Coloco a mão na minha barriga e fecho os olhos, respirando fundo, sentindo o ar correr para os meus pulmões. É engraçado como a vida se repete. Acho que é isso que o Dr. Phill quer dizer com "comportamentos passados predizem comportamentos futuros", e maldito seja se isso não é totalmente verdade.
Caminhando até o meu Chevy vermelho e branco, eu deslizo para dentro lentamente e coloco a chave na ignição, fazendo o motor rugir para a vida. Meus olhos focam na oficina e meu coração afunda assim como eu no meu assento, o peso se tornando demais. Passei horas aprendendo dentro daquele prédio, mas as melhores foram as que passei com o meu pai, lado a lado sob o capô do seu carro. Ele passou muito tempo me ensinando tudo que podia, sempre paciente e respondendo as milhares de perguntas que eu tinha. Essa foi a melhor época da minha vida.
Crescer em um clube teve dificuldades, mas a cada desafio jogado na minha cara, eu me tornava uma mulher mais forte.
Nunca conheci a doadora de óvulo que foi a minha mãe, que também era uma das vadias do clube. Assim que eu pulei para fora do seu útero, ela me entregou para Bam e nunca olhou para trás. Eu nem ao menos sei o seu nome e, a essa altura da minha vida, não tenho a intenção de descobrir.
Passo a mão na minha barriga e a decepção corre pelo meu corpo. Como alguém pode simplesmente descartar o seu filho e nunca mais entrar em contato? Nunca querer vê-lo crescer? Esse pensamento é tão inconcebível para mim.
Embora isso não faça sentido, foi o que a minha mãe fez. Bam nunca teve escolha sobre me criar ou não, mas eu nunca me senti sendo um fardo para ele. Verdade, minha vida sempre foi muito diferente da dos meus colegas de escola, mas eu amava isso e não mudaria nada.
Para mim, estar sobre uma Harley antes mesmo de conseguir andar e participar de festas onde os homens fumavam, se embebedavam e beijavam mulheres quase sem roupa era o normal. Ver brigas estourarem por causa de merdas estúpidas quase todo dia era a vida no clube. Não me entenda mal, eu sempre fui muito bem cuidada, especialmente por Bam, mas ele era muito ocupado. Nesse tempo, um monte de vadias do clube entrou e saiu da minha vida, cuidando de mim por um tempo, mas nunca ficando tempo o bastante para formar uma conexão.
Bam estava lá o máximo que podia. Ele brincava de festa do chá comigo e me fazia cócegas que sempre me davam um ataque de risos. Eu o amava... eu ainda o amo. Suas lições de vida foram a melhor educação que uma garotinha podia ter. Eu nunca tive que lhe pedir nada, era como se ele soubesse o que eu precisava quando eu precisava.
Quando chegou o tempo dos garotos, ele sempre me dizia que não havia homem bom o bastante para o seu bebê. Nessa época eu revirava os olhos, mas agora eu desejava ter ouvido aquelas palavras que saíam da sua boca.
Derrubei a cabeça contra o peito, lutando para não derramar lágrimas. Eu não vou chorar. Sou mais forte do que isso.
Bam foi capaz de fazer isso, conseguiu me criar. Mesmo com todas as dificuldades, ele conseguiu. E também consigo, mas para isso preciso ir para longe daqui e descobrir quem eu sou. Eu preciso ser melhor para mim e para o meu bebê, minha família. Eu quero uma vida aqui, mas, infelizmente, isso não é possível no momento. Não é minha escolha, mas do pai do meu filho.
Mesmo que ele não saiba sobre o preciso presente que tenho crescendo dentro de mim, ele deixou perfeitamente claro que não quer uma vida comigo. Ele parece interessado demais em correr atrás de boceta para se acomodar com uma só. Parte o meu coração e me fere profundamente saber que eu não sou boa o bastante. Mas estou aprendendo a aceitar, mesmo que isso me mate. Ele não deixou muito espaço para o contrário.
Mas eu preciso colocar a cabeça no lugar e parar com qualquer movimento de pena de mim mesma. Não sou esse tipo de mulher. Graças a Bam, eu sou o tipo de mulher que agarra a vida pelas bolas, lida com as consequências e faz seu próprio futuro. Isso é o que eu estou fazendo ao ir embora. Tenho todas as intenções de voltar, de apresentar meu filho ao seu pai e fazer meu relacionamento com Harlow voltar a funcionar. Assim que eu estiver com a cabeça pensando direito.
Levantando os ombros, coloco e carro em movimento e dirijo para a nova vida que planejei para o meu bebê e para mim.
* * *
Cherry Vale fica a apenas uma hora de carro de Sumner, mas parece a milhares e milhares de quilômetros, um mundo totalmente novo. A cada marco que passo, enxurradas de memórias correm pelo meu corpo, me rasgando camada por camada. A pizzaria onde Bam costumava me levar em ocasiões especiais aparece na janela, aquecendo meu coração e me enchendo de tristeza ao mesmo tempo. A torre de água onde Harlow e eu costumávamos ir para fugir de tudo, lá em cima no céu. O velho moinho ainda está intocado após todos os anos de abandono. Eu continuo dizendo a mim mesma que há uma razão para a minha loucura, e é pelo meu bebê que estou me mudando.
Parando em frente ao apartamento que aluguei, estaciono o carro e olho para o prédio de tijolos de quatro andares. As janelas alinhadas na frente têm o sol refletindo nelas com tanta força que elas têm uma espécie de brilho. A persianas brancas ao redor de cada uma dão à construção uma sensação acolhedora, junto com todas as flores plantadas ao redor da base do edifício.
Meu apartamento está localizado perto do campus e eu preciso caminhar pouco para chegar à aula, mas ainda não é dentro do campus. Quando fiz minha pesquisa, não queria viver em um lugar onde só houvesse estudantes, preferindo um que tivesse famílias também.
Eu não sei muito sobre crianças, mas não queria ter que lidar com garotos e irmãs de fraternidade depois de grandes bebedeiras quando eu tenho um bebê chorando.
Antes de encontrar Harlow na oficina mais cedo essa noite, meu carro já estava carregado com a minha vida e pronto para partir, todo o resto foi no caminhão de ontem. Eu não queria voltar ao apartamento em que morava por um tempo, com medo de que não iria partir. Tinha toda a intenção de ajudar Harlow com Rocky e dar o fora daqui antes que mais alguma coisa acontecesse. Eu precisava ter certeza de que as coisas fossem exatamente assim.
Suspirando, pego a maçaneta e abro a porta do carro. A manhã ainda está chegando e é um pouco fria, mas nada como uma hora atrás, o calor e a umidade começando a se fazer presentes. Vou até o porta-malas e pego uma caixa. Garanti que todas as coisas realmente pesadas viessem no caminhão de mudança, não querendo ter que levantar muito peso.
Entro no prédio e aperto no botão do elevador, e enquanto espero, meus pensamentos vão para Bam. Quando eu era mais nova, ele sempre disse que queria que eu fosse para a faculdade e conseguisse o meu diploma. Ele me disse que eu era uma garota inteligente, com uma boa cabeça sobre os ombros, e eu queria provar que ele estava certo.
Espero que ele não fique desapontado comigo. Depois de tudo, eu acabei grávida assim como a vadia do clube que era minha mãe. Tal mãe, tal filha, exceto por uma grande diferença. Eu não vou desistir do meu bebê. Tudo que estou fazendo agora é por ele ou ela.
O elevador chega. Balançando a caixa, entro cuidadosamente. Dou um tapa no botão de número três e as portas começam a fechar.
- Espere! - uma voz profunda do outro lado diz. A voz é de comando, mas ainda suave. Tento achar o botão de abrir as portas no painel enquanto acomodo a caixa, mas não tenho sorte. Uma mão grande aparece entre as portas e faz com que elas reabram com um estalo.
O cheiro do homem enche o elevador. É uma mistura de suor, testosterona e algo mentolado. Ele está usando shorts de corrida, tênis e uma regata branca que mostra seus músculos impressionantes. Seu cabelo loiro está pingando suor e sua respiração está ofegante. Quando seus olhos castanhos encontram os meus, um pequeno sorriso puxa o lado da sua boca. Meu corpo entra em alerta instantâneo e eu levanto minhas paredes defensivas.
- Você precisa de ajuda com isso? - sua voz reverbera dentro da pequena área fechada.
- Não, obrigada, - eu digo endireitando os ombros. Uma coisa que você aprende ao viver em volta de um monte de motoqueiros durões é presença. Quanto mais confiança você tem, menos provavelmente vão mexer com você, e não conhecendo o cara, não vou abrir muito espaço.
- Aqui, - a caixa em meus braços desaparece e eu sinto o alívio imediato. - Posso ajudar a levar isso até o seu apartamento. Não vou entrar, - seu sorriso cheio está esperando por mim, e ele é tão contagioso que me encontro sorrindo de volta.
- Obrigada, - eu desvio o olhar para ver os números mudando do um para o dois.
- Eu sou Jace, - sinto seus olhos queimando um buraco através de mim, mas não vou dar muito espaço a esse homem. Não vou deixar ninguém entrar... de novo.
- Casey, - continuo olhando os números, que vão do dois para o três, querendo que eles aumentem mais rápido.
- Você precisa de ajuda com outras caixas?
- Eu vou cuidar delas, mas obrigada, - o elevador apita no três e então me ocorre que Jace não apertou em nenhum número. Saindo do elevador, procuro o 303 e o encontro do lado direito do corredor. - Eu estou aqui, você pode ir. Obrigada.
Ele não faz nenhuma tentativa de largar a caixa, mas pára perto da porta, seu ombro pressionado contra a parede. Com a minha visão periférica, vejo seus músculos dos braços se flexionarem enquanto ele segura a caixa como se não pesasse nada. Engulo em seco e rapidamente coloco a mão no bolso para pegar as chaves, tentando não as derrubar.
Abrindo bem a porta, entro no lugar. Várias caixas estão espalhadas pelo chão e junto às paredes, minha mobília está empilhada em vários montes, mas o lado bom é que não vejo a cama, então felizmente ela foi levada para o quarto. Solto um suspiro profundo e caminho pelo apartamento, olhando para a bagunça que vou levar dias para arrumar.
Me viro para a porta. Jace ainda está parado com o ombro apoiado contra a porta, mas não acho que ele precisa de ajuda e a indiferença não é seu forte. Caminho rapidamente até ele e pego a caixa. Ele a entrega para mim com hesitação.
- Obrigada, - eu digo, me afastando dele e colocando a caixa sobre uma enorme pilha de qualquer coisa.
- A qualquer hora. Eu realmente gostaria de ajudar com as outras coisas. Minha mãe sempre me ensinou a ajudar uma dama. Ela bateria na minha cabeça se descobrisse que eu não ajudei você, - ele sorri, mas cobre isso com a mão.
- Eu só tenho mais duas caixas e uma mala. Posso cuidar disso, mas obrigada, - eu digo, ignorando o comentário sobre a sua mãe. Me viro e quando meus olhos se encontram com o seus de um tom marrom chocolate, eu instantaneamente olho para o chão, minha confiança balançando um pouco. Seu interesse em mim está escrito por todo o seu rosto, mas isso não vai acontecer e eu não quero lhe dar nenhuma falsa esperança.
- Se você precisar de qualquer coisa, me avise. Eu moro no 306, do outro lado do corredor, - ele se afasta da moldura da porta, mas não dá um passo dentro do meu apartamento. Ele mantém sua palavra sobre não entrar e eu aprecio o seu respeito.
- Obrigada, mas eu vou ficar bem. Tenho que desempacotar tudo, - eu seguro a pronta, pronta para fechá-la.
- Entendo. Prazer em conhecer você, Casey, - seus lábios formam um sorriso de parar o coração, um que faria a maioria das mulheres se arrepiar. Se eu fosse qualquer outra mulher, em outra situação, eu provavelmente estaria nas suas mãos. Mas eu não sou.
- O mesmo aqui, - eu seguro a porta com um pouco mais de força, Jace se vira e caminha alguns passos na direção da sua porta. Sem olhar, eu fecho rapidamente a minha porta e me viro, permitindo que minhas costas pressionem a madeira com alívio. Eu consegui. Estou aqui. Posso fazer isso.
* * *
Eu odeio desempacotar. Só fiz isso duas vezes na vida, a primeira quando me mudei para ir morar com Harlow, e agora. Levou a maior parte do dia, mas acho que finalmente tudo está onde precisa estar, pelo menos os móveis e as roupas. O resto pode esperar até outro dia.
Me atirando no sofá, inclino a cabeça para trás para descansar. Todo meu corpo dói, do topo da minha cabeça até os dedos dos meus pés. Meu estômago ronca, me lembrando que ainda não comi. Uma vez que não passei no mercado ainda, não há comida por aqui. Eu suspiro. Vou ter que conseguir comida antes de ir para a cama.
Minhas mãos vão imediatamente para a minha barriga. Não está nem perto de aparecer ainda, mas sei que há uma vida crescendo dentro de mim. Eu não tinha planos de ficar grávida. Quando o médico disse que o anticoncepcional era 99% eficaz, acreditei nele. Fui agraciada com o 1% sortudo, mas não posso dizer que estou desapontada. Essa gravidez pode não ser o que eu tinha previsto para mim, mas não mudaria isso por nada no mundo.
GT e eu não usamos camisinha. Foi um grande erro da minha parte e eu deveria ter insistido para ele usar. Eu o conhecia, sabia que ele nunca iria se comprometer com uma só pessoa, mas fiz isso mesmo assim, como uma estúpida adolescente apaixonada, esperando que eu fosse capaz de mudá-lo. Estúpida. Ele fez exames por mim e estava limpo, mas mesmo assim eu não deveria ter provocado o destino.
Meu relacionamento com GT nunca foi o que poderia se chamar de estável ou saudável. Quando éramos crianças, ele era o irmão mais novo que Harlow e eu amávamos aterrorizar e manipular sempre que podíamos. Fizemos ele fazer coisas bem nojentas, como beber cerveja velha com bitucas de cigarro e catarro de alguém dentro. Com apenas dois anos de diferença, nós passamos muito tempo juntos, mas a maioria era do tipo eca, ele é nojento.
Mas parte de mim se apaixonou por Gage Thomas Gavelson quando eu tinha sete anos de idade e ele jogou lama na minha cara porque eu não quis pular em uma poça com ele. Isso selou o acordo para mim.
Pouco depois que ele começou a andar ao redor do clube, percebi que o irmãozinho fofo estava se tornando um homem e eu doentiamente passei de um caso de amor infantil para uma queda total e esmagadora. Mas, por volta dos treze anos, Pops, pai de GT, começou a levá-lo mais e mais para dentro do clube. Eu às vezes via ele do outro lado do estacionamento, quando Bam e eu estávamos trabalhando nos carros, mas não era a mesma coisa. Eu sentia a sua falta. Então, as mulheres começaram a aparecer. Mulheres muito mais velhas. Primeiro eu pensei que elas talvez estivessem ali para ajudá-lo com a lição de casa ou para trabalhar para Pops. Como eu estava errada. Rapidamente aprendi que elas estavam lhe ajudando, mas definitivamente não era com a lição de casa.
A intensidade dos meus sentimentos por GT continuou a crescer, nunca diminuindo. Na verdade, meu desejo cresceu tanto que chegou a um nível que doía apenas vê-lo. GT continuava a guardar um lugar especial no meu coração; um que eu fechei e tentei desesperadamente manter contido. Mas cada sorriso que ele me dava ou cada batidinha no ombro quebrava ainda mais minhas restrições.
Em um dia fatídico, ele realmente me viu. Me viu de verdade. A emoção em seus olhos quando eles se encontraram com os meus deixou meu corpo em chamas. Aquele dia foi rápido, feroz e lindo. Aquele dia deu início à nossa curta história de amor.
Eu deveria ter sabido. Todo o bom senso me deixava quando eu chegava perto daquele homem. Eu vi as mulheres entrando e saindo do seu quarto no clube ao longo dos anos, mas, estupidamente, pensei que eu fosse diferente. Pensei que eu significasse algo para ele. Mas não. Eu só era uma de muitas. Não havia como mudar um homem como GT Por mais que eu quisesse ser especial para ele, não sou e tenho que viver com isso.
Nosso tempo juntos foi rápido e passageiro, mas com meus sentimentos por G.T tendo raízes tão profundas, eu fui sugada por tudo que era ele. Mas depois de apenas três semanas juntos, ele terminou comigo e me deixou com um presente inesperado. Por mais doente que isso pareça, estou feliz de sempre ter uma parte dele comigo. E a parte mais doentia ainda é que eu sou como a minha mãe. Sou uma vadia do clube que engravidou de um dos irmãos. Eu vou ser aquela que todos vão ver como uma puta. Mas a principal diferença é que eu não vou desistir do meu bebê ou abandonálo.
Vai chegar o dia, nos próximos meses, em que vou ter que contar para GT Não sou uma vadia sem coração que vai tentar manter a criança longe dele. Não importa o quanto isso me machuque, nunca faria isso com ele. Eu posso morrer ao ter meu filho ou filha ao redor do monte de vadias do clube que GT tem dentro e fora da cama, mas vou lidar com isso, como faço com tudo o mais. E vou deixar que ele ou ela escolha se quer a mesma vida do seu pai. Eu nunca vou fazer essa escolha pelo meu filho.
Mas o principal motivo de eu vir para cá foi colocar a cabeça no lugar. Eu não tenho dúvidas que G.T vai cuidar financeiramente do seu filho, mas quero ser capaz de fazer isso sozinha também. Esse bebê é meu e eu quero dar uma opção para GT, diferente do que meu pai teve. Parte de mim quer desesperadamente que ele apareça e seja o pai que eu sei que ele pode ser, mas não vou obrigá-lo, como aconteceu com Bam. Vou conseguir o meu diploma e cuidar do meu filho. Não vou depender de ninguém, nunca.
Não só isso, eu preciso chegar a um acordo comigo mesma sobre a morte de Bam. Pensar nisso faz arrepios correrem pelo meu corpo e minhas mãos tremem. Mesmo depois de quatro anos, sua morte ainda me assombra. Fecho meus olhos, as lágrimas borrando minha visão. Tento segurá-las, mas descubro que é algo difícil. Bam é a única família que eu tenho, a única família que eu tinha. Mesmo que eu tenha crescido ao redor do clube, nunca me senti parte dele. Em vez disso, sempre me vi como uma observadora de fora. A filha do irmão, portanto todo mundo me tolerou.
Harlow é verdadeiramente a irmã que eu sempre quis, não por sangue, mas por vínculo. Mesmo que eu a considere minha família, ela agora tem a sua própria família para cuidar. Não só isso, ela tem o clube. Agora que é uma old lady, ela está em um patamar diferente do meu. Certa vez nós já tivemos o mesmo status, mas agora ela está totalmente em outro campo, e eu respeito o seu lugar lá.
Mesmo quando crescíamos, sempre vi a diferença entre nós duas. Harlow é a Princesa, e eu sempre me senti como alguém que era suportado. Os irmãos sempre a adoraram, e eram gentis comigo, mas nunca nos trataram de forma igual. Olhando para trás, soa muito mesquinho e invejoso, mas para uma garota de treze anos que está tentando achar o seu lugar, isso era tudo. Eu nem sei se os irmãos percebiam que estavam fazendo isso ou se importavam. Mas eu me importava.
Quando Bam morreu, todos os irmãos se apresentaram para cuidar de mim, mas outra vez eu me sentia uma espectadora olhando do lado de fora. Ali, mas sem fazer parte. E parte disso pode ter sido o luto, considerando que não saí do meu quarto por algumas semanas. Mas o clube era a família de Bam, não minha, embora eu quisesse que fosse. Eu sempre fui uma obrigação para os irmãos. Não preciso da piedade de ninguém, nunca mais. Mas sempre vou ter Harlow ao meu lado, de alguma forma; talvez não como antes, mas se eu a chamasse agora, ela viria. Com certeza temos algumas coisas para resolver, mas eu sei que vamos conseguir superar.
Mas eu ainda não posso dizer a ela sobre o bebê. Eu quase contei ontem à noite, enquanto estávamos deitadas na cama depois do intenso episódio em que descobrimos que Rocky era um policial disfarçado. Eu quero alguém para falar sobre a gravidez, mas não poderia adicionar mais merda na pilha já enorme de coisas que ela está lidando, mesmo que eu deseje ter o seu apoio. Eu gostaria que ela me abraçasse e tirasse toda a dor e confusão. Mas, por outro lado, sei que ela vai ficar chateada por eu ter ido embora e vai me levar de volta e me obrigar a contar para GT, mesmo que ele ainda não esteja pronto para saber. Mais importante ainda: eu não estou pronta para contar.
Um estrondo na porta da frente me faz saltar e apertar meu peito, meu coração bate. Droga. Eu ando hesitantemente até à porta e olho no olho mágico para ver Jace de pé com uma sacola de plástico em uma mão e uma caixa de pizza na outra. Meu estômago rosna, mas eu o obrigo a calar a boca.
Abro lentamente a porta e dou um pequeno sorriso. - Oi.
- Oi, Casey. Percebi que você estava ocupada desempacotando e pensei em trazer algo para você comer.
- Obrigada. Mas estou saindo para ir ao mercado, - meu peito se aperta. Eu não quero ser uma cadela, mas pelo brilho em seus olhos ele está seriamente interessado em mim, e eu não posso ter isso. Há muito em minha vida que precisa ser resolvido antes que qualquer coisa aconteça, e fazer ele acreditar em algo diferente é um erro. Especialmente quando ele descobrir que vou ter um filho; essa coisa de pai instantâneo não funciona muito bem com os homens. Mas é um gesto legal trazer comida para um novo vizinho.
- Eu já trouxe comida. Você deve estar cansada de trabalhar nisso o dia todo. Veja, é apenas um gesto de amizade. Posso ver as rodas girando na sua cabeça. Eu tenho que comer. Você tem que comer. Vamos comer e, quando terminarmos, eu vou embora, - Jace trocou de roupa e agora usa uma bermuda cáqui e uma camisa polo azul justa ao redor dos seus bíceps. Seu cabelo está desalinhado, como se ele tivesse passado os dedos mil vezes por eles, mas ainda bonito. Seus olhos brilham quando encontram os meus.
- Apenas amigos, - enfatizo para ele, não para mim.
- Entendido.
Eu abro o braço e o conduzo para o meu apartamento, meu coração batendo acelerado.
- Ignore as caixas. Droga. Não sei se tenho pratos ou qualquer coisa que possamos usar, - passo para a cozinha, que brilha com os armários brancos, um tom levemente mais claro de uma cor azul-acinzentada nas paredes e uma grande ilha que tem dois banquinhos. Alcanço a maçaneta de cromo de um dos armários aéreos para pegar pratos e o toque de Jace na minha mão me assusta e eu instantaneamente me retraio.
- Desculpe. Eu tenho pratos de papel e copos. Não se preocupe, - na mesma hora eu me sinto péssima pela minha reação. Suspiro e me seguro no balcão para me estabilizar. Se controle, porra.
- Ótimo, obrigada, - dou a ele um pequeno sorriso. - Por favor, se sente, - eu me viro e aponto para um dos banquinhos da ilha.
Ele coloca todas as coisas em cima e pega na sacola de plástico os pratos, guardanapos e dois copos. Um ronco do meu estômago anunciando a minha fome faz Jace começar a rir.
- Viu, eu sabia que você ia estar com fome, - ele abre a caixa e tira um pedaço de pizza cheio de queijo derretido, colocando-o em um dos pratos. O cheiro de alho e molho de pizza atinge meu nariz e minha boca fica cheia d'água. A percepção de como eu estava com fome de atinge com força.
- Foi um dia difícil, - eu sorrio e pego a pizza do prato, dando uma grande mordida. Um leve gemido escapa dos meus lábios quando o molho atinge minha língua, tão bom. Ele sorri e começa a comer.
- Lembro quando eu me mudei, no ano passado. Fiquei exausto, - ele diz, obviamente não gostando do silêncio.
- Obrigada por me trazer comida, - eu limpo a boca e rapidamente volto a devorar a pizza, até porque, se a minha boca está cheia, eu não posso falar muito.
- Isso não foi nada. Para que servem os vizinhos afinal? - ele sorri e molho de pizza cai no seu lábio.
- Você está sujo, - eu aponto para o meu lábio, sua língua se lança para fora e limpa o pouco de molho. Definitivamente é atraente, mas eu reforço as paredes. Tenho que separar amizade de atração.
- Obrigado. Você está na faculdade? - eu aceno. - O que você está estudando? - ele pergunta.
Parte de mim não quer responder, não quer lhe dar nenhuma informação sobre mim. Mas eu também não quero ser uma vadia mal-educada. - Administração, mas estou apenas começando, então tenho que passar pelas disciplinas básicas primeiro.
- Eu estudo Administração também. Estou no segundo ano, então ainda estou nas básicas também. Espero que no próximo semestre a coisa fique mais séria.
Eu rio da sua fala. - Como são as aulas? - eu pego outro pedaço de pizza da caixa e começo a comer na mesma hora.
- Boas. Nada demais, - ele dá de ombros antes de dar uma grande mordida no pedaço na sua mão.
- Eu estou ansiosa para começar, - pego o copo e dou um grande gole, surpresa que falar com ele é tão natural que meu corpo começa a relaxar um pouco.
- Então, Casey, me conte um pouco sobre você, - eu enrijeço, a tranquilidade que comecei a sentir momentos atrás voando do meu corpo enquanto eu olho para ele. Jace nota a minha hesitação, - Estamos apenas nos conhecendo. Nada demais.
Seria legal conhecer alguém aqui e ele parece um cara bem legal. Inferno, ele me trouxe pizza. Posso falar com ele, apenas cuidar para não falar demais.
- Eu sou de Sumner. Amo trabalhar com carros e é isso, - eu volto para o meu pedaço de pizza.
Ele sorri. - Tenho certeza que há mais coisas aí, mas vou ficar com isso, - ele pausa. - Eu sou daqui, na verdade. Comecei a faculdade ano passado por insistência do meu pai. Trabalho com ele como administrativo, então ele acha que pode ficar me dando ordens. Bem, acho que ele pode, - ele ri. - Eu saio para correr com frequência, amo assistir futebol e sou um cara excelente.
É a minha vez de rir. - Com certeza você tem uma ótima visão de si mesmo.
Ele mastiga a pizza e engole. - Nah. Nada disso. Apenas pensei que ia fazer conseguir ouvir a sua risada, e estou feliz porque consegui.
Eu fujo rapidamente do seu flerte, enchendo minha boca com mais pizza.
Ele levanta as mãos em rendição. - Desculpe. Eu vou parar. Estou deixando você desconfortável e isso é a última coisa que eu quero.
Limpo minha boca outra vez e me levanto lentamente. - Eu realmente gostei muito de você ter trazido o jantar, mas estou muito cansada.
- E essa é a minha dica para ir para o inferno, - ele grunhe enquanto levanta do banco. Eu não posso negar as suas palavras. - Obrigado por me deixar comer com você. Tenho certeza que nos vemos por aí.
- Obrigada novamente por me ajudar com a caixa e trazer o jantar. Foi muito legal da sua parte.
- O que todo cara que ouvir. Isso foi bom, - ele ri. - Não foi trabalho algum. Se você precisar de algo, estou no 306. Apareça a qualquer hora.
Eu aceno e me movo rapidamente em direção à porta para abri-la. - Obrigado. Vejo você por aí, Casey, - ele sorri apertando os olhos. É melhor que ele vá embora. Ele precisa ir embora.
- Tchau, - eu fecho a porta e tranco todas as fechaduras, limpando o que sobrou da janta, e vou para cama. Eu não estava brincando, estou morta. Preciso dormir agora, e o sono me consome assim que minha cabeça descansa no travesseiro.