/0/12249/coverbig.jpg?v=a2ff82828ec67f57be4d704859c33151)
"Rogai por nós, Elora Lincard.
Aquela, cujo a vida foi concedida pela graça Divina.
Glorificada seja Elora.
Companheira do Reino do Sol
Bondosa Imperatriz de Gesinthe
Filha da Primavera
Sacerdotisa do Povo
Mãe da Terra.
Que a Sua bondade e misericórdia alcance a todos."
Desde tempos imemoriais, deuses e humanos passaram a conviver no mesmo plano. Essa convivência iniciou-se quando a primeira Divindade ascendeu ao reino Celeste, unindo o mundano ao espiritual. Esta união formou o laço mais poderoso que poderia existir: a fé de um crente fiel, é capaz de mover os céus.
Os deuses, desejosos de estarem sempre próximos de seus filhos mortais, utilizavam a graça divina para dar vida aos receptáculos na Terra, conhecidos como Santos. Com pais humanos, mas filhos dos céus, estes seres escolhidos carregavam a essência dos deuses, atuando como suas mãos e olhos no mundo humano.
No entanto, nem todas as influências no mundo humano eram bênçãos. Assim como os deuses ofereciam proteção e cuidado, os demônios emergiam do submundo, habitando as mentes dos homens, tentando e provocando-os constantemente, destruindo tudo aquilo que é bom.
O primeiro Deus, com sua infinita misericórdia, criou um portão para proteger a humanidade dos horrores do submundo. Este portão deveria manter as forças demoníacas confinadas, mas o equilíbrio entre luz e trevas é delicado. E assim, a Guerra sem Fim começou.
Ninguém espera ter sua filha proclamada Santa e futura princesa imperial, ao visitar o templo em um domingo de manhã, mas para Loura Usselis, a filha mais jovem da casa Ducal do Sul, foi um impacto ainda maior, a pobre garota não havia sido apresentada à sociedade ainda, não havia se comprometido a nenhum matrimônio, ela não faz ideia de que filha é essa, que o oráculo está falando, e por razão o velho homem está ajoelhado aos seus pés. Murmúrios e cochichos, eram ouvidos dentro do antigo templo, mas a família ducal não ousava dizer uma palavra, temiam piorar a situação. Subitamente o velho se levanta, e segurando em uma das mechas do cabelo vermelho da chorosa Loura, diz:
- Não te preocupes, pequena garota. - Sua voz é calma e carinhosa. - Não tens ideia de quão abençoada és. - Aponta para a lisa barriga da jovem - Essa criança está destinada a grandes feitos - o velho sobe no palanque, levando a atenção de todos a frente do grande salão. - O fruto do amor da Deusa Louriysca por nós - erguendo as mãos aos céus, grita - Louvada seja a futura Santa! - fazendo que todos no recinto gritem em empolgação e esperança, deixando os cochichos para trás, todos, menos a família ducal e a jovem Loura, que se desesperava ainda mais, além de grávida, seu bebê é celestial. Que infeliz destino terá essa criança, pensava. Com o fim da comoção, o oráculo ordenou que a notícia fosse espalhada, enviou emissários ao palácio imperial, e pediu que a família Usselis aguardasse a chegada da resposta do imperador, e assim foi feito, sem um único suspiro errado por parte da assustada família.
Duque Eliot Usselis, general da Guarda Real, um dos componentes do Trio Governamental do Império, descendente da primeira monarca, pela primeira vez na vida, não soube como iniciar uma conversa. Ao serem deixados sozinhos pelos responsáveis do templo, o Duque tremia tanto quanto a sua criança mais nova. A esposa, Duquesa Aradinda Usselis, uma mulher de alto calibre na sociedade, famosa por suas festas, a conselheira do príncipe imperial e grande amiga da rainha, é uma senhora calma e controlada, mas ao se posicionar em frente à pequena menina que tremia de cabeça baixa agarrando o bonito vestido amarelo, não parecia nada disso.
- Olhe para mim - ordenou, e ao fazer, a pequena garota só pôde firmar o rosto ao sentir o impacto da pesada mão de sua mãe - Quem é o maldito que lhe fez isso? - brigava sendo segurada pelo duque - Com quem andou se encontrando? Quem ousou encostar em você? - se debatia nos braços do marido.
- É uma benção, mãe! - o filho mais velho gritava ao abraçar a irmã.
- Benção? - balbucia, desacreditada no que ouvia - Sua irmã não tem nem treze anos ainda! - com a raiva se acalmando, a mãe olhava piedosamente para a pequena menina que tremia encolhida nos braços do irmão - Ela não tem que passar por tal situação. É só uma criança. - A preocupada mulher segurava as lágrimas que ameaçavam cair dos olhos ardentes.
- Ninguém - Loura disse com a voz embaralhada de choro - Ninguém nunca me tocou de tal forma - elevou os olhos molhados aos pais. - Eu juro.
Em seguida, como se fosse planejado, o velho oráculo entrou na sala, tendo logo atrás dele, O Imperador.
- A criança diz a verdade. - Decreta o elegante homem.
- Louvamos a Luz do Império.
- Levantem suas cabeças. - Mariolis Vigésimo de Gesinthe, senhor de todas as terras, pediu. - Jovem Loura. - Se aproximou da pequena menina, que educadamente se curvou. - O que ela diz é verdade - desviou o olhar para os duques após fazer um pequeno carinho na cabeça da garota. - O bebê que cresce no ventre de Loura, é resultado do amor da Deusa, um fruto.
- Como é possível? - Aradinda questionou, logo se desvencilhando do braço do marido e abraçando a filha.
- Somos humanos - o oráculo calmamente falou - Não somos capazes de entender as vontades dos céus. Só podemos comemorar e agradecer pelas graças celestiais. Independente do que destinaram para nós.
O fruto da Deusa, foi chamada de Elora, a reluzente. O seu nascimento foi comemorado pelo mundo. Mas, Loura, a escolhida, a mãe, aquela que era tão pura que foi amada pela Deusa, era humana e não suportou. A jovem completou a gestação estando acamada e ao ter a criança retirada, foi finalmente abraçada pela Deusa. Os avós assumiram a criação da abençoada criança, e juraram amá-la em nome de sua filha. E assim, Elora cresceu para cumprir seu propósito, como Mulher, Imperatriz, Filha, Santa, e Mãe, até que um dia... a ruína, a causa da morte de milhões, a própria destruição, surgiu.