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Não tinha como me casar com uma pessoa que não me respeitava, tudo se constrói na base da confiança, se eu não encontrei isso antes, seria impossível ter respeito em relação a mim depois do casamento, isso não séria algo que eu me submeteria nunca, por ninguém. As pessoas não mudam pelas outras, elas fingem mudar. No fundo, continuam as mesmas, e o fato de você querer que ela mude fará você e a ela infelizes, e sei que seriamos infelizes. Eu já me sentia assim. Já tinha aguentando tanta coisa, perdendo minha autoestima e amor próprio, me tirei do lugar de prioridade na minha vida.
Eu precisava dar um tempo para meu coração respirar, para minha mente voltar ao raciocínio normal. Precisava focar somente em mim e nos meus objetivos eu sentia que meus sonhos e planos estavam ficando para trás e isso vinha me incomodando, como assim eu deixaria de ir atrás dos meus desejos por causa de uma pessoa sem caráter algum, o sem caráter era ele, não eu. O grande erro do homem é simplesmente não valorizar a mulher que tem!
Antes de decidir terminar nossa relação, ainda tive que passar por muitas coisas enquanto estava com ele, nunca sai do lado dele quando ele foi preso por associação ao tráfico de drogas, apoiei em todos os momentos esperando por ele. A pena era para durar 6 anos e 8 meses, mas em 23 de novembro foi liberado do regime fechado com a mudança da compreensão sobre cárcere em segunda instância. Durante sete meses, dividiu-se entre a Bangu 9 e a Bangu 2. Fiquei com ele em todos os momentos e depois o fim foi estabelecido na nossa relação.
Após ter focado em mim novamente, voltei com meu projeto e criei uma marca de cosméticos chamada Use Badgall, com produtos direcionados para cabelos crespos e cacheados, a vivência deu frutos, sou agora EMPREENDEDORA. Promovo concurso para eleger uma embaixadora que represente o conceito da empresa, quero abrir portas para meninas, gays e mulheres trans. Não é só uma questão de beleza, é também de autoestima, principalmente para a mulher preta, crespa e periférica, já recebi mais de 30 mil inscrições. Quero fazer por elas o que não fizerem por mim!
Sai da favela para morar na barra e ficar mais perto dos meus negócios, porque era foda quando tinha que acordar às 5h da madrugada e já se tinha uma troca de tiro intensa, horário que morador tem que sair pra trabalhar e tendo que deixar seu filho numa creche ou na maioria das vezes em casa e a bala comia lá fora. São muitos que acabam perdendo emprego por não chegar no horário certo porque os chefes não compreendem tantos atrasos ainda mais quando se é trabalho fora do morro.
Minha mãe continuou na nossa casinha, não quis vir morar aqui comigo, mas continuo indo lá ver ela ou ela vem ficar comigo. Não sei mais como tá a comunidade, não sei se teve melhoria ou se só piorou a situação por lá, sei de poucas coisas por alto e prefiro assim. Costumo ir visitar minha mãe e vejo uns amigos por lá, saio de uma casa pra outra é basicamente isso, nem nos barzinhos paro quando vou lá. Mais vou falar pra vocês, sinto falta dos bailes, é nostalgia, me sinto em paz, fico tranquilona curtindo e dançando de boa, agora vou mais nas baladas que tem na zona sul. Vou sempre em umas bem babadeira, gosto muito, mas um baile é um baile!