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Anne aproveitou a manhã para visitar os pais; precisava de mais alguns ingredientes para preparar os remédios que levava consigo quando ia assistir suas pacientes no ato de dar a luz a seus bebês. Era engraçado vê-los juntos, depois de tantos anos separados. Ao mesmo tempo, sentia-se feliz em constatar que eles finalmente haviam conseguido se entender, depois de tanto sacrifício por parte de seu amado pai.
Filho da nobreza, fora expulso de casa e deserdado pelo pai, quando decidiu dizer não ao casamento arranjado pelo pai com uma jovem da nobreza. O pai da moça era muito rico e seu dote era bastante generoso. Mas o coração de seu pai já pertencia a sua querida mãe. Assim como ela, sua mãe aprendeu com seu pai a usar as ervas e plantas para ajudar no parto e na cicatrização de feridas. O senhor Bento de Oliveira era dono de uma inteligência rara e, sua paixão pela natureza o levou a dedicar-se a estudar minuciosamente as plantas. Ele não queria que sua mãe continuasse a trabalhar como parteira. Mesmo deserdado pelo pai, suas habilidades e o dote que recebeu de sua mãe, lhe permitiam oferecer para elas condições de vida muito melhores do que a maioria dos aldeões das redondezas. Mas dona Esther Romano não era de desistir fácil do que queria e, o ofício de parteira, que como eu aprendera com a mãe, era para ela como respirar. Se lhe faltasse, sentia que poderia morrer. Antes de qualquer engano, acho melhor esclarecer. Não herdei esse lado emocional e dramático de minha mãe. Sou reservada como meu pai e estas diferenças acabaram levando meu pai a ir morar na cabana de caça, a uma hora de caminhada dali. A cavalo o trajeto era bem mais rápido mas devido a neve, Graciosa, minha adorável e fiel companheira pisou em um buraco e feriu a pata. Não era grave e com sorte, iria sarar antes do nascimento do bebê de Joanne, que era esperado para as próximas semanas. Antes mesmo de entrar, avistei ao longe uma figura oculta numa capa preta, vindo dos lados do castelo. Não era comum as mulheres do castelo buscarem meus serviços. A condessa de Antarum deixara claro que minha presença não era bem vinda no castelo e, por ser amiga pessoal da rainha, sua palavra soava como ordem. Assim, fiquei esperando o visitante se aproximar para saber o que o trazia naquele galope desesperado até minha casa.
Quando o cavaleiro estava a poucos metros, sentiu um já conhecido arrepio na nuca e o coração disparar e, antes que pudesse pensar que era impossível, o próprio barão desmontou na frente dela. Pensou que não fosse vê-lo tão cedo. Soube por Rafaela e Miguel que o rei o havia enviado para a fronteira para apaziguar alguns conflitos entre seu povo e os habitantes do reino vizinho.
Claro que não poderia mencionar isso, já que os dois jovens tinham por hábito desde criança, inventar brincadeiras para enganar seus acompanhantes e fugir para ir visitá-la, sem que ninguém o soubesse. Ou melhor, havia um cúmplice nesta história. O padre Anthony, participava da farsa a contragosto. Por ele, a verdade já teria vindo à tona. Como padre, sentia-se cada dia mais contrariado por ser obrigado a mentir mas por obediência a sua mãe e ao seu superior, que obedecia às cegas o que ela lhe pedia, guardava aquele segredo, pedindo ao Senhor Jesus que tivesse misericórdia dele e não fosse mais obrigado a mentir.
- Mas .... o que é isso na pata do seu cavalo?
- Pensei que fosse óbvio! Uma atadura!
- Estou vendo que é uma atadura - retrucou impaciente - mas justo agora? Preciso levá-la para o castelo e não contava com isso.