Capítulo 4 Casado

Quando o Lockdown acabou e as fronteiras foram abertas, Jhonny precisava resolver a bagunça que a volta ao trabalho presencial das empresas do pai formaram.

Em meio a todo o caos, Juliete não quis vir para o Brasil para se casar. Disse que terminaria a faculdade como combinado. Jhonny a convenceu a vir para o Brasil para conversarem, e no primeiro jantar, de apresentação dela para a família, Eleanor mencionou a cláusula de casamento.

Sheila explicou para Juliete do que se tratava e disse que ela poderia se casar e voltar para a França e terminar a faculdade. E ao fim ela poderia enfim vir morar no Brasil e começar a vida com Jhonny . Eleanor ficou furiosa em saber que ele só teria que se casar, e não com ela.

Juliete pediu naquela noite para dormir em quarto separado, e se poderiam conversar no dia seguinte. Jhonny achou que se usasse a manhã para conversar com ela, ainda daria tempo de conhecer o simpático casal que lhe apresentaria um grande projeto que ele achou sensacional e no qual estava disposto a investir.

Pela manhã, Juliete ainda não estava muito acostumada com o fuso horário, então se levantou por volta das 11. Ele disse que ela se atrasou e ele precisaria almoçar com possíveis parceiros que vieram do interior para esse encontro. Ela pediu pra ir com ele e que conversariam no carro. Ele achou ótimo e então saíram para o encontro.

E durante o trajeto, Juliete disse que não se casaria com ele. Que aceitou porque não imaginou que viveriam no Brasil e que não deixaria seu país. Jhonny tentou argumentar, explicou que precisava cuidar dos negócios do pai, que foi preparado para isso a vida toda, mas Juliette estava irredutível.

Quando ele então sugeriu deixar tudo para Eleanor e Sheila administrar e voltar para a França com ela, não percebeu que já estava com o pé mais pesado no acelerador. Ela olhou pra frente e apenas disse que não queria isso, que conheceu outra pessoa e que fez isolamento com ele enquanto Jhonny estava no Brasil.

Foi um segundo que ele olhou pra ela e perguntou:

- Na nossa casa?

Nesse segundo, ele não viu que furou o farol vermelho e que estava rápido demais. Nesse segundo, o lado do passageiro foi atingido em cheio por um carro. Jhonny se lembra de ouvir barulho de batida, ferro retorcido. Se lembra do airbag acionado e de Juliete sendo jogada contra ele, bateu a cabeça no vidro fumê de seu lado e antes de apagar, podia jurar ter visto os faróis do outro carro no lugar do acento da sua amada.

Quando acordou no hospital, viu Sheila muito nervosa sentada ao lado de sua cama, o olhando com lágrimas nos olhos. Se lembrou de Juliete voando para ele e do farol do outro carro.

- Mamãe...

- Ai, Alê. Que bom que você acordou. Rezei tanto por você, meu filho. Não me dê outro susto desses, por favor, não aguento perder mais ninguém.

- Mãe, a Ju...

- Vocês dois foram colocados em coma induzido, filho.

- Ela está viva?

- Ainda não acordou, mas sim, está viva. Se machucou mais que você.

Jhonny sabe que a madrasta sempre foi muito sincera e direta, e não iria mentir pra ele. Então perguntou sobre o motorista do outro carro.

- Infelizmente o casal não resistiu, morreram no local.

Jhonny se desesperou mortalmente com isso. Não entendia como teve leves escoriações, enquanto matou duas pessoas e colocou outra em coma profundo.

Procurou a família do casal e descobriu que a única filha deles morava na Capital, mas não teve mais informações. Descobriu também que coincidentemente o casal que matou seria os que iriam se encontrar com ele. Soube então que a empresa deles era em Mairiporã e procurou. Mas obteve a resposta de que eles eram apenas funcionários que roubaram o projeto e estavam tentando vender. O dono quis negociar com ele o projeto, mas ele disse que só faria isso quando a filha do casal o procurasse.

Ele sentia que devia isso àquela moça. E em meio ao desespero, a culpa , a tragédia que se abateu em sua vida, Eleanor o procurou se oferecendo para casar com ele, já que ele só tinha mais 15 dias para cumprir o testamento.

Alain tinha vindo da França há alguns meses para ajudá-lo a organizar a bagunça que a empresa virou. Jhonny o procurou e pediu que ele lhe encontrasse uma mulher para se casar com ele em no máximo dez dias.

Alain achou que o amigo estava ficando louco.

- Bateu com a cabeça mais forte do que imaginávamos?

- Não. Preciso de uma esposa que não vá atrapalhar minha vida e tire Eleanor do meu pé. É simples!

- E onde vou achar uma mulher assim, cabeça louca?

- Sei exatamente onde e como. Eu não posso fazer isso. Não posso ser exposto. Mas você faz.

- Você faz parecer fácil. Como seria?

- Você vai procurar nas universidades as moças que trancaram recentemente. De preferência dos primeiros anos. Tenho um plano a longo prazo. Depois vai investigar qual delas foi por problemas financeiros. Quando achar a melhor opção, você vai comprá-la.

- Porque na universidade?

- Primeiro porque precisa ser uma moça culta. Se eu precisar apresentar, Eleanor não vai engolir uma pobretona sem educação. Depois porque moças mais simples costumam ter mais caráter, e estar acostumadas a viver sem dinheiro. São mais difíceis de comprar. E por último, vou vigiá-la de perto no final do contrato, e preciso que seja alguém que esteja inteirada do nosso ramo. E ninguém melhor do que uma estudante, você não acha?

- Você pensou tudo isso em uma hora que Eleanor te perturbou?

- Claro que não. Elaborei e melhorei esse plano ao longo dos anos de faculdade, para o caso de meu pai ter um mal súbito ou ela envenenar ele. Foi algo totalmente esquecido nos anos que vivi com a Ju, pois achei que não precisaria. Mas agora, preciso colocar em prática. Portanto, sai logo daqui e vai procurar minha esposa. Depois que achar, te digo qual vai ser a abordagem e o que você vai oferecer.

Alain foi rápido e encontrou a moça perfeita. Quando deu a notícia a Jhonny , queria contar o que mais descobriu, mas ele se negou. Disse que não queria saber nada da moça até ter que conhecê-la. Em três dias, a proposta foi feita e aceita e ele comprou um juiz para fazer o casamento dos dois. Em dez dias eles estavam casados e ela assinou um contrato de 5 anos que não pediria o divórcio nesse tempo. Em troca ela poderia ficar com a cobertura que ela morava que tinha sido vendida, ganhou um carro novo que seria trocado a cada dois anos, teve a faculdade paga integralmente e ganhou um cartão Black com um limite estrondoso para despesas pessoais nesses 5 anos. Também assinou a certidão de casamento sem nem ler o nome do marido, Alain descobriu que não lhe interessava também.

Reuniu tudo o que precisava, a certidão, o acordo e a filmagem de assinatura do "casamento" do amigo e lhe entregou. E teve a orientação de criar o projeto de engajamento feminino na faculdade.

Nos seis meses seguintes, acompanhou a vida da moça e pagava a fatura do cartão dela de sua conta pessoal e Jhonny lhe devolvia o dinheiro. Assim, ninguém da empresa poderia rastrear a esposa secreta do CEO.

Mas aí sua mãe teve Covid e ele teve que voltar para a França. Jhonny disse pra ele ir em paz, mais seis meses e ele mesmo conheceria a própria esposa e cuidaria dela.

Começou a ter curiosidade, pois a moça não gastava muito e os relatórios mensais que os homens de Alain faziam, não mostrava uma pessoa que se metia em confusão. Ela levava a sério seus estudos e não era muito de passear. Devia ser uma CDF que não se divertia...