Capítulo 3 ( Capítulo 3 ) Ecos do passado

A manhã seguinte trouxe consigo uma luz suave que filtrava através das cortinas do quarto de Ana, mas a beleza do dia não conseguiu dissipar a névoa de incerteza que pairava sobre ela. Sentada na borda da cama, ela olhou ao redor, absorvendo os detalhes daquele espaço luxuoso que ainda parecia tão estranho. O cheiro de café fresco invadia o ar, insinuando-se pela porta entreaberta e atraindo Ana para fora de sua solidão.

Ao descer as escadas, ela encontrou a cozinha repleta de funcionários que se moviam com precisão, como engrenagens em uma máquina bem ajustada. Dona Elvira estava entre eles, supervisionando tudo com um olhar atento. Ana sentiu um frio na barriga ao perceber que estava prestes a entrar em um mundo completamente diferente, onde cada movimento era observado e cada palavra poderia ser interpretada.

"Bom dia, Senhora Ana", disse Dona Elvira, com um sorriso cordial. "O senhor Henrique pediu para que você se juntasse a ele no escritório após o café da manhã."

Ana assentiu, tentando esconder a ansiedade que brotava dentro dela. O café foi servido em uma mesa elegantemente posta, e enquanto ela se sentava para comer, não pôde deixar de notar a opulência que a cercava. Cada prato era uma obra de arte, mas a comida parecia ter perdido o sabor para ela.

Após o café, Ana subiu até o escritório, seus passos ecoando pelo corredor vazio. Ao abrir a porta, encontrou Henrique em uma mesa repleta de documentos e gráficos. Ele olhou para cima e ofereceu um sorriso breve, mas seu olhar logo se tornou sério.

"Obrigado por vir", disse ele, gesticulando para que ela se sentasse. "Precisamos discutir alguns detalhes sobre nosso acordo e como podemos torná-lo mais vantajoso para ambos."

Ana sentou-se cautelosamente, observando-o enquanto ele falava com precisão e clareza. À medida que Henrique explicava os termos do contrato e as implicações da união deles, Ana começou a perceber que ele não era apenas um homem de negócios implacável. Havia uma estratégia por trás de cada palavra, uma mente afiada que parecia antecipar cada possível obstáculo.

"Eu entendo que pode parecer muito repentino", continuou Henrique, notando a expressão hesitante dela. "Mas essa união é mais do que um mero acordo financeiro. É uma oportunidade para ambos."

"A oportunidade de quê?" Ana perguntou, sua curiosidade superando o medo momentâneo.

"De reescrever nossas histórias", respondeu ele, seus olhos intensos fixos nos dela. "Você está aqui por sua família, e eu estou aqui por razões semelhantes. Juntos podemos criar algo maior do que nós mesmos."

Ana ponderou sobre suas palavras enquanto Henrique prosseguia com os detalhes práticos. No fundo de sua mente, no entanto, havia um eco distante de dúvidas e desconfianças. O passado dela ainda pesava como uma sombra invisível; as lembranças de sua vida anterior não poderiam ser facilmente apagadas.

Após a reunião no escritório, Ana decidiu explorar mais da mansão enquanto tinha a chance. Cada sala parecia contar uma história própria: obras de arte impressionistas adornavam as paredes da galeria; uma biblioteca imensa abrigava livros raros; e um jardim externo exibia flores exóticas em arranjos meticulosamente planejados.

Enquanto caminhava pelo jardim, Ana encontrou Stella novamente. A jovem estava sentada em um banco sob uma árvore imponente, com um livro aberto em seu colo. Ao notar Ana se aproximando, levantou os olhos e sorriu.

"Você está se adaptando bem?" perguntou Stella com um tom provocativo.

"Estou tentando", respondeu Ana cautelosamente.

"Você sabe," Stella começou com um brilho travesso nos olhos, "Henrique pode parecer inabalável por fora, mas tem seus próprios segredos. Este lugar é cheio deles."

Ana franziu a testa diante da sugestão implícita nas palavras de Stella. "Que tipo de segredos?"

Stella balançou a cabeça levemente como se estivesse avaliando suas palavras antes de falar novamente. "Apenas tenha cuidado com quem você confia aqui. Nem tudo é o que parece."

As palavras dela pairaram no ar enquanto Ana se afastava lentamente da jovem enigmática. O aviso soou como um sino distante em sua mente - ecoando o sentimento crescente de que ela estava apenas começando a desvendar os mistérios daquele mundo cercado por riqueza e poder.

Quando voltou para seu quarto mais tarde naquela noite, Ana olhou pela varanda novamente para as estrelas brilhantes no céu escuro. Ela sabia que precisava descobrir não apenas quem era Henrique Rondon - mas também quem ela mesma se tornaria nesse novo capítulo inesperado da vida dela.

A batalha pela confiança e pela verdade estava apenas começando; e no fundo do seu coração pulsava uma determinação silenciosa: descobrir os segredos escondidos na mansão e nas sombras do passado seria parte da sua jornada para encontrar liberdade e felicidade novamente.

            
            

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