Capítulo 5 05

Existe, mas só deseja viver sendo o centro das atenções, apenas um olhar e consegue que muitos olhos se dediquem a lhe dar, sem piscar, veneração; ficaram idiotas em um estalar de dedos, eu sou uma idiota comum a mais.

...

Como é o primeiro dia de trabalho?

Não sei como é para o resto do mundo, para mim, que não há dia mais feio que outro, este me pegou de surpresa. Quinze minutos antes das agulhas do relógio se posicionarem sobre o oito! Vou ao banheiro, já tenho o coração na mão, batendo freneticamente. Não posso chegar atrasada, seria terrível para mim, ainda por cima é o primeiro dia. Não quero causar uma má impressão, ser vista como a garota descarada incapaz de cumprir com o horário nem mesmo no primeiro dia. É uma imagem ruim que não desejo carregar.

Como se segunda-feira não pudesse ser pior, não há água, cortaram, nem eletricidade. Quero arrancar fio por fio e bater na parede. Impotente e irritada por não mudar a má sorte que me esmaga, saio do banheiro e no meu quarto procuro uma calça jeans apertada e um moletom cinza. Eu sei, não é a melhor cor, mas me representa demais e não tenho muito tempo para decidir o que escolher ou não do meu guarda-roupa.

Inquieta, olho o relógio, faltam apenas dez minutos. Nem mesmo sendo rápida, conseguirei chegar no horário. Não me despeço da mamãe, que para minha surpresa está na cozinha, se não é ela a causadora do barulho que consigo ouvir, não sei quem ou o que pode ser. Já saí voada de casa e do lado de fora me apresso para pegar um ônibus. Subo, não há um lugar onde possa sentar, então durante todo o trajeto fico de pé. Mas não me importa, só quero ansiosamente descer no meu destino. Embora o meio de transporte não vai parar tão perto daquela mansão imponente, que está localizada em uma área privilegiada de Nova York.

Finalmente vejo que estou chegando e é minha vez de descer. O resto do caminho percorro quase correndo. Estou cansada ao chegar no portão, só me falta colocar a língua para fora como um cachorro, tenho vontade até de me jogar no chão; o porteiro, com quem troquei algumas palavras ontem pela primeira vez, agora me cumprimenta mais amigavelmente e permite que eu passe.

-Obrigada. -consigo dizer com pressa para percorrer o resto do caminho.

O jardim atraente, a fonte elegante e possuidora de uma beleza irresistível, não me roubam a atenção, já não, só vejo a maçaneta na porta e a toco, além de soar o campainha duas vezes. Estou avisando minha chegada, terrivelmente atrasada. Não é Julia quem abre a porta, mas uma mulher madura, com cara de poucos amigos e com um uniforme negro, uma espécie de vestido que chega abaixo de seus joelhos. Parece uma freira.

-Bom dia, você deve ser a nova. Começo ruim, aliás -ela acrescenta sem sorrir, nem mesmo faz um gesto para fazer uma careta.

-E-eu... Sinto muito, não vai acontecer de novo -me desculpo sem saber onde enfiar a cabeça, estou envergonhada.

-Você chegou tarde, não vai mudar só pedindo desculpas, entre -ela se afasta -. Não vai continuar perdendo tempo aí fora.

Entro sentindo um terror, ela é difícil, nada amigável. Agora tenho mais medo de fazer as coisas erradas.

Minha vida é um fracasso!

-Sou Gênesis Granger -ela se apresenta, cravando seus olhos afiados em mim, não ajuda que sejam profundos e de um verde que te atravessa rapidamente -. A governanta, a partir de agora uma autoridade para você, depois do senhor De Castelbajac.

Assinto. Não pode ser, agora faz sentido.

-Quer dizer, você vai me dar instruções...

-Você entende bem, Aryanna.

E eu pensei que Julia faria isso.

- Vai colocar algo no meu relatório? - questiono alerta.

- Se você está se referindo ao atraso, apenas hoje vou deixar passar, não quero deixar o chefe de mau humor, muito menos ter que procurar outra pessoa para o trabalho. Além disso, há muito o que fazer - acrescenta soltando um suspiro sonoro.

Agradeço, ela não parece tão malvada como aparenta. Sorrio, já não me sinto tão insegura. Ou isso é apenas mais um deslize que não me derrubou completamente, pode ser que aconteça mais adiante.

- Obrigado, Gênesis.

- Senhora, Granger, por favor. - corrige.

- Desculpe, senhora Granger - repito forçando um sorriso.

Já chegamos a uma parte da mansão que eu não tinha visto. É uma sala enorme onde repousam móveis, enormes quadros na parede com luz focalizada. A atmosfera é palaciana, também perturbadora, de repente me transportei para um palácio, tem aparência de realeza. É uma combinação certeira entre o clássico e o moderno. O que me sobrecarrega é que essas não são pinturas quaisquer penduradas nessas paredes brancas com toques dourados em detalhes. É ele, de novo ele, um homem que nasceu para ser retratado, que é ardente apenas olhando para ele pintado. Desvio o olhar, que vergonha ser capturada em tal indiscrição.