Capítulo 3 O Mar

A areia debaixo dos seus pés era macia, sua cor era bem bonita, um bege meio esbranquiçado. Quando chegou à beira do mar parou, as pequenas ondulações que as ondas faziam chegavam ate a ponta dos seus pés. A agua estava muito gelada, então recuou um pouco só por instinto mesmo, o mar naquela época sempre era muito gelado, mas isso nunca a impediu de entra.

Ela olhou para trás em busca dos pais, seu pai ainda estava brincando com o cachorro, mas sua mãe tinha se levantado da cadeira e estava encostada em um dos pilares da varanda, ela estava observando a filha, e quando Lyvin a olhou ela sorriu e balançou a cabeça incentivando a menina a entrar na água, Lyvin sorriu de volta, e virou-se pra entrar na água.

Quando olhou para o mar se assustou, o que ela via na sua frente não era mais aquele mar azul que tinha contemplado poucos segundos atrás, em vez disso o mar que estava na sua frente era completamente negro, de um aspcto pior que o piche. Ela observou assustada que dentro dele havia inúmeras formas diferentes de monstros e demônios que brigavam entre si, a maioria deles tinham garras e escamas, caldas e chifres. Feitos com uma gosma negra que tinha um cheiro horrível de podridão. E tinha mais, muito mais. Haviam esqueletos ali, inúmeros deles, alguns ainda com a pele podre nos ossos, cheios de larvas e insetos saindo de suas orbitas, e todos eles estavam sorrindo, um sorriso horrendo e endiabrado. Mas isso nem chegava a ser pior do que estava à cima de sua cabeça, quando ela olhou para cima o céu estava vermelho, não aquele vermelho de varias tonalidades do entardecer, mas um vermelho escuro como sangue, as nuvens estavam cheias de sangue. A única coisa normal ali pareciam ser os trovões e raios que riscavam aquele céu, mas o barulho que faziam não era nada normal, era horrível, e se misturava com os gritos e risadas das criaturas que estavam na água. Tornando o som algo bizarro e arrepiante. Ela tentou tampar o som com as mãos, mas era impossível, ele já avia penetrado em sua cabeça.

As nuvens começaram a se mover rapidamente se agrupando, como se fosse cair uma tempestade, quando ela olhou novamente para elas uma gota caiu na sua testa escorrendo lentamente por seu nariz, e antes que pudesse cair ela levantou o braço e deixou que ela escorresse ate a palma de sua mão.

Era sangue aquela pequena gota era sangue, ela não precisou de muito tempo para constatar isso. Ela já estava horrorizada demais para continuar ali olhando para aquilo tudo.

Ela tentou se mover, para voltar para a casa, mas seus pés não se moviam não a obedeciam, seu corpo parecia ter paralisado. Ela olhou em volta, e se apavorou ainda mais, depois de fazer isso. A praia estava vazia, não tinha mais nenhum sinal de que seus pais e o cachorro estivessem lá. O dia já estava acabando o sol já tinha ido embora, estava começando a escurecer, ela estava desesperada.

Lyvin começou a sentir um peso no coração, a praia estava vazia então ela olhou para o ultimo lugar que lhe sobrara, a casa. Foi um alivio ver que seus pais estavam lá, mas não parecia os mesmos pais que estavam ali há dez minutos, eles estavam diferentes, estavam mais jovens, sua mãe estava linda em um vestido azul bebê que caia em ondas perfeitamente em seu corpo, seus cabelos estavam soutos e se balançavam levemente com o vento. Seu rosto estava tão alegre, tão puro. Seu pai não estava muito diferente dela, estava muito bonito também, com o cabelo levemente desarrumado e parecia muito à vontade com uma bermuda e uma camisa solta no corpo, e ele estava feliz. Como eles poderiam estar felizes, será que não viam o que estava acontecendo ao redor.

Lyvin tentou chama-los, mas sua garganta tinha se fechado e nenhum som saiu de sua boca, eles nem se quer notaram isso, simplesmente sorriram, e juntos levantaram as mãos acenando-lhe um adeus. Em volta dos dois começou a crescer uma pequena luz que logo os consumiu inteiramente até não sobrar mais nada, e foi diminuindo ate desaparecer deixando-a sozinha na praia em completa escuridão.

Ela já não enxergava mais nada, nem conseguia mais ouvir um único som, além do seu coração. Tudo que sentia era uma brisa em sua volta, suave e quente, como que se quisesse acalma-la. Mas não estava adiantando, as batidas de seu coração só aumentavam a cada segundo. Ela estava com medo, não conseguia mais ver seus pais, estava sem ninguém. Ela sentia uma vontade tão grande de chorar, era como se algo tivesse sido lhe arrancado antes mesmo que tivesse a chance de lutar contra isso, antes que tivesse a chance de se despedir. Era agoniante essa sensação.

Então a brisa que ela avia sentido antes se tornou um sussurro insistente que ela se esforçava para ouvir em meio as lagrimas e o caos que estava sentindo. Lyvin ouviu aquela voz reconfortante dos seus pais dizendo "nós te amamos", e assim que a ultima palavra foi dita a escuridão que a cercava foi mais forte que tudo e consumiu seus próprios pensamentos. E o fim se aproximou rapidamente

            
            

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