Sem o mínimo de vontade, Eveline seguiu até o quarto da madrasta. Mal colocou os pés no cômodo, foi surpreendida por um burburinho de vozes exaltadas. As filhas de Magda começaram a xingá-la, e antes que pudesse se defender, levou um tapa no rosto, que a fez cair sobre uma poltrona próxima.
A voz furiosa de Magda soou logo em seguida:
- Diga agora mesmo, sua vagabunda! O que você fez para conquistar a atenção do magnata russo? Você estragou o futuro de uma das minhas filhas, sua idiota. E vai pagar caro por isso!
Assustada com a recepção agressiva, Eveline implorou com os olhos arregalados e a voz trêmula.
- Por favor, madrasta, eu juro que não tenho nada com aquele senhor. É ele quem me persegue! Mas fique tranquila, eu já disse que não o quero. Pode seguir com seus planos. - murmurou segurando a face.
- Mentira! - gritou Dafne, com ódio nos olhos. - Essa safada deve ter se oferecido para o magnata russo enquanto o levava ao banheiro ou pro jardim!
- Não, por favor! Isso não é verdade, Dafne! Eu juro! - Eveline suplicou, a voz falhando.
- Então explique pra mamãe como você conhece esse homem, sua pobretona! Não é possível um homem como ele se interessar por uma empregada como você! - acusou Gina, com sarcasmo venenoso.
- Eu nunca o conheci antes, juro! - disse Eveline, quase chorando. - Ele só pode estar louco! Além disso, como poderia gostar dele? Ele comprou tudo que era do meu pai por um valor muito abaixo do justo!
Magda, furiosa, desferiu outro tapa no rosto de Eveline, que ainda chorava. Ainda sentada, a jovem mal conseguia respirar quando a madrasta gritou:
- Sua burra! As terras e a empresa do seu pai estavam à beira da falência. Douglas foi até generoso comigo! Eu não tenho paciência e muito menos tempo para lidar com negócios falidos, e você sabe disso. Agora fale a verdade: onde e quando conheceu o magnata? O que aconteceu entre vocês dois? Se não me disser, vou te mandar ainda hoje pro colégio interno!
Sem saída, tremendo de medo, Eveline cedeu:
- Foi na noite do baile de máscaras, aquele que a senhora não deixou eu ir. Eu saí escondida com minhas amigas, Lud e Priscila. Fomos a uma festa que, descobri depois, era na casa do senhor Haras. Ele falou comigo lá. Estava visivelmente bêbado, e tentou me beijar logo que começou a conversar. Mas eu fugi da festa, e posso provar! O taxista Dan me trouxe para casa naquela noite.
- Não acredite nela, mamãe! - gritou Dafne. - Ela deve ter dormido com o magnata e enfeitiçado ele! Todo mundo sabe que a mãe dela era uma bruxa cheia de feitiço!
- Concordo com a Dafne! - completou Gina. - Eveline deve ter lançado um feitiço, porque o homem estava vidrado nela!
- Calem-se, meninas! Deixem-me pensar. Saíam as duas, agora! Preciso de uma conversa privada com essa ordinária.
As irmãs obedeceram a contragosto. Assim que a porta se fechou, Magda se virou para Eveline com um olhar frio e ordenou:
- Tire a roupa e deite-se na cama. Quero confirmar se você está dizendo a verdade.
Chocada, e vermelha e corando de vergonha, Eveline hesitou, mas temendo uma nova agressão, obedeceu. Magda, com frieza e rapidez, examinou a jovem.
Com um suspiro resignado, mandou que ela se vestisse.
Humilhada, Eveline vestiu-se com as mãos trêmulas. As lágrimas escorriam por seu rosto quando disse, num fio de voz:
- Viu, madrasta? Eu não menti e nunca tive nada com aquele homem. Eu o odeio! Não se preocupe, não vou atrapalhar seus planos com as suas filhas!
- Claro que não! - retrucou Magda, seca. - Você é feia, quase acima do peso. Acha mesmo que pode ser mais atraente que minhas filhas? Só rindo! Você é o tipo de mulher com quem os homens apenas se divertem. Minhas filhas, sim, são para casar!
- Sim, madrasta. Eu concordo com a senhora. E eu nunca quis me casar, não com esse senhor. Só quero fazer meu curso de enfermagem.
- Ótimo. Então vamos fazer um trato. Você ficará fora de cena. Toda vez que o magnata vier aqui, ficará no quarto. Só sairá para suas aulas. E quando se formar, pagarei sua formatura e o curso de enfermagem que você quer. Mas enquanto uma das minhas filhas não se casar com ele, você não cruza o caminho de Douglas Haras.
- Sim, senhora, está bem.
- Agora vá terminar de arrumar a casa, feche tudo e vá dormir. Amanhã cedo, antes de ir pro colégio, quero meu café da manhã pronto. E não esqueça do bolo de aveia com nozes italiano.
- Claro, senhora...
Ainda muito abalada, Eveline saiu do quarto chorosa. Enfiou a mão no bolso do uniforme preto e puxou um pequeno lenço bordado, lembrança de sua mãe. Limpou o rosto e seguiu para terminar de organizar a casa. Os funcionários do buffet já haviam ido embora.
Assim que a viu, Laura correu até ela e a acolheu em um abraço afetuoso.
- Venha cá, minha menina... Meu Deus do céu! Eu ouvi tudo lá de baixo! Tive que segurar meu marido para ele não subir! E agora me arrependo, porque aí não querida, a sua madrasta te bateu?!
- Sim, mas isso não foi o pior... - Eveline respondeu com a voz embargada. - Ela me fez tirar a roupa para conferir se eu ainda era virgem!
- Meu Deus, minha nossa senhora! Essa mulher enlouqueceu! Ela devia era verificar as filhas dela, que são umas promíscuas! Mas me diga, Eveline porque essa víbora, pensou isso, de você?
- Ah, Laura, foi porque eu saí escondida naquela noite do baile. Fui com a Lud e a Priscila à festa do tal forasteiro, o CEO Douglas Haras. Lá, ele tentou me beijar. Eu rejeitei, claro você sabe o quanto eu odeio aquele homem.
Autora: Graciliane Guimarães