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- Não era pra só eu ter perdido a virgindade, vocês já são experientes, por que vocês foram também?
Silvio, o segundo garoto que havia transado com Lula e único negro no grupo, respondeu.
- É estranho, quando eu vi você transando com o invasor, e olhei pro ânus dele, fiquei como hipnotizado e simplesmente fiz.
Tarso, que tinha sido o último, concordou.
-Sim. Parece que o ânus dele tem um imã que nos atraiu a todos. Até eu e o Guido, que temos namorada, ficamos atraídos. É algo meio inexplicável.
Depois dos garotos saírem, Lula ficou no chão a beira do riacho por um longo tempo. Ele estava imerso em pensamentos. Quando o primeiro garoto o penetrou, ele ficou muito irritado, e tentou bater nos garotos, sem sucesso. Com o segundo foi um misto de raiva e prazer. E a partir do terceiro, ele só queria mais. Ele até pensou em invadir aquela fazenda todos os dias. Mas essa ideia ficou só no pensamento, e ele logo vestiu suas roupas e voltou para casa. Ele ainda não sabia, mas cinquenta anos depois, aqueles garotos seriam parte de seu harém.
No entanto, aquele incidente o marcaria para sempre, e ele começou a manter relações sexuais com taxistas. Ele considerava o dia perdido se não mantivesse relações, e se não encontrasse um taxista, ele ia atrás de moradores de rua. Com 12 anos, ele apaixonou por um taxista, que o apresentou a seu pai, dono de uma tinturaria, para que o contratasse. Isso aconteceu porque Luiz, o taxista, não queria mais compartilhar Lula com os companheiros.
No período mais glorioso da República das Águas, os militares assumiram o poder, e nessa época, Lula foi contratado para trabalhar em uma metalúrgica. Trabalhar era o modo de dizer, pois isso ele nunca fez na vida. Na verdade, ele virou amante do dono da metalúrgica, e não passava um dia sem que ele não transasse com Ricardo, que recentemente havia entrado para o curso de direito em uma universidade sabiana.
Tudo ia bem, até que em uma tarde de Sivan de 5724, Iara, a esposa de Ricardo, o flagrou transando com Lula. Iara era filha de um traficante, e desde muito nova, sempre andava armada. Ela pensou em matar os dois, mas depois mudou de ideia. Ela decepou o dedo mínimo de Lula com uma faca afiada, e depois, com a mesma faca, extirpou o testículo direito de Ricardo. Em seguida, ela aplicou um spray mata-bicheira no saco escrotal do marido, que urrava de dor. Então, ela pegou uma panela, cozinhou o testículo direito de Ricardo e o dedo mínimo de Lula, acrescentou arroz, e obrigou os dois a comerem, sob a mira de uma pistola Makarov, presente de seu avô.
O caso se espalhou entre alguns trabalhadores, mas foi abafado, Ricardo e Iara fizeram as pazes, mas Lula foi demitido. Ali começou a sua raiva contra os patrões. Ele procurou seu irmão, que a muito tempo não via, e ficou sabendo que ele havia se tornado um militante comunista, então Lula começou a frequentar sindicatos na companhia dele. No sindicato, ele logo galgou cargos importantes, aquele era o local perfeito para quem não gostava de trabalhar.
Nessa época, ele queria se vingar dos empresários, ele não conseguia acreditar que Ricardo o havia trocado por Iara. Ricardo foi a primeira paixão verdadeira de Lula. Em 5734, ainda apaixonado por Ricardo, ele deu uma guinada em sua vida. Começou a esconder sua atração por homens e ao perceber que aa sociedade era conservadora, até se casou com a viúva de um taxista, alguém que compartilhava sua visão de mundo. Em 5735, ele passou pela experiência mais aterrorizante de sua vida.
Após uma bebedeira com companheiros do sindicato, fora de si, ele manteve relações sexuais com uma enfermeira. No dia seguinte, ao acordar do lado dela, ele se sentiu imundo, tomou mais de dez banhos, quantia que normalmente tomaria em um semestre, ele não conseguia acreditar que aquilo tivesse acontecido. Para piorar, cinco meses depois, ela o procurou e lhe informou que ele seria pai. Lula tentou convencer ela a abortar, não suportava saber que seu relacionamento gerou um fruto, mas sem sucesso, ela foi irredutível e sumiu no mundo.
Letícia, a viúva do taxista, perdoou sua pulada de cerca, com a condição de que Lula assumisse seu filho com o taxista, e ao longo de três décadas, eles teriam mais três filhos. Nesse ano, o casal também conheceu e se tornou amigo íntimo de um adolescente de quatorze anos, Antônio, chamado de Toninho Italiano. Também nesse ano, logo após o casamento, ele se tornou presidente do sindicato dos metalúrgicos, e liderou grandes greves na província sabiana, a primeira delas, na empresa do homem que o desprezou, Ricardo. Esses fatos o levaram a ser preso por um mês em 5740, e na cadeia ele conheceu duas pessoas que mudariam para sempre sua vida. Apenas o delegado responsável pela prisão conhecia esses pormenores, e ele revelaria algumas dessas informações para o país em um livro publicado trinta e cinco anos mais tarde.
Uma dessas figuras era um homem de muito dinheiro e ambição, e se tornou um padrinho de sua filha, levando a para a República das Luzes. A outra agiu nos bastidores, e conseguiu que ele fosse solto. Após ser libertado, ele fundou o Partido dos Trambiqueiros, reunindo todo mundo que não gostava de trabalhar. Todos eram pessoas sem caráter, a maioria sindicalistas, a maior surpresa na lista foi um bancário honesto da Província do Quero-Quero. Ao lado de um economista da República do Sabiá Laranjeira, ele foi uma das únicas duas pessoas de caráter que fizeram parte do partido ao longo de toda sua história.