Nada. Não sinto nada por dentro, como se eu fosse uma pessoa vazia, um desperdício de carne e ossos. Meu coração não sente nada; sua única função é me manter viva, por alguma razão. Deitada na cama, tudo que eu faço é existir, tomando o ar de alguma outra pessoa no planeta. Eu não fui à aula toda essa semana, e provavelmente não vou na próxima também. Qual é o objetivo? Meu bebê está morto. Se foi. E o pior, não há um corpo para enterrar. Nada, como se eu jamais tivesse tido uma vida no meu corpo, não a tivesse carregado por semanas, não tivesse me ligado a ela. Nada. Eu não posso ir visitar o meu bebê como faço com o meu pai. O bebê apenas desapareceu, como se não fosse nada no mundo.
- Casey. Você tem que sair da cama, - Bella vem aqui quatro ou cinco vezes por dia, tentando me fazer levantar da cama. Eu agora lamento ter dado a ela uma maldita chave do meu apartamento, porque tudo que eu quero é ficar sozinha. - Você tem que comer. Vamos lá, - eu gemo. Eu odeio comer. Eu odeio respirar, na verdade. Pensei que a morte do meu pai foi difícil; esse é um tipo totalmente diferente de dor. Um que tem tantos "ses", que o meu coração se despedaça mais a cada minuto. Eu nem sei mais porque eu estou viva. Pelo menos com o meu bebê eu tinha um propósito, um objetivo. Agora, eu não tenho nada.
- Jace está vindo aqui para me ajudar a te dar um banho. Ou você se lava sozinha ou nós vamos fazer isso por você, mas garota, você vai tomar um banho. Você está fedendo. E você vai comer. Eu posso ver a droga dos seus ossos, Casey.
Eu me viro para ela, fecho os olhos e desejo poder dormir.
* * *
TRÊS DIAS DEPOIS
Cheguei à conclusão de que a dor no meu peito nunca vai passar. Ela está tão firmemente enraizada que nada vai poder me ajudar. Mas eu estou tentando me mexer. Pelo menos ao redor do meu apartamento. Depois que Bella e Jace me vieram com as suas lindas conversas de incentivo, cheguei à conclusão de que eles não iam me deixar em paz, e para me ver livre dos dois eu precisava pelo menos aparentar estar começando a melhorar.
Eu me recuso a ir às aulas. Disse a eles que eu tinha uma emergência médica e deixei por isso mesmo. Meus professores deram minhas tarefas para Bella, mas elas continuam intocadas sobre a minha mesa.
Mas eu nunca estou sozinha, no entanto. Bella ou Jace estão aqui o tempo todo. Eu deveria estar agradecida por ter eles, mas eu realmente queria que eles me deixassem em paz. Eles andam atrás de mim o tempo todo. Sempre se entreolhando e tendo conversas silenciosas entre eles. Parecem que eles querem me fazer explodir, mas não tenho vontade disso. Não há nenhuma razão.
- O que você quer fazer hoje? - Jace pergunta do sofá, onde ele está meio deitado com os pés para cima, passando os canais na TV. Se eu estivesse com a cabeça em bom estado, eu diria para ele dar o fora e parar de agir como se essa fosse a sua casa. Mas eu não posso e não vou.
- Nada, - é a minha resposta para cada vez que ele faz essa pergunta.
- Vamos ver um filme, você escolhe, - ele insiste.
- Não, - eu ando até a geladeira, abro a porta e a fecho rapidamente. Nada parece bom e o meu estômago revira só de pensar em comida. Bolacha água e sal... talvez bolacha água e sal.
- O que é esse barulho? - Jace anda na minha direção, tentando descobrir de onde vem isso. E eu escuto um som baixinho e instantaneamente reconheço.
Merda. - É o meu telefone. Preciso encontrá-lo, - lentamente procuro pelo telefone pré-pago que, se não for atendido, vai causar uma tempestade de merda no clube que eu não estou em absolutamente nenhuma condição de lidar nesse momento.
Cavando na pilha de papeis, eu o encontro dentro da minha bolsa marrom. Rapidamente aperto na tela e coloco minha voz mais feliz para responder. Falsa.
- Alô, - eu respondo, rapidamente me afastando de Jace.
- Oi, garota! Quando você vem me ver? - a alegria na voz de Harlow irradia pelo telefone, e só me faz sentir pior.
- Eu não posso ir agora. Aulas e trabalho, - mentir para ela é uma merda. Eu sempre odeio isso e raramente faço, mas dessa vez é um mal necessário. Alguém limpando a garganta me faz olhar para Jace, que balança a cabeça. Eu o encaro, sem precisar dessa merda agora. Por que ele ainda não foi embora?
Eu viro de costas, esperando que isso dê o recado. - Como está a vida em Cherry Vale?
Horrível. - Ótima. Tudo está ótimo.
- Você está mentindo para mim, - minha respiração fica presa e eu fico imóvel por um segundo. - Você nunca está assim tão feliz ou animada, nem quando está de bom humor. Você vai me dizer o que está acontecendo?
A mão segurando meu telefone começa a tremer, e a minha determinação feliz começa a se desfazer. Eu penso rápido, - É só que a faculdade é dureza, mas eu estou conseguindo me virar. Está tudo bem, - eu tento dizer de forma tranquilizadora.
- Sim. Certo. Eu não acredito em você, algo está acontecendo. E eu vou descobrir o que é, - meu coração para. - Vou deixar assim por agora, mas eu não vou esquecer. Cruz e Cooper mandaram oi. Cooper é um grande garoto, Casey. Ele está crescendo tão rápido. Queria que você estivesse aqui para ver isso, - lágrimas enchem meus olhos pelo bebê que eu nunca vou ver crescer, nunca vou ver dar os primeiros passos ou dar a primeira mordida na sua comida favorita, nunca vou segurar nos braços. Afasto o telefone do rosto e puxo uma respiração profunda, então o trago de volta para perto da boca, tentando me acalmar.
- Diga a eles que eu mando oi, também. Sabe, eu tenho uma prova muito difícil nos próximos dias. Realmente preciso ir, - ou eu vou acabar perdendo o controle aqui.
- Certo. Eu sei que algo não está certo. É melhor você estar bem. Se você não me contar da próxima vez que eu ligar, eu vou até aí, - merda. Harlow não desiste nunca.
- Sim. Só estou ocupada. Vou te ligar logo. Ok?
- Certo. Te amo.
- Te amo também, - desligo rápido a ligação; minhas pernas cedem, minha bunda bate no chão com um baque surdo, e meu corpo vem em seguida. Jace passa na mesma hora os braços ao meu redor, me levantando, me puxando contra o seu peito como se eu fosse uma criança. Lágrimas escorrem rápido pelo meu rosto, e Jace apenas me puxa mais apertado contra o seu peito.