A Casa Dos Desprezados
img img A Casa Dos Desprezados img Capítulo 5 O Vestido Amarelo: Parte II
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Capítulo 6 Fogos de Artifício img
Capítulo 7 A Casa de Campo - Parte 1 img
Capítulo 8 A Casa de Campo - Parte 2 img
Capítulo 9 Fervendo por Você img
Capítulo 10 Momento de Fraqueza img
Capítulo 11 Sentença img
Capítulo 12 O Preço do Pecado - Parte I img
Capítulo 13 O Preço do Pecado - Parte II img
Capítulo 14 Humilhação Assistida - Parte I img
Capítulo 15 Humilhação Assistida - Parte II img
Capítulo 16 O Tormento da Espera: Cartas, Decisões e Um Golpe do Destino - Parte I img
Capítulo 17 Cartas, Decisões e Um Golpe do Destino - Parte II img
Capítulo 18 A Trágica morte de Louis e Phillip img
Capítulo 19 Surge o Novo Duque de Alexandria img
Capítulo 20 Reencontro img
Capítulo 21 Irmandade img
Capítulo 22 Fazendo as pazes com o barão img
Capítulo 23 A Escolha do Duque - Parte I img
Capítulo 24 A Escolha do Duque - Par img
Capítulo 25 O Casamento de Sebastian e Heloísa img
Capítulo 26 Os Corpos Cedem Quando o Amor fala Mais Alto - Parte I img
Capítulo 27 Os Corpos Cedem Quando o Amor fala Mais Alto - Parte II img
Capítulo 28 Interrupto - Parte I img
Capítulo 29 Interrupto - Parte II img
Capítulo 30 Veneno De Cobra Burguesa - Parte I img
Capítulo 31 Veneno De Cobra Burguesa - Parte II img
Capítulo 32 Veneno De Cobra Burguesa - Parte II img
Capítulo 33 Em Busca de Uma Solução - Parte I img
Capítulo 34 Em Busca de Uma Solução - Parte II img
Capítulo 35 O Último Beijo da Madrugada - Parte I img
Capítulo 36 O Último Beijo da Madrugada - Parte II img
Capítulo 37 Desalento - Parte I img
Capítulo 38 Desalento - Parte II img
Capítulo 39 Uma Fuga Romântica - Parte I img
Capítulo 40 Uma Fuga Romântica - Parte II img
Capítulo 41 Noite de Nupcias img
Capítulo 42 O Casamento de Edward e Aurora - Parte I img
Capítulo 43 O Casamento de Edward e Aurora - Final do Livro I img
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Capítulo 5 O Vestido Amarelo: Parte II

🌹 Aurora 🌹

Aurora suspirou antes de botar os pés naquela mansão. Parecia um castelo de tão grande, mas sabia que era em Alexandria que estava a maior construção daquela família.

Tratou de colocar um sorriso no rosto antes de entrar. O salão ficava antes do jardim numa descida de escadas de muitos degraus, onde se podia ver tudo o que acontecia de cima.

Conseguiu ver Louis e Edward na multidão ao lado de Marianne, Patrícia e o duque. Ambas cabeças se voltaram para eles enquanto desciam as escadas com bastante cuidado para não tropeçarem.

Não deu atenção para o rosto de sua madrasta. Possivelmente ela estava soltando fogo pelas narinas, porque ela sempre estava fazendo isso, não importa a circunstância.

Todavia, era o rosto de Edward que acometeu a sua visão. Quase não o reconheceu, pois estava de smoking – ainda mais bonito do que no baile anterior. Seus cabelos castanhos penteados para trás, um sorriso dócil nos lábios e um brilho espetacular em seus olhos.

Ele a encarava da mesma maneira – ou será que era pura imaginação dela?

Assim que seus pés pousaram no chão Louis veio de encontro primeiro para cumprimentar Sebastian.

- Perdoe-nos pelo atraso. – O barão pediu após a saudação de Louis. Edward veio logo atrás dele. – Edward.

Sebastian e Edward se cumprimentaram num aperto de mão e um sorriso enquanto Louis pronunciava que estava perdoado o atraso.

- Senhorita Rose, está um encanto. – Aurora ouviu Louis cumprimenta-la. Por um segundo duvidou que ele se dirigia a ela, mas sentiu-o tomar sua mão e os lábios dele tocar os nós dos seus dedos na luva fina.

- Obrigada. – Sorriu um pouco mais feliz pelo elogio. Mas logo apagou de seus lábios quando viu Mary encarando-a nem um pouco feliz.

- E esta senhorita, quem é? – Louis observou Heloísa, e tomou sua mão da mesma maneira.

Enquanto isso os olhares de Aurora e Edward se cruzaram e estacionaram um no outro com a mesma admiração. Ele estava esplêndido naquelas vestes, e ela poderia ser confundida com uma princesa se usasse uma coroa.

Edward sorriu e abaixou a cabeça em reverência, sendo cumprimentado da mesma forma por ela.

- Esse é o Edward? – Heloísa perguntou baixinho no ouvido da amiga, retendo a sua atenção.

Aurora apenas afirmou discretamente com a cabeça.

- Uau. – Deixou escapar a loira, tentando disfarçar abanando-se delicadamente e virando o rosto para a multidão. – Céus, onde consigo essa grata beleza?

Aurora riu.

- Do pai, provavelmente.

Heloísa encarou o duque, que mal fazia questão de cumprimentar o resto da família Rose.

- Realmente. Tão belo quanto mordaz.

- Senhorita Rose. – Louis chamou a atenção dela novamente, tirando-a do transe que era a conversa com Heloísa. – Está com o cartão de dança?

Aurora fitou-o confusa.

- Sim senhor. – Afirmou, mostrando a ele o papel vazio de assinaturas.

Louis pegou-o para si, retirou uma caneta de seu bolso e escreveu o seu nome nele, reservando uma dança. Marianne ficara boquiaberta.

- Espero que não se incomode com a minha falta de jeito. – Advertiu num sorriso. - Senhorita Grace, permita-me? – Também puxou o cartão dela, assinando-o para uma dança após Aurora.

Edward sentiu-se feliz pelo irmão cumprir com o trato.

Quando Louis, Marianne e a baronesa se afastaram – as duas sem dar um pio sequer - sobraram apenas Sebastian e Edward conversando. Heloísa ainda o encarava analisando-o, mas Aurora queria fingir que sua presença não a encantava também.

Passou a observar, como sempre fazia, os casais dançando no meio do salão. Estavam muito animados e muito bem vestidos. Distraiu-se ao notar Marianne e Patrícia nervosas num canto, cochichando sobre alguma coisa que ela poderia jurar ser sobre si mesma.

- Quer uma limonada? – Ouviu a voz suave e calma de Edward ao pé do seu ouvido e sentiu-se arrepiar as pernas.

- Perdão? – Virou-se para ele, dando-lhe toda a sua atenção.

- Perguntei se quer uma limonada.

Heloísa e Sebastian haviam se afastado, deixando-a só num canto, e estavam indo em direção à mesa de bebidas de braços dados.

- É claro. – Aurora aceitou o braço de Edward com um sorriso amável nos lábios.

- Então essa é a famosa Heloísa? – Questionou o clérigo, assistindo os passos do barão com a loira ao lado.

- A própria. – Assentiu Aurora. – Ela não é muito discreta, mas uma boa amiga.

- Por falar nisso, achei que estava nu quando ela me encarou. – Edward admitiu, sentindo o rosto queimar.

Aurora riu.

- Perdoe-a, é uma moça humilde que se deslumbra facilmente. – Proferiu. – Não é à toa que somos melhores amigas.

Edward sorriu para ela, feliz por ter mais uma companhia naquela noite. Desejava, mais do que tudo, que a festa não fosse desagradável para senhorita Rose como a da casa dos Bright.

Chegaram à mesa e pegaram dois copos.

- Sua casa é adorável. – Aurora disse mais para tirar a atenção de Edward que assistia Heloísa encarando-o novamente como se ele fosse um alienígena. Ela iria pagar por isso depois. Decerto Edward entendeu que fora motivo de assunto entre as duas em algum momento.

- Não é minha, mas obrigada. – Ele lembrou um pouco receoso em parecer rude com aquela resposta. – No entanto, fora decorada por minha mãe. Ela tinha um ótimo gosto.

O salão era todo composto por cores alternadas entre o branco, vinho, preto e dourado.

- Não me recordo de ter visto a feição de sua mãe em algum quadro. – Admitiu Aurora. Ela não tinha ideia de como a duquesa se parecia.

- Há uma pintura dela um pouco antes da biblioteca. – Eddie lembrou, suspirando. Não haviam muitos retratos dela pela casa, e se pudesse, pediria para pintar mais alguns, mesmo que em poses inventadas e uma imagem falsa. – Deseja ver?

Aurora fitou-o um pouco apreensiva. Sim, ela gostaria de ver. Mas ir até lá significava ficar a sós com Edward novamente, e naquela altura, algumas pessoas notariam o seu sumiço.

Não que isso não tivesse acontecido em outra noite. Mas nesta Edward estava diferente. Não parecia um padre, mas sim um cavalheiro comum conversando com uma dama solteira. Sabia que a única diferença eram suas vestes, todavia, ainda assim, a visão de qualquer pessoa sobre eles seria diferente.

- Ah, claro. – Aurora não conseguiu dizer não. Na verdade, não queria mesmo dizer. Passar algum tempo com Edward longe do barulho era muito agradável e ela podia ouvir sua voz com mais clareza. Decidira não se importar com o que os outros pensariam.

Edward levantou o braço para passar a sua mão. Iam saindo da presença de Sebastian sem comunica-lo, mas foram interrompidos pela chegada de Louis repentinamente.

- Senhorita Rose. – Louis postou-se à frente deles sem se importar se estava atrapalhando algo. – Receio que a próxima dança será comigo.

Edward engoliu em seco e sentiu uma pontada no coração que nada tinha a ver com dor física. Parecia remoer por um segundo, quando lembrou que ele mesmo havia pedido ao irmão que fizesse isso.

- Ah, sim. – Aurora tentou sorrir, mas estava um pouco nervosa diante aquela situação. – Com licença, Sir Thompson.

Edward a soltou com pesar. Não que não gostaria de vê-la dançar com seu irmão, mas gostava de sua companhia. Sentiu-se um pouco egoísta por esse pensamento, e pediu perdão a deus em silêncio.

- Papai não gostou nada dos seus trajes. – Cochichou Louis e riu para ele antes de sair de sua presença. – Está praguejando-o.

Obviamente aquilo iria acontecer. Mas ele não se importava.

Aurora e Louis foram para o meio do salão. Algumas pessoas se afastaram deles, sendo tomados pela curiosidade. Louis quase nunca dançava. Quando fazia, era com Marianne, Lady Rose ou alguma senhora mais velha que ele tinha grande estima.

Sentiu-se um pouco nervosa quando viu muitas cabeças voltadas para si e alguns cochichos. Mais ainda após enxergar sua madrasta encarando-a como se quisesse mata-la na primeira oportunidade.

Louis segurou-a em seus braços fortes, passando uma de suas mãos pela cintura até estacionar em suas costas. Deu um sorriso sedutor que provavelmente faria Aurora se derreter toda se não estivesse nervosa demais para isso.

Engoliu em seco e conseguiu ver Edward fitando-a. Ele deu um meio sorriso para ela, como se quisesse confortá-la antes da dança começar.

Louis era muito alto – não tanto quanto Edward – mas era difícil se locomover com ela sendo tão mais baixa. Tiveram um pouco de dificuldade no início, mas pegaram um jeito mais lento que se encaixou perfeitamente entre eles.

O nervosismo foi passando aos poucos e ela conseguia sorrir para ele, que retribuiu com um charmoso sorriso logo após.

A música demorou cerca de cinco minutos para acabar. Não coube conversa, pois estavam concentrados em não pisar nos pés um do outro. Contudo, Louis, que já havia rodado todo o salão com Aurora em seus braços com troca de pares, fora de encontro com um dos casais sem querer.

Ambos se desequilibraram, e ele não pode deixar de segurar Aurora firme contra si antes que a mesma desabasse no chão por sua culpa. Ele havia se empolgado demais nos passos difíceis e só não caiu também por ter conseguido recuperar o equilíbrio ao segurar a menina.

- Você está bem? – Questionou ele, sentindo o corpo dela firme no dele.

Aurora engoliu em seco e apenas respondeu com um aceno de cabeça.

Louis começou a rir de si mesmo logo após. Soltou Aurora quando sentiu sua barriga roçando num lugar muito íntimo do seu corpo.

Ela o acompanhou nas risadas, um pouco constrangida, mas não pode deixar de sentir graça. Louis viu que Edward estava certo quando disse que ela era tão bonita quanto o crepúsculo daquela tarde.

Aurora não pode deixar de observar os olhos profundamente azuis de Louis brilhando para ela, ou em como seus braços eram fortes ao segurá-la. Aquele momento parecia surreal, sublime, diria.

Entrementes, sua atenção fora tomada por um esbarrão repentino e um pouco de líquido que caíra em seu vestido.

Edward, irmão de Louis, estava ensopado de champanhe, e a culpada por isto fora ninguém mais, ninguém menos que sua madrasta.

✝️ Edward ✝️

Edward passou a observar o irmão prestes a dançar com a garota que ele estava, digamos que, encantado. Tentou mudar essa definição dentro de si, mas cansou de lutar contra verdades internas.

Ele estava mesmo encantado. E sentia uma pontada no peito por causa da situação atual.

Engoliu em seco mesmo sentindo a boca úmida, e tratou de colocar um sorriso no rosto quando a mesma o fitou um pouco apreensiva. Ela deveria fazer aquilo, estar ao lado de Louis era seu direito.

O irmão parecia contente. Claro, Aurora brilhava naquele vestido, e poderia muito bem ser uma duquesa estimada caso tivesse a oportunidade.

A dança começou e eles rodavam o salão.

Edward nunca dançou com ninguém além de sua mãe. Lembrou-se do seu último baile aqui. Não importava se Edward era apenas uma criança, ela sempre o pegava antes de todo o mundo e saia rodopiando com ele. E ele amava isso.

Desde então, nunca mais teve a honra de mexer seus pés numa valsa com alguém porque, como sabem, não era bem visto.

Lady Rose os encarava com tanta amargura no olhar que lhe causava arrepios na espinha. Parecia o próprio diabo encarnado e tramando algo. Ele passou a observá-la, curioso, pensando no que poderia estar se passando na cabeça dela.

Merecia umas boas horas de penitência, caso ele tivesse a chance. Sabia que havia tanto ódio dentro de si que levaria anos pedindo perdão.

A música terminou deixando o ambiente alegre, e Edward não pode deixar de rir da confusão entre Louis e Aurora com o outro casal. Estavam mais próximos dele agora, mais ou menos cinco passos, quando ele notou Lady Rose passar quase numa rajada de vento feroz.

Aurora sorria para Louis, e Louis para ela. Claro que isso despertaria ciúmes.

De repente, num raciocínio quase imediato, Edward deu passos largos e se colocou entre Aurora e Lady Rose. Achava que a senhora iria puxá-la pelo vestido e a humilhar em público, possivelmente proferir palavras desgostosas para a enteada e gostaria de evitar que isso acontecesse.

Porém, Edward sentiu os trajes que Louis o havia emprestado sendo encharcados pelo champanhe da taça da baronesa e o líquido escorrer um pouco no vestido de Aurora também.

- Oh! – Balbuciou Lady Rose. – Perdoe-me, ah... Reverendo. Que desastre.

Edward fitou aquela jovem senhora com fogo nos olhos, coisa que não era comum. Primeiramente por não se lembrar do nome dele, segundo por chama-lo de reverendo sem ele ser, e em terceiro por despejar champanhe nele – que era para ser em Aurora, lembrou, com mais fúria ainda.

- Que bagunça, Edward! – Seu pai aparecera de repente, censurando-o sem ao menos ter feito nada.

- Não foi culpa dele. – Alertou Aurora, sem medo algum dos olhares fugazes.

- Certamente que não foi. – Edward se defendeu, encarando a baronesa esperando-a confessar.

- Não se joga a culpa numa dama, garoto. – O pai continuou a censurá-lo, deixando-o ainda mais nervoso.

- Mas fora Lady Rose que o atingiu. – Louis interveio para a surpresa de seu irmão. – Foi sem escrúpulos.

- Está me acusando, Lorde Louis? – Fingiu-se de ofendida. – Por que eu faria isso?

Louis e seu irmão olharam para Aurora brevemente sabendo exatamente o que teria acontecido caso Edward não interviesse.

- Vamos, chega! – Bradou Phillip, encarando os filhos nem um pouco feliz. – Está armando um escândalo, Edward. Nem deveria estar vestido nestes trajes. Nem deveria estar aqui. Faça o favor de retirá-lo.

Edward engoliu em seco e sentiu seus olhos marejarem. Aquelas frases não deveriam o surpreendê-lo mais, contudo o atingiam como um soco no estômago.

- Deixe de ser ranzinza. – Louis proferiu, deixando todos chocados dessa vez. – Está nervoso há dias sem motivo algum. Faça o favor de parar de descontar sua ira sobre os outros.

Louis e Phillip se encararam numa batalha silenciosa. Aurora permanecia calada, sentindo-se culpada por tudo aquilo, pois certamente a culpa não era de Edward.

- Não admito que fale comigo dessa maneira. – O duque segurou o braço de seu primogênito soltando fogo pelas ventas.

- Me deserda então. – Berrou Louis, obviamente carregado de mágoas desconhecidas por Edward. – Me faça esse favor. E esqueça que também existo.

Com um toque leve, Edward puxou Aurora para o canto, pois achou que em algum momento a garota iria desabar triste pelo caminho que sua dança com Louis havia tomado.

- Não se importe com eles. – Pediu, com a voz um pouco embargada. – O duque está impossível esses dias.

Edward tentou sorrir, mas falhou por um momento. Sentia uma dor maior agora tomando conta do seu coração.

Aurora notou o quão sensível aquele homem era. Parecia uma rocha na maioria do tempo, mas estava desabando por dentro.

- Não queria causar este transtorno. – Comentou, tocando discretamente nas vestes molhadas dele. Edward estremeceu ao mínimo toque de suas mãos.

Sebastian apareceu ao seu lado no momento seguinte. Aurora notou que a música ainda não havia recomeçado e as pessoas olhavam curiosas a discussão calorosa entre o pai e seu herdeiro.

- Você está bem? – Questionou o barão, passando os olhos de cima a baixo na irmã. – Se machucou?

- Não. – Admitiu Aurora. – Apenas me molhei um pouco. Mas Edward – apontou para sua camisa encharcada. – Ficou pior.

Sebastian encarou o amigo que estava visivelmente chateado ao lado da irmã. Vira a confusão de longe, e sabia que fora a madrasta a começa-la.

- Edward. – Louis afastou-se do pai, deixando-o falando sozinho. – Troque estas vestes. Tem muitas outras no meu quarto, pode pegá-las.

Louis se afastou e pediu para a banda continuar a tocar. As pessoas voltaram tímidas para a pista de dança.

- Onde posso me secar? – Aurora se dirigiu à Edward desejando um pano para sugar o líquido que ultrapassou seu corpete e incomodava frio na barriga.

- Eu a mostro. – Estendeu o braço para ela. – Você vem, Sebastian?

- Ficarei com Heloísa. – O barão comunicou, deixando que ambos saíssem do salão sozinhos.

Edward e Aurora subiram as escadas em silêncio. Estavam constrangidos, tristes, sentindo-se desprezados por parte de suas famílias. Ele ainda mais por causa da tristeza dela e ela, pela dele.

- Há um toilette no primeiro andar, logo depois da biblioteca. Pode tentar se secar mais tranquilamente. – Edward esclareceu, tomando rumo da próxima escada que levava mais acima.

- E onde fica o quarto de Louis? – Questionou Aurora sem imaginar que poderia parecer uma pergunta invasiva.

- No terceiro andar. – Edward sorriu, pensando em vê-la indo até lá para procura-lo. – Ah... – Por mais tentadora que fosse essa ideia, era melhor não deixar se levar por ela. – Me aguarde na biblioteca, e voltamos juntos. – Sugeriu ele.

- Claro. – Concordou Aurora sem pestanejar.

🌹 Aurora e Edward ✝️

O toilette era muito grande, quase tão grande quanto a cozinha de sua casa. Edward deixou Aurora lá e seguiu rumos as escadas.

Pegou alguns lenços e esfregou em seu corpete com movimentos rápidos. Seus dedos doeram com o esforço, até ela perceber que o fazia com raiva. Uma das flores que Lady Fleur prendera ali caiu no chão lentamente, sendo depositada no carpete felpudo em frente a um grande espelho.

Aurora encarou a sua imagem nele. Estava com uma feição desolada.

Não pode deixar de chorar após isso.

Ela havia se preparado com tanto cuidado para aquela noite. Desenhara seu próprio vestido, gastou tudo o que Sebastian a havia dado nele, ganhara atenção, afeto e bons sorrisos de Lorde Louis. Estava feliz até aquele momento. Estava radiante, na verdade. Pela primeira vez o homem que deveria se casar com ela a vira de verdade.

E tinha Edward. Não queria admitir, mas estava ansiosa para vê-lo novamente. Ele havia acendido nela uma vontade enorme de frequentar aquele baile, pois, mesmo que ninguém se desse o trabalho de lhe fazer companhia, ao menos ele estaria lá.

Quando deu por si, começava a soluçar. Sabia que Edward a entenderia se a visse naquele estado, mas não queria estar debulhada em lágrimas novamente quando o visse.

Então, com muito esforço, limpou-as e suspirou diversas vezes até parar. Beliscou as bochechas para conseguir algum rubor e apertou os lábios até o sangue colorir eles e saiu do cômodo decidida a não se deixar abater.

Quando Edward desceu as escadas após se trocar no quarto do irmão, encontrou Aurora encarando fixamente o quadro com o retrato de sua mãe pendurado antes da biblioteca.

- Você tem os olhos dela. – Admitiu Srta. Rose, sorrindo. – Na verdade, é mais parecido com ela do que com o duque.

- Eu sei. – Suspirou baixinho. – Às vezes eu a vejo em mim quando encaro o espelho por muito tempo.

Aurora voltou seu olhar para o dele. Edward era muito altivo e amável. Ele realmente parecia muito mais a duquesa do que o pai, e isso a agradou fortemente.

- Você sente muita falta dela, não é? – Questionou, assistindo os olhos dele tremeluzirem na luz das velas.

- Mais do que consigo exprimir. – Afirmou, deixando claro o quão penoso era aquele assunto.

Aurora desceu uma de suas mãos e fora de encontro com a dele. Segurou-a como se quisesse protegê-lo de algo – ou de alguém.

Edward a apertou firme sem pensar muito. Queria aquele toque mais do que podia admitir. Queria muitos toques mais se viessem dela. Poderia deixa-la explorar todos os cantos do seu corpo se fosse permitido.

- Eu sinto muito. – Exprimiu Aurora, feliz por Edward aceitar o seu toque e sentindo intensifica-lo um pouco mais.

- Já passou, não é? – Soltou suas mãos, voltando a virar uma rocha externa. – O tempo é uma dádiva. Nos cura de tristezas que parecem infindáveis.

Aurora assentiu, um pouco envergonhada.

Mas sorriu logo após, recebendo um olhar curioso de Edward.

- Fica muito melhor nestes trajes, e que o senhor me perdoe por isto. – Elogiou, notando a nova gravata borboleta cor de vinho que ele escolhera.

- Estou me sentindo um bobo, mas agradeço. – Reconheceu. – Não estou mais acostumado com gravatas ou smoking.

- Mas certamente as gravatas e os smokings sentiram falta do senhor. Se algo fora inventado pensando em alguém, eu chutaria que os ternos foram feitos para o seu corpo.

Edward sentiu um calor subir à face quando ouviu isso. Fora o elogio mais lúbrico que ele recebera em toda a sua vida.

- Perdão, eu não pensei muito antes de dizer. – A menina abaixou a cabeça envergonhada, ciente de que ele entendeu o quanto ela admirava a sua figura.

- Não peça perdão. – Sussurrou ele, sorrindo mais do que deveria. – Eu poderia dizer o mesmo para a senhorita. Está belíssima neste vestido.

- Você gostou? – Envaideceu-se ela, dando uma volta em si mesma. – Fui eu quem desenhei.

- Jura?

- Sim! – Aurora sentiu Edward tocar no tecido e deixar o dedo deslizar por um fio de ouro bordado em formato de folhas. - Gostei desta cor, imaginei o corte e o fiz enquanto a modista tirava as medidas de Heloísa. Em cinco minutos ficou pronto, e ela o fez para mim.

- Ora, isto sim é um grande talento. – Surpreendeu-se ele. – Parece que fora desenhado para uma princesa. Obviamente virou motivo de inveja nos corações de muitas damas.

Aurora sentiu-se um pouco confusa com esta última frase. Será que ele estava dando uma bronca nela?

- Ah... será que devo pedir penitência por isto? – Questionou à Edward, esperando um castigo sugerido por ele.

- Querida Aurora, já pagou por todos os seus pecados apenas sendo atingida pela fúria de sua madrasta nesta noite. – Confessou Edward.

Aurora franziu o cenho. Até aquele momento não havia entendido exatamente o que aconteceu.

- Então ela quis mesmo me atingir? – Ficara triste, mas não surpresa.

Edward suspirou, desejando que pudesse voltar atrás antes de retornar com aquele assunto.

- A vi indo em sua direção. Pensei que fosse arrastá-la para longe de Louis, estava com os olhos irados de raiva ou ciúmes. Certamente Marianne não estava nada feliz com aquela situação, e a mãe daria um jeito de humilhá-la. – Edward elucidou. – Me coloquei entre vocês duas antes que acontecesse algo, só não esperava levar um banho de champanhe.

Ele e Aurora riram mesmo que magoados pela situação.

- Sinto muito. – Sussurrou ela.

- Não. Eu quem sinto. – Informou ele. – Nossas famílias são malucas. Não consigo entender como Louis prefira se juntar a Marianne.

Aurora fitou Edward cheia de dúvidas. Será que ele achava que ela era a melhor opção para o irmão?

- Ah... – Pigarreou antes de conseguir falar algo. – Patrícia... quer dizer, Lady Rose, tem o costume nada saudável de acabar com meus vestidos. – Confessou melancólica. – No último baile, por exemplo, ela havia pego meu vestido azul, bem parecido com aquele que Marianne está usando hoje, para a filha. Eu me enfureci e acabei estragando-o em seu corpo. Hoje ela traja um quase igual. – Notou novamente, com medo da parte religiosa de Edward julgá-la por fofoca.

- Ela e Lady Rose que parece estar vestida exatamente igual a você naquela noite. – Edward riu.

- Então percebeu?

Claro que Edward havia percebido. Era impossível não notar a beleza com que Aurora se vestia.

Ele assentiu com um aceno de cabeça.

- Lady Rose certamente tem ciúmes de você. – Arriscou, sabendo que não deveria fazer comentários do tipo.

Edward juntava uma porção de pecados ao qual deveria se confessar com deus posteriormente. Mas não deixaria de viver aqueles dias e conversar com Aurora por causa disso.

A menina suspirou desgostosa.

- Mas por que? – Indagou ela. – Nunca fiz nada para prejudica-la.

- Há questionamentos que não há resposta. – Afirmou Edward. – Só nos resta aceitar.

Aquilo deveria bastar para Aurora e ela sabia disso. Já havia chegado nesta mesma conclusão anteriormente.

- Eddie, me prometa uma coisa. – Ela pediu, sem notar que o havia chamado pelo apelido. Edward gostou, sobretudo, de ouvir aquele nome na boca dela.

- E o que é?

- Que a dará uma boa penitência quando ela for se confessar com o senhor quando assumir a catedral. – Concluiu com uma sombra escura em seus olhos que nada tinha a ver com a sua cor.

- Ora, que coisa feia, senhorita Rose. – Censurou ele, mas falhando miseravelmente quando começou a rir descontroladamente.

- Pode me dar uma também, sinto que ando merecendo mesmo. – Lamentou ela.

- Sabe que eu estava pensando nisso a pouco tempo? – Admitiu ele. – Não para você, como disse, já sofre o bastante. Mas para ela. Vou pensar em algo depois.

Aurora sentiu-se o próprio diabo manipulando um servo de deus. Edward decidiu que gostava desse lado sombrio dela.

- Ótimo. – Deu-se por satisfeita após tanta fofoca. - Vamos voltar para o salão? – Questionou ela, aprumando o corpo até voltar a ficar altiva novamente.

- Ah, claro. – Aceitou Edward, oferecendo-a seu braço.

Quando chegaram novamente ao meio estavam mais felizes. Edward exibia um olhar sereno enquanto Aurora sorria novamente.

A música continuava a tocar incansavelmente, e enquanto os outros dançavam, Edward e Aurora seguiram rumo a um canto para deixar o caminho livre.

- Aí estão vocês. – Ouviu Louis se aproximando com alguns senhores no seu encalço. – Lorde Thomas, esta é minha adorável futura cunhada, Aurora Rose, e este é o meu irmão e futuro padre da Catedral, Edward. – Emitiu feliz enquanto assistia o intérprete traduzir seus dizeres para sua língua. – Edward e Aurora, esse é Dom Gale Thomas, de Portugal.

Edward apertou a mão do desconhecido após Aurora receber um beijo em seus dedos.

- Dom Thomas está nos visitando para acordos. – Comunicou ao irmão. – E gostaria de uma dança com a senhorita, se não se importar.

Edward franziu o cenho enquanto Aurora se espantava.

- Ele não fala inglês, este é seu intérprete, Finn Whistle. – O senhor que estava logo atrás cumprimentou ambos com um sorriso simpático.

- A-ah... – Aurora, ainda um pouco confusa, gaguejou. – É claro.

Entregou o cartão de dança quase vazio para o Dom, assistindo-o sorrir ao colocar o seu nome nele. Edward não gostou nada.

Não que ele não fosse adequado para ela, mas um português certamente a levaria para longe – para outro país, mais precisamente. – E ele não gostaria de se afastar de sua estimada nova amiga dessa maneira.

Aurora fingiu um sorriso quando ele levantou a sua mão para leva-la para a pista de dança. Edward engoliu em seco enquanto assistiu-a novamente seguindo nervosa até lá.

- Você sabe que ela seria sua se pudesse, não é? – Louis provocou cochichando baixinho para o irmão.

- Não sei do que está falando. – Assegurou o clérigo.

- Talvez não saiba ainda, mas só um tolo não perceberia seu encanto.

Edward fitou o mais velho censurando-o pelo olhar.

- Eu não me permito prender-me a esperanças que sequer deveriam existir, Louis. Sei o meu lugar. – Ralhou, pensando que o sangue começaria a ferver a qualquer instante. – Agradeço por cumprir com a sua promessa. Certamente a beneficiará.

Louis sentiu uma pontada de culpa perpassar pelo seu corpo. Talvez a presença "santa" de seu irmão o encorajasse a fazer a coisa certa.

- Prometo que, caso ela não consiga nada nessa temporada, na próxima a ajudarei também. Estamos quase no fim, então não tenho muito tempo mais.

Edward gostou de ouvir o empenho do irmão.

- Fico feliz por isto.

                         

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