Com movimentos lentos e pesados, ela se ergueu, sentindo a cabeça latejar ao ritmo de suas pulsações. O espelho refletia a imagem de alguém que parecia ter vivido uma noite selvagem. Enquanto a água quente do chuveiro caía sobre ela, lavando os resquícios da festa, as memórias da noite anterior começaram a emergir em sua mente.
- Como eu pude? - murmurou Ji-Hye para si mesma, as palavras se perdendo no som da água.
O rubor subiu ao seu rosto, uma maré de vergonha que a aquecia mais do que a própria água do banho. Ela, uma mulher de 38 anos, havia se deixado levar pela atmosfera intoxicante da balada, rendendo-se a um beijo apaixonado com Ha-Jun, um homem 11 anos mais jovem.
- Isso não é como eu... - A frase ficou incompleta, sua voz abafada pelo vapor.
Ela se perguntava se a culpa que sentia era pelo ato em si ou pela sociedade que ditava normas sobre quem ela deveria ser. Ji-Hye sabia que era uma mulher independente, dona de suas escolhas, mas ainda assim, a sensação de ter quebrado um tabu a incomodava.
- Eu estou louca? - questionou-se, encarando o reflexo embaçado no vidro do box.
A água continuava a fluir, e com ela, Ji-Hye esperava que sua insegurança e dúvidas se esvaíssem ralo abaixo. Ela precisava se recompor, aceitar que a vida é feita de momentos espontâneos e que, às vezes, a loucura é apenas um sopro de liberdade em uma existência regrada demais.
Ao lembrar do gosto dos lábios de Ha-Jun, Ji-Hye sentiu uma mistura de sensações. Havia um calor que se espalhava por seu peito, uma doçura que remetia ao sabor dos drinks que haviam compartilhado. Era uma memória que trazia consigo um arrepio, uma recordação tão vívida que por um momento ela quase pôde sentir novamente o toque suave e a pressão firme dos lábios dele contra os seus.
Ela se pegou sorrindo sozinha, o coração batendo um pouco mais rápido ao reviver o momento. A vergonha inicial deu lugar a uma aceitação tácita de que, apesar das convenções sociais, aquele beijo havia sido um ato de pura conexão humana, algo que transcendeu idade ou expectativas.
- Foi real - sussurrou Ji-Hye para si mesma, tocando seus próprios lábios como se para confirmar a realidade daquela lembrança. - E foi lindo.
A sensação do beijo permaneceu com ela, um segredo doce que a fez questionar menos e sentir mais, um lembrete de que a vida é feita para ser vivida com intensidade, independentemente dos números que definem a idade.
Ji-Hye desceu para o café da manhã com a mente ainda em turbilhão, os eventos da noite anterior girando em sua cabeça como um carrossel de emoções. Ao entrar no espaço iluminado pelo sol da manhã, seus olhos encontraram Ha-Jun, que já estava sentado com um café e um sorriso tranquilo.
O coração de Ji-Hye deu um salto, e por um breve momento, ela considerou se virar e voltar para a segurança do seu quarto. A vergonha tingia suas bochechas com um rubor que ela não podia esconder, e a incerteza a fez hesitar. Mas então, Ha-Jun a viu e acenou, seu sorriso se ampliando ao reconhecê-la.
- Bom dia, Ji-Hye! - ele chamou, e havia uma calorosa boas-vindas em sua voz.
Ela respirou fundo, reunindo a coragem para enfrentar o momento. Com passos que tentavam esconder seu nervosismo, Ji-Hye se aproximou da mesa.
- Bom dia, Ha-Jun - ela respondeu, sua voz mais firme do que ela se sentia.
Ha-Jun parecia genuinamente feliz por vê-la, e isso ajudou a aliviar parte da tensão que Ji-Hye carregava. Eles começaram a conversar sobre coisas simples, o clima, o delicioso aroma do café, e aos poucos, Ji-Hye começou a se sentir mais à vontade. O beijo da noite anterior pairava entre eles, um elefante invisível na sala, mas a maneira descontraída de Ha-Jun.
Enquanto o aroma do café recém-preparado se misturava com o cheiro doce das frutas no buffet do café da manhã, Ha-Jun decidiu tocar no assunto da noite anterior. Ji-Hye, que já estava se sentindo vulnerável, sentiu uma onda de pânico ao ouvir suas palavras.
- Sobre ontem à noite... - começou Ha-Jun, olhando para ela com um olhar inquisitivo.
Ji-Hye o interrompeu rapidamente, sua voz um pouco mais alta do que pretendia.
- Você acha que bebeu demais? - perguntou ela, evitando seu olhar. - Eu mal me lembro do que aconteceu.
Ha-Jun pareceu surpreso por um momento, mas logo um sorriso compreensivo apareceu em seu rosto.
- Ah, sim, talvez eu tenha exagerado um pouco - concordou ele, percebendo a necessidade dela de manter as aparências.
Ji-Hye sentiu uma pontada de alívio por ele não ter insistido no assunto. Ela estava constrangida, confusa sobre como lidar com a situação e com os sentimentos que o beijo havia despertado. Ao fingir amnésia, ela buscava uma saída, um jeito de manter a dignidade enquanto lutava internamente com a realidade de seus desejos e da diferença de idade entre eles.
O café da manhã continuou com conversas triviais, mas o elefante na sala permanecia, invisível mas imenso, enquanto Ji-Hye navegava pelas águas turbulentas de suas emoções e do que a noite toscana havia significado para ela.
Ao ouvir Ha-Jun mencionar a noite anterior, Ji-Hye sentiu um turbilhão de emoções. Inicialmente, uma onda de ansiedade a atingiu, temendo que a conversa pudesse avançar para territórios que ela não estava pronta para explorar. Havia também um vislumbre de esperança, uma parte dela que desejava reviver a conexão que haviam compartilhado.
No entanto, quando Ha-Jun aceitou sua desculpa e concordou com sua alegação de ter bebido demais, Ji-Hye sentiu um misto de alívio e decepção. Alívio por ele não ter pressionado o assunto, permitindo-lhe manter a fachada de esquecimento. Decepção, porque parte dela queria que ele soubesse que ela se lembrava - que ela valorizava o que havia acontecido entre eles, mesmo que estivesse confusa sobre como proceder.
Ela se sentiu dividida entre a gratidão pela sensibilidade de Ha-Jun e a tristeza por ter que esconder seus verdadeiros sentimentos atrás de uma máscara de indiferença. Era um jogo delicado de emoções, onde cada palavra e gesto carregavam um peso que só ela podia sentir.