Capítulo 7 Make Pró

Amber Brown

A noite foi extremamente longa para mim, eu literalmente passei todos as horas que me afastavam da manhã observando o tempo e as compras deixadas por Bob na minha casa, contei e recontei cada alimento, calculei o tempo que aquilo poderia durar, e o quanto eu poderia guardar sem precisar me humilhar voltando até a empresa de Dylan e aceitando aquela maldita vaga para trabalhar com ele, apenas para perceber que eu precisava mudar minha situação o mais rápido possível, a quem eu queria enganar?

Eu não tinha escolhas!

Quando o alarme do celular me avisou que já eram seis horas da manhã, eu me dei conta de que meu tempo fora desse prelúdio de pesadelo havia findado, eu não tinha muito mais para onde correr, precisava agir e ir de encontro a ele. Talvez isso não seja tão ruim quanto eu penso, talvez, apenas talvez, Dylan ainda mantenha sentimentos puros por mim e queira me ajudar de forma genuína, sem segundas intenções.

Que meus instintos estejam errados!

Respirei fundo e tentei me manter crédula sobre essa nova teoria que eu criava em minha mente, talvez isso realmente pudesse acontecer, mas eu só serei capaz de descobrir indo até a Make-Pró e conversando diretamente com ele. Ignorar as minhas necessidades não iria fazer essa comida durar mais que uma semana, e fugir da minha realidade não iria fazer o dinheiro surgir magicamente na minha carteira.

Eu precisava mudar essa situação, e precisava mudar logo, então, dotada de uma coragem que eu não sabia que possuía, me ergui e fui até o banheiro para me preparar para talvez, a segunda decisão mais difícil que eu já tive que tomar na vida. Tomei um banho quente e revigorante, eu deveria aproveitar que ainda existia gás e eu ainda podia desfrutar de água aquecida, contratada, seria um luxo que eu com certeza poderia manter. Isso me deu uma certa animação que eu ainda não havia sentido na minha atual situação.

- Na luta por água quente todos os dias! - Declarei, erguendo as mãos ao alto em um sinal de vitória, me sentindo mais animada. Não poderia ser tão ruim! O que ele poderia fazer? Ele estava disposto a me empregar, não havia muita coisa que ele pudesse faze de ruim contra mim dentro de uma empresa, talvez alguma perseguição, refleti brevemente, mas eu também poderia jogar esse jogo, estar trabalhando para ele não mudava o que ele sentia por mim.

E definitivamente não mudava em nada o desejo que ele ainda tinha, por que sim, eu notei claramente o quanto ele ainda me desejava, talvez, esse fosse um caminho pelo qual eu poderia seguir, Dylan sempre foi um cara muito doce e suscetível a manipulações, talvez eu pudesse manipulá-lo e conseguir benefícios com o tempo, talvez, como mamãe havia me aconselhado, eu conseguiria fisgar o peixe grande.

Assim como ela fez!

Após o banho, me sentindo ligeiramente mais empolgada com essa nova empreitada, me arrumei com uma das poucas mudas de roupa que comprei para procurar emprego, cuidando que eu não repetisse as mesmas peças que eu tinha usado na primeira vez, passei uma maquiagem super básica que eu tinha conseguido adquirir em uma liquidação a custo quase de zero, pois ela em breve teria sua validade vencida. Me olhei no espelho e sorri, confiante em mim mesma e em todas as minhas habilidades.

Você não perde por esperar Dylan! Vai se arrepender por tentar me subjugar!

O caminho até a empresa de Dylan foi extremamente tranquilo, fiquei montando diversos argumentos em minha mente para justificar a minha ida até lá, lembro que ele disse que o emprego não seria fácil se eu tivesse que retornar, mas eu sabia que aquilo tudo era um teste, então, segui firme naquele propósito de 'convencê-lo' a me dar a vaga por fim.

Chegando ao seu prédio o procedimento foi o mesmo, subi o elevador até o último andar e lá vi Clara, a filha de Bob e atual secretária de Dylan, ela me olhou e me cumprimentou com um sorriso sarcástico no rosto, foi bem sutil de tão discreto, mas não me passou despercebido, estranhei esse comportamento, até onde eu sabia, ela tinha a intenção de me ajudar, sem tempo para perder com isso apenas respirei fundo, não perderia a minha pose, me aproximei de sua mesa antes de falar o que eu precisava.

- Bom dia Clara, tudo bem? - Dei a ela o meu melhor sorriso antes de continuar - Vim falar com Dylan, poderia avisá-lo que já cheguei? - Disse olhando em seus olhos, esperando ansiosamente por uma resposta positiva.

- Claro! - O "Dylan" - A ênfase que ela deu ao nome dele me causou um comichão estranho, uma profunda irritação que eu nem saberia explicar de onde veio - Será avisado imediatamente da sua presença senhorita Amber, pode aguardar sentada, estarei lhe dando uns formulários para responder e assim que o "Dylan" estiver disponível, a senhora será atendida.

- Obrigada Clara! - Falei já me sentindo irritada com a forma que ela me tratava, isso não fazia sentido, fiquei me perguntando se ela me indicou obrigada por Bob, pois ao meu ver ela sentia algo perto de nojo ao me olhar, ela até tentava disfarçar, mas eu reconhecia aquele olhar, já o destinei a muita gente na minha vida.

Tentando controlar minha vontade de esfregar a cara daquela mulher respirei fundo e fui até onde ela tinha me orientado sentar e aguardei, a observando de canto de olho.

Escutei quando ela ligou para a sala do Dylan falando tão baixo que foi impossível entender as suas palavras, logo após desligar o telefone ela veio até mim e me entregou alguns formulários junto de uma prancheta e caneta para preenchê-los, sem mais esperar comecei a preencher os formulários. Uma humilhação tomou conta de mim ao ter que preencher o meu novo endereço no Bronx, tive que usar mais uma vez meu alto controle para não me desesperar e sair correndo dali.

Eu precisava do salário!

Depois de tudo preenchido, fui até a sua mesa e entreguei os papéis para Clara, a mesma os pegou fazendo questão de ler na minha frente, controlando novamente um sorrisinho sarcástico no rosto que dessa vez não me causou raiva, mas muita tristeza e vergonha, talvez notando o meu desconforto ela tirou os olhos dos papéis e olhou em meus olhos, agora abrindo um sorriso completamente debochado que entregava exatamente tudo aquilo que ela sentia por mim.

- Pode entrar senhorita Amber, o "senhor Dylan" a espera para conversarem sobre a sua contratação - Não esperei ela falar mais nada, saí de sua frente e de seu olhar vitorioso indo direto para a porta da sala de Dylan que eu já sabia qual era.

Bati na porta duas vezes e ouvi a sua voz máscula e grave me ordenando que entrasse, respirei fundo e entrei, ele estava sentado a sua mesa, não tirou os olhos dos papéis que ali estavam, aproveitei o momento para observá-lo melhor, Dylan realmente mudou, ele estava mais másculo, seu rosto estava com um ar mais maduro, sua expressão era pesada, e não suave como costumava ser, ele estava muito mais bonito do que eu me lembrava, o choque de saber que era ele não tinha me deixado notar isso com tanta clareza na primeira vez que vim aqui, mas agora com calma...

- Minha secretária irá te mostrar a empresa assim que terminarmos aqui Amber, você vai trabalhar das oito as dezoito horas, terá uma hora de almoço. Temos um restaurante disponível para todos os funcionários, você poderá se alimentar lá. See chegar às sete e meia da manhã, poderá tomar café da manhã aqui também desde que as oito você já esteja arrumada para começar o serviço.

Ouvi atentamente suas instruções, a ideia de comer com os funcionários era levemente perturbadora para mim, porém, me mantive firme, não iria discutir, eu praticamente não tinha comida em casa, ter um lugar para tomar café e almoçar, já era mais do que eu precisava, eu poderia me acostumar a isso. Dylan se ergueu da mesa e me olhou de uma maneira diferente, eu ia abrir a boca para falar algo, mas ele foi mais rápido.

- Apenas o jantar que nós não fornecemos, mas creio que com seu salário você conseguirá comprar a própria comida. - Sua provocação foi uma afronta direta a mim, engoli duro nesse momento, pois não daria a ele o prazer de saber que me afetou.

- Então é basicamente isso Amber, por hora, você pode ir conhecer a empresa agora, e depois de ver tudo retorne aqui para que eu te explique sua função, suas atividades e te entregue o seu uniforme - Depois de um discurso de quase dez minutos ele finalmente o concluiu - Provavelmente só conseguiremos nos falar novamente no final do dia devido a minha agenda para hoje, mas não se preocupe, não precisará trabalhar hoje, apenas observe como tudo acontece e conheça seus novos colegas de trabalho, conversaremos melhor ao final do expediente.

Sem querer estender aquela situação, apenas assenti e me virei para sair da sua sala e dar de cara com Clara, a secretária de Dylan, que claramente me odeia por razões que eu sou incapaz de compreender, mas perfeitamente capaz de notar. Vi quando ela se levantou sorrindo e me guiou até o elevador dizendo que me levaria para conhecer toda a empresa hoje, mesmo contrariada fui em silêncio atrás dela.