo o sempre ao lado. Estava fadado à solidão, então ele seria mesmo sozinho.
Pensou que pudesse ter uma amante enquanto padre. Pensou em Aurora - com aqueles belos cabelos escuros que o faziam estremecer numa lembrança erótica do passado - mas isso era tão vulgar que ele mesmo se penitenciou com vários ave-marias e pais-nossos até se esquecer dessa ideia estapafúrdia. Se Sebastian pudesse ler esse pensamento seu, certamente afundaria sua cara em socos bem dados.
Mas como esquecer alguém que parecia tão doce e tão injustiçada ao mesmo tempo? Como ignorar aquela moça que compartilhou consigo um sentimento tão igual ao dele.
Estava mexido por dentro, não sabendo se encaixava seus sentimentos entre a amargura e a compaixão.
Decidiu que teria uma conversa com Louis sobre Aurora posteriormente. Se fora ele que a descartou sem nem pensar duas vezes, ao menos a ajudasse a encontrar um bom marido que a colocasse numa boa posição na sociedade. Não poderia permitir que a ignorassem dessa forma.
Louis, para a surpresa de Edward, o convidou para uma cavalgada ao se deparar com seu pai tendo ataques de fúria com os empregados. Sabia que sobraria algo para o irmão se continuassem por ali.
Quando isso acontecia era melhor se afastar.
Estavam longe, perto de um bosque ao longo de uma lagoa em silêncio enquanto contemplavam o sol abaixar e formar um crepúsculo. Estava ficando muito tarde, e precisavam voltar antes que a noite caísse.
- Não sei como aguenta estas vestes pesadas. - Louis reparou que o irmão vestia um conjunto nada bonito de calça, blusa manga longa e uma túnica - Parece sufocar.
- Às vezes sufocam, mas estou acostumado. - Esclareceu Edward. - Louis, gostaria de falar sobre um assunto em particular.
O irmão o encarou surpreso. Ele e Edward nunca trocaram palavras que não fossem fúteis.
- E o que é?
- Marianne e Aurora. - Edward engoliu em seco antes de continuar. - Quero saber porque não escolheu se casar com a primeira filha dos Rose. Ou se ao menos tivera essa possibilidade e a descartou.
Louis parou o cavalo por um segundo antes de falar. Na verdade, nem ele sabia exatamente o que havia acontecido.
- A mão de Marianne fora me oferecida primeiro, pelo que me lembro. - Esclareceu, tentando se recordar de algo que acontecera a três ou quatro anos atrás. - A senhorita Rose nem apareceu na conversa.
- Conversa esta guiada pela baronesa, suponho. - Edward chutou.
- O barão havia acabado de morrer quando fiquei sabendo do acordo. - Louis afirmou, encarando o irmão que quase o censurava. - O que foi? Crê que está errado?
- Obviamente está. Deveria se casar com a irmã mais velha.
- Ora essa, Edward. - Louis sorriu incrédulo. - Marianne é adequada e estou satisfeito.
Edward fitou o irmão um pouco mais severo naquele momento e Louis sabia que nunca havia o visto daquela maneira.
- O que quer dizer com isto?
- Não é óbvio? - A voz de Louis era mais grossa, mas estava quase fina agora. Sentiu-se pressionado pela firmeza do irmão.
- Não para mim. - Eddie argumentou. - Poderia me explicar?
Louis voltou a dar trote no cavalo, sendo acompanhado por Edward logo ao seu lado.
- Aurora é... quer dizer, não é. - Atrapalhou-se um momento. - Não é tão bonita, ou tão doce e delicada como Mary. Parece Sebastian. Tem uma risada escandalosa e vulgar.
Aquilo era ridículo. A risada de Aurora era feliz, verdadeira, não algo forçada para agradar os outros.
- Srta. Rose é tão bela quanto Marianne, Louis. - Edward afirmou, tentando ser a voz da consciência naquela conversa. - É diferente das outras, claro, mas tem a mesma beleza deste crepúsculo. Ou vai me dizer que não o agrada?
Louis instintivamente olhou para o céu e o viu sendo banhado por uma cor laranja e dourado intenso.
- Eddie... - Louis sorriu com uma incredulidade quase palpável. - Está interessado na Srta. Rose?
Essa poderia ser a única conclusão plausível para ele.
- Claro que não! - A voz de Edward, sempre tão pacifica, se alterou mesmo que minimamente, observou Louis. - A conheci na noite de ontem, e apenas me recordei que ela é a mais velha.
Louis deu meia volta e passou a fitar o rosto do irmão mais novo. Ele estava sempre igual, sempre paralisado numa feição pacífica. Contudo, agora parecia confuso e cheio de curiosidade no olhar.
- Eu sei quando um homem está interessado em uma dama, não minta para mim. - Exigiu.
Louis assistiu a boca do irmão se abrir e fechar por alguns instantes sem resposta, e se não fosse pelo tom avermelhado que o tempo atingia agora, podia jurar que as bochechas de Edward também estavam dessa cor.
Louis sorriu. Afinal, Eddie não era tão santo assim.
- Eu apenas acho uma injustiça. - Tentou se justificar. - Como você mesmo disse, ela não foi nem cogitada. Por que as pessoas agem como se ela nem existisse?
- Conseguiu tirar todas essas conclusões em apenas uma noite? - Ironizou o mais velho.
Edward permaneceu calado.
- Certo. - Suspirou Louis. - Mas o que quer que eu faça? Toda a sociedade sabe do meu envolvimento com Marianne. E realmente não sei o que aconteceu naquela época, apenas fui informado que me casaria com a senhorita Rose e pronto. Eu não contestei, apenas aceitei. Sabe como papai é.
Edward não chamava o duque de papai. Nem mesmo quando era criança. Levou uma bofetada na boca quando chorou indo em sua direção aos três anos, machucou os lábios e aprendeu que ele não gostava de ser chamado assim. Daí por diante, a pedido da mãe, referia-se a ele em voz alta como duque, apenas.
- Sei. - Falou algum tempo depois amargurado por mais uma lembrança. Estas estavam vindo mais à tona, saindo para a sua superfície, depois que ele e Aurora conversaram sobre suas famílias. - Ao menos poderia fazer algo por ela. Pois eu certamente não posso.
Louis notou a angustia na voz do irmão. Dessa vez saiu claro. Será que ele se casaria com ela se pudesse?
- Tipo o quê? - Quis saber.
- Talvez... - suspirou ele, pensando no que a faria feliz. - Uma dança com ela no baile. Chamaria a atenção para mais pretendentes. Apresente-a a algumas pessoas e deixe que o resto aconteça. Só não a ignore, ela não merece isso.
Louis sentiu-se irremediavelmente compadecido por Aurora, assim como Edward. Talvez o irmão tivesse razão. Uma dança, um minuto de atenção e algumas apresentações poderia fazer milagres na vida daquela menina tão apagada.
Contudo, pode sentir uma fisgada de compadecimento para com seu irmão também. Sabia que, como padre católico, Edward devia se atentar aos problemas dos seus fiéis e se solidarizar com eles. Entrementes, entendeu que não era apenas um sentimento de piedade o que ele estava sentindo por dentro.
Talvez Edward amasse Aurora. Mas como? Seria possível alguém se apaixonar em apenas uma noite e algumas palavras trocadas?
Louis achava que não.
Edward, no entanto, tinha suas dúvidas.
Edward estava contente por conseguir ter uma conversa amigável com seu irmão. Ora, desde que sua mãe morrera, não falava com ele coisas além de amenidades.
Acreditava que Louis, diferentemente dele, não se importara com tal evento. Talvez um equívoco de sua parte, mas desde que a duquesa morreu, Louis não tocara mais no nome dela.
Não sabia se seu irmão mais velho guardava alguma mágoa da mesma, pois desde que ele nasceu, os dias de sua mãe foram dedicados a si. Afinal, o pai não o quis.
A quinta feira passava arrastada, agitada pelos empregados indo e vindo ocupados com os preparativos do baile, mas ainda assim parecia ter o dobro do tempo.
Estava um pouco ansioso e não conseguia imaginar o porquê. Tentou ocupar a mente lendo ou estudando, mas nada conseguia prender a sua atenção por mais de dez minutos.
Almoçou ao lado do pai e de Louis em silêncio. No geral, não se sentava à mesa com eles, pois em quase toda a temporada o duque estava de viagem. Depois que voltou, no entanto, fez não só da sua vida um inferno pessoal, mas a de todos os que habitavam ao seu redor.
Edward não sabia onde ele fora em suas viagens, mas certamente havia voltado furioso. Sabia que as questões financeiras não eram nem um pouco preocupantes, então descartou a possibilidade de ele estar chateado com isso.
Na verdade, seu pai era um homem ganancioso. Quanto mais tinha, mais ele queria, e não media esforços para conseguir. Um homem de palavra, mas um homem cruel que tratava os habitantes de Alexandria como porcos.
Após o chá da tarde, Edward sentou-se no jardim para contemplá-lo. As flores estavam sendo regadas e o cheiro de terra molhada o agradava.
Lembrou-se imediatamente de Aurora.
Aliás, nunca deixara de pensar nela. Nem que fosse por um resquício de tempo, um lampejo que ele logo tratava de afastar, mas ele estava sempre com a cabeça sendo ocupada por aquela garota desde o dia que a conheceu.
Engoliu seco, desejando um copo de água para a garganta fechada se molhar, mas não se levantou da cadeira. Procurar coisas para fazer apenas para espantar seus verdadeiros e insistentes pensamentos não estava adiantando de nada.
Deixou-se levar pela lembrança. Aquela menina era mais dona do sobrenome Rose do que qualquer um dos sobreviventes. Tinha flores adornando suas vestes e uma no cabelo, amava o cheiro delas, cheirava como elas.
Depois que se adentraram de volta ao salão naquela noite, Edward notara que nenhum cavalheiro havia pedido para dançar com ela. Nenhum sequer.
Mesmo quando teve sua atenção voltava a Louis novamente, não deixara de reparar. Ela ficava no canto, sozinha, sem ter com quem conversar e bebendo limonada com os olhos vazios.
Julgou as pessoas tolas por não a enxergar ali. Afinal, ela era bonita, solteira e uma moça de família. O que mais queriam?
Edward suspirou. Estava dando importância demais para alguém que mal conhecia. Vira Aurora uma vez.
Uma única vez.
Não era possível que sua lembrança tomasse conta de si por tanto tempo. Ele havia gostado dela, seria uma boa amiga, mas nada além.
✝️
Edward acordou na sexta-feira ouvindo passos apressados do lado de fora do seu quarto. Colocou um robe antes de abrir as cortinas da janela, e pode ver a entrada da casa com imensos vasos de flores em fileira junto ao tapete vermelho que fora forrado no chão.
Tudo parecia como antes. Se concentrasse por um minuto, podia ouvir a voz de sua mãe dando ordens aos serviçais aflita para estar impecável antes da noite cair. Um sentimento de nostalgia tomou o seu corpo, e ele não pode deixar de sorrir tocado por ele.
Enquanto a noite ia caindo, inúmeras velas iam se acendendo. O jardim estava iluminado por lampiões por toda a parte.
As mesas iam sendo cobertas por taças e mais taças de bebidas. Um lustre candelabro de quase dois metros de largura fora colocado acima de suas cabeças, com mais de cento e cinquenta velas.
Havia chovido na noite anterior e o dia estava agradável. Ainda assim sentiu um calor tomar seu corpo quando tocou a pesada veste que havia escolhido vestir.
Não se sentiu bem. Sabia que tinham respeito pela sua figura quando notavam que ele era alguém religioso, mas sequer perdiam tempo conversando com ele. Ninguém trocava mais de duas palavras com um clérigo num baile, possivelmente por medo dos seus pecados serem escancarados em público.
Além do mais... ele pensou que, talvez, se se vestisse normalmente naquela noite e ficasse perto de Aurora, alguns cavalheiros pudessem se interessar por ela. Afinal, não era assim que acontecia? Todos os outros queriam ter domínio de algo que não lhes pertence.
Não que Aurora o pertencesse. Mas este ato a ajudaria, caso Louis se esquecesse de sua promessa.
Tomou rumo ao quarto do irmão decidido.
- Louis? - Edward chamou, batendo à porta. O irmão já estava quase pronto.
- Pois não?
- Pode me emprestar um desses... - Edward encarou a sua roupa. Ele trajava todo de preto. - Smokings.
Louis fitou o irmão surpreso.
- Ora, e para quê? - Questionou confuso. - Não se vestirá de papa nesta noite?
Edward ignorou a brincadeira.
- Pode ou não? - Indagou.
Louis deixara o ar cômico de lado e passou a observar o irmão de cima a baixo.
- Você é mais alto do que eu. - Explicou, chegando mais perto dele. - Uns cinco centímetros ou mais.
- Tenho calças, apenas preciso de uma blusa, gravata, terno... enfim. - Esclareceu.
- Certo. - Louis entendeu, dando meia volta. - Me acompanhe, então.
Edward o acompanhou até seu quarto de vestir. Ele tinha muitas peças, muito mais do que o clérigo podia imaginar. Talvez Louis fosse tão vaidoso quanto uma mulher em relação a repetir vestimentas.
- Certo, deixe-me ver se tenho algo que o sirva. - Passou suas mãos pelos paletós de variadas cores. - Você me parece um pouco magro, talvez fique largo. Tire essa túnica e experimente este.
Louis entregou um preto a ele acompanhado de camisa branca e um colete bege. Sabia que o irmão gostava de cores sóbrias, nada colorido ou chamativo.
Edward usava túnicas largas ou batinas porque costumava ganha-las do mosteiro. Ele não as escolhia, apenas aceitava de bom grado das velhas freiras que costuravam no convento.
Quando retirou a peça e logo após a camisa, Louis espantou-se pelo seu corpo. Edward não era fraco como parecia, na verdade, tinha braços tão fortes quanto os seus.
- Ora essa, como conseguiu estas coisas? - Questionou, flexionando seus próprios músculos e enrijecendo-os como exemplo aos braços do irmão. - Você luta com os monges?
Edward olhou para ele e depois para si mesmo.
- Não, claro que não. - Riu por um momento enquanto colocava a camisa. - Faço trabalhos braçais que exigem muito esforço. - Esclareceu, assistindo o irmão franzir a testa. - Não sei se sabe, Louis, mas há muitas coisas num mosteiro que precisamos fazer por conta própria. Como, por exemplo, pregar camas, arrumar armários, mudar as coisas de lugar, varrer e limpar o chão, cuidar do jardim, das roupas, carregar móveis... Há, inclusive, uma marcenaria nos fundos que eu e mais algumas pessoas trabalhamos como hobby. Deve ser por isso.
Louis cogitou começar a fazer tais coisas ao invés de ir treinar boxe com o seu personal. Afinal, não receberia um soco no rosto por ter que levantar uma cama e ainda assim ganharia corpo.
Afastou esse pensamento quando viu que as vestimentas caíram perfeitas em Edward. Na verdade, ele ficava muito bem daquele jeito. Se pudesse dar um conselho, diria a ele para se vestir assim mais vezes.
- Ficou muito bom. - Admitiu, entregando-lhe duas gravatas para ele escolher qual preferia.
Edward escolheu a branca. Ficaria ainda mais harmonioso.
- Acha que o duque ficará nervoso quando me vir assim? - Questionou o mais novo, lembrando-se finalmente de seu pai e seus motivos banais para chutá-lo como se fosse um cachorro naquele instante.
- Se ele brigar, finja que não ouviu. - Desbravou Louis. - É o que faço.
Edward achava que Louis e seu pai tinham uma boa convivência. Nunca vira o irmão reclamar nada sobre ele. Contudo, ao observar mais a fundo nos últimos dias, concluiu que estava errado. O duque era um homem difícil de lidar até por aquele que tinha ótima estima.
Mesmo sendo o herdeiro do seu título e futuro dono de quase tudo, Louis havia aprendido que seu pai era um homem cruel até mesmo com ele. Na verdade, Louis sentia que ele não esperava nada além da perfeição, não se importando com seus sentimentos.
Edward achava que precisava conversar mais com o irmão. Havia um sentimento mútuo de fadiga entre os dois que ele ainda não sabia explicar. Apenas imaginava que o duque era o culpado disso.
A música começou a soar no salão. Os músicos estavam testando os instrumentos, e se ele não corresse iria se atrasar em sua própria casa. Saiu do quarto do irmão e fora para o seu escolher uma calça apropriada, pois gostaria de receber os convidados à porta junto com os outros.
Marianne e a baronesa, é claro, foram uma das primeiras a chegar. Contudo, nem Aurora e nem Sebastian estavam com elas. Chegaram sozinhas e muito ansiosas, por sinal.
Em menos de meia hora a casa estava cheia. Era muito grande, todavia muitas pessoas foram convidadas naquela noite - inclusive algumas famílias de baixa renda.
Louis colocara Marianne ao seu lado enquanto cumprimentava quem chegava, seu pai estava mais à frente, quase na porta, e Edward atrás.
Alguns olhares o encararam mais profundamente naquela noite enquanto cumprimentava dando-lhes boas-vindas. Sorriam para ele como se fosse a primeira vez que o vissem.
Dera-se por vencido após Lady Rose, Marianne e Louis se afastarem para o meio do salão. Provavelmente Aurora não viria.
Edward sentiu-se frustrado. Passara os últimos dias pensando em como ajuda-la, para quem sabe poder descansar a sua mente da sua presença constante. Achava que se arrumasse alguém para Aurora ele cumpriria com um dever que dera a si mesmo.
Dez minutos depois, um copo de limonada estava em sua mão enquanto ouvia a baronesa conversar animadamente com seu irmão e pai. Ficara calado para não ter que sobressair suas opiniões contraditórias, mas sentia dentro de si uma repulsa nova perante aquela mulher.
Ela era bela e cruel, como seu pai. Não sabia exatamente o porque ele ainda não havia se casado com ela. Eles combinavam.
Louis chamou a sua atenção num momento de devaneio e apontou para a porta. Aurora chegava acompanhada de Sebastian e outra dama.
Ela trajava amarelo. Um vestido sublime que adornava o seu corpo que parecia um pouco mais seguro e delicado do que antes. Ela sorria levemente.
Estava belíssima.