Capítulo 2 A Mulher

"Beleza que reluz na escuridão da noite.

Deslumbrante senhora das colinas e dos oceanos.

Amada consorte.

Elora Lincard, personificação da fertilidade.

Molde à sua imagem naquelas que não se aproximam da sua graciosa.

Rezo a Ti, preciosa mulher."

Todos os dias, a rotina em minha vida é a mesma desde os meus vinte e cinco anos. Sou acordada, lavada, vestida e início minha refeição perfeitamente cronometrada e balanceada, comprimento meu marido com um "beijo de bom dia" e conversamos sobre os planos para o dia, sempre discutimos assuntos importantes nos inícios dos dias, é uma tradição para nós, desde o infeliz acontecimento no nosso casamento.

Quando perdi o meu bebê, imaginei que seria abandonada pelo meu marido, ou deixada de lado como esposa, mas para minha alegria, ele foi extremamente compreensível, disse-me inúmeras vezes que o amor dele por mim nunca mudaria, e realmente, nunca mudou.

Aphonso apesar de ser alguns bons anos mais velho que eu, sempre foi um marido companheiro, esteve ao meu lado quando a parteira levou do meu quarto o corpo sem vida do meu menino, choramos juntos por noites e noites longas e frias. O imperador sempre tenta me demonstrar sua versão humana, para que eu não me esqueça que ele é um.

O meu primeiro ano como imperatriz, casada com o grande Imperador Sol, seria tão mais difícil se ele não fosse tão bom para mim. Não pude conhecê-lo antes de fazer 15 anos, e a primeira vez que o vi no meu baile de debute na alta sociedade, ele já era imperador, então ele ter passado toda a festa ao meu lado, me deu muita segurança como futura imperatriz. É vergonhoso lembrar de como era uma jovem encantada com a ideia de me casar com esse maravilhoso homem.

Mas, no ano seguinte, fui mandada para lutar ao lado dele contra os seres do submundo no portão celestial, nos tornamos próximos ali, me entreguei a ele, de coração, alma e corpo, nos salvamos tantas e tantas vezes.

- O que passa por sua cabeça, querida? - ele questionou enlaçando minha cintura.

- Pensando no passado. - Repouso minha cabeça em seus fortes ombros.

- Novamente? - suavemente encosta os lábios frios em meu pescoço.

- Eu sei que não deveria - confessei. - Mas é tão difícil não pensar naquele dia. - Me afasto de seus braços - Falhei contigo.

- Ei... - murmurou e calmamente nos levou até uma poltrona próxima onde me sentei. - Não se culpe dessa forma. - Concluiu ao ajoelhar-se em minha frente. Meu marido, delicadamente segura minhas mãos e as leva aos lábios gélidos. - Tudo que preciso é você. - o agradeço por sempre me dizer tais palavras e me confortar, mas não importa quantas vezes ele diga, nunca entrará na minha cabeça, não falhei só com ele, falhei como imperatriz por não conceber um herdeiro, falhei como Santa por não deixar descendência, falhei como receptáculo da Deusa por não ser fértil, falhei como mulher por ser seca. Falsamente sorri para Aphonso, as obrigações como imperador de um império em guerra são maiores que a de um marido preocupado, e as minhas obrigações como Santa também são superiores as minhas dores como mãe.

- Não se preocupe - toquei seu rosto. - Estou bem agora, foi só um momento de tristeza. - Ele apoiou o peso de sua cabeça em minha mão e me olhou da forma que eu mais odiava que me olhasse, compaixão. Sei que ele tem pena de mim, e me odeio por permitir que ele me veja assim. - A Santa também pode se sentir triste as vezes, não é mesmo?

- Sabe que não é isso que eu me referia - seus lindos olhos me julgavam.

- Sei que não. - Me levantei ajeitando meu vestido - Mas agora preciso voltar as minhas obrigações como Santa.

- Elora... - ele murmurou quando passei por ele que ainda estava sobre os joelhos.

- Estou bem. - Afirmei tanto para ele, quanto para mim mesma ao sair da sala de refeições.

No corredor minha dama de companhia me espera com um simples sorriso, com o vestido perfeitamente alinhado, salientado a protuberância de sua gestação de quatro meses, mas ainda com a postura perfeita, Joana é mais velha que eu, mas sempre esteve comigo. Quando tinha treze anos, a conheci em uma visita ao orfanato do templo, a tornei minha dama, e ela me acompanha desde então, como escudeira nas batalhas, servente nas reuniões sociais, amiga nos momentos de deslize, crente nos templos da Deusa, ela sempre está lá.

- Novamente? - questionou ao andar um pouco atrás de mim.

- Um deslize. - Finalizei, não gostaria de entrar no assunto. - E hoje?

- Agora tem uma reunião no templo central, depois a visita ao hospital do lado Leste - listava minhas obrigações. - Mestrear o culto das 13 horas, e a visita dos seus avós.

- O que meus avós vêm fazer aqui hoje? - questionei, desde que me casei meus avós me visitavam raramente.

- Seu aniversário, Imperatriz.

- Ah... - suspirei. - É hoje?

- Sim, mas a comemoração real só acontecerá daqui a dois dias. - Joana é a empregada chefe do palácio, então todas as comemorações são orquestradas por ela. - Serão cinco dias de festa.

- Ano passado foram só dois.

- Ano passado ainda estava muito recente. - Ela se referia a minha incompetência como mulher. - Esse ano a senhora completa 27 anos, e como sabe é uma idade sagrada para os fiéis da Deusa. - A Deusa mãe foi levada aos céus no vigésimo sétimo ano de vida, ela foi escolhida como esposa pelo Deus da Eternidade, pela sua pureza e bondade em terra.

- Vinte e sete... - murmurei. - Está com quanto anos agora, Joana? - voltei meu olhar para ela que sorriu com simplicidade, fazendo a pequena covinha em sua bochecha esquerda aparecer. Sempre amei esse pequeno detalhe em minha amiga, em como seu rosto pode ser gentil.

- Trinta, Majestade.

- E a pequena June?

- Ela está indo para os quinze.

- Uau, o tempo passa rápido.

- Sim, muito rápido.

A sala de reuniões do templo central sempre me causa angústia, sei que as pessoas lá dentro não são a favor da minha posição como sumo sacerdotisa do templo, sei que só cheguei a esse cargo por ser o receptáculo da Deusa. Sei que odeiam ter que primeiro receber minha permissão antes de tomarem alguma decisão sobre o templo.

- Senhores. - Cumprimentei, o que já deixa Joana fervorosa de raiva, além de Santa, sou Imperatriz, não devo ser a primeira a cumprimentar.

- Lua Imperial. - Se curvaram. Me encaminhei ao trono reservado para mim, assim que me sentei e Joana se posicionou em guarda ao meu lado, os outros se sentaram, são momentos como esse que fazem apreciar a etiqueta nobre.

- Qual os tópicos de hoje? - iniciamos a reunião.

Os homens do Conselho do Templo Central estão na posição mais desejadas entre os nobres, terem a honra de levar suas ideias, ideologias, necessidades, concepções para a Imperatriz em pessoa, não deve ser papel para qualquer um, mas, infelizmente, o dinheiro compra tudo, e os membros, não passam de um bando de velhos sem escrúpulos, buscando vantagens para si mesmos. Palavras de Joana, não minhas, mas não poderia concordar mais.

- Com sua licença, Imperatriz, tomarei a iniciativa. - Lorde Calisttus, um conde, tomou a frente. Não que eu desgoste das reuniões, ou dos senhores presentes, mas, é extremamente irritante a falta de vergonha que alguns nobres têm. - Meu cunhado, está inferno a alguns dias, gostaria de pedir a sua benção para curá-lo.

- Hm... novamente? - questiono tentando não parecer tediosa. O truque é sempre o mesmo, requisitam por uma benção para algum parente distante, ou conhecido, e vendem o objeto abençoado por um valor exuberante.

O que deveria ser crime, dinheiro não deveria comprar bençãos, mas, infelizmente não posso fazer muito sobre a situação, ainda. A graça da Onipresença de um receptáculo funciona de uma maneira incontrolável por mim, a benção, a cura, o milagre pode ser concedido a distância, sem a necessidade de um toque, ou sequer um olhar, simplesmente sinto os pedidos dos fiéis e os cumpro, mas, tem um limite, não decido quem recebe, depende da fé do crente, sendo assim, nem todos que precisam são ouvidos, por isso, a existência dos objetos abençoados. Em minha rotina diária, dou bençãos a centenas de objetos, desde pequenos lenços à brinquedos, que são distribuídos igualmente nas igrejas de Guesinthe.

- Oh, não, Imperatriz, o anterior foi curado e está bem... tenho muitas irmãs. - O conde diz visivelmente suando, ele não ousaria dizer que o mesmo homem ainda estava doente após a benção, infelizmente não são tão estupido. É uma clara mentira, mas esse objeto pode realmente chegar em quem precisa, então concedo.

- Joana. - Digo e a mesma acena para um dos guardas na porta da sala de reuniões, e o homem sai em busca de algum objeto.

- Imperatriz. - Lorde Eufante, mestre da torre dos magos busca minha atenção.

- Prossiga. - Peço animada. O senhor Elfante é um dos poucos homens nessa sala que respeito, é justo e poderoso. A sua torre é um dos grandes pilares do nosso império, uma força necessária na exterminação dos seres demoníacos.

- Gostaria que pudéssemos discutir sobre o aumento dos demônios nas áreas oeste do território, Santidade. - O velho dizia sério. Os demônios são um grande problema do Império dos Sois, e as áreas próximas do portão demoníaco sofrem muito com a destruição que eles causam. Nosso império fica a uma considerada distância da área da divisão do mundo, mas ainda sofremos muitas perdas. Muitos reinos mais próximos já foram desolados e se tornaram inabitáveis, e a área dos demônios continua a se expandir.

- Como está a situação?

- Infelizmente os magos capazes de exterminar monstros demoníacos são limitados. Como já sabe, para um mago matar um sozinho é necessária uma quantidade absurda de mana, mesmo utilizando objetos abençoados, então, nossa solução são os batalhões. - Ele pausa o discurso, e respira fundo. Pelo semblante em seu rosto cansado posso imaginar quanto ele lutou lá.

Magos são pessoas comuns que tiveram a sorte de nascer com a capacidade de manipular a matéria sentida ao redor, com a energia que habita em seus corpos, o que chamam de "mana", usando conjurações e círculos mágicos, é lindo de ver.

É diferente dos guerreiros sagrados, mas funcionam da mesma forma. A sagrada divisão tem seis núcleos, Templários, Paladinos, Guias, Clérigo, e o representante mundano da igreja, os Sacerdotes, o sexto núcleo é composto por somente uma pessoa, o Receptáculo. É necessário um esquadrão de templários para suprir o poder sagrado de um paladino, são necessários um esquadrão de paladinos para suprir um guia, e assim por diante, até o poder dos Sacerdotes, já que os poderes de um receptáculo é algo absoluto, pois se assemelha a Graça Divina, a quantidade de poder espiritual em um Filho Divino não pode ser comparada, por isso, somos chamados de Santos. Com os magos é semelhante, um esquadrão de magos do nível cinco podem matar um demônio, mas sozinho, somente magos de nível três ou menos. Sendo assim, as perdas são inúmeras, talvez, não a palavra certa para descrever o nascimento de um mago não seja sorte.

- Quero pedir pelo dobro de guerreiros sagrados para a próxima inquisição da torre. - O mestre das artes místicas pede corajosamente, e em seguida o murmúrio dispara.

- Isso é um absurdo! - Senhor Muriel, Sacerdote do templo central exclama. - Nossos guerreiros precisam de tempo de treinamento e dedicação para usarem plenamente as forças celestiais! - O homem alto com roupas elegantes discorria prepotente. - Diferente dos seus magos que surgem aos montes, os guerreiros precisam de estudos, e demoram a se formar. Não posso ceder o dobro, Imperatriz.

- Ah... - um suspiro pesado escapa de meus lábios, ambos lados não estão errados.

- Se me permite, Imperatriz. - Eufante pede, educado. Aceno levemente a cabeça e ele prossegue. - Um Paladino sozinho consegue lidar com um monstro demoníaco, um Sacerdote pode lidar com uma horda deles. - O mestre fez questão de olhar para Muriel ao citar as capacidades de um Sacerdote. - Meus magos estão morrendo, um a um, grupo após grupo, para seres que para alguns, são alvos fáceis de lidar. - O olhar de clemência do velho homem volta para mim. - Algo está estranho, Imperatriz, eles estão mais resistentes. Estão mais espertos. Precisamos de ajuda.

- Você está certo.

- Imperatriz! - Muriel exclama em um alto tom, me cortando.

- Abaixe sua voz! - A voz de Joana surge atrás de mim, alta. - É a segunda vez que interrompe a Santidade deste império! Se preza por sua cabeça, seja grato a clemência da Imperatriz, pois não permitirei que se repita uma terceira vez!

- Eu... eu peço por seu perdão, Vossa Santidade.

- Que não se repita. - Calma e elegante, Joana sempre fica com raiva por mim, apesar de dizer que as vezes não precisa, mas em situações como essa, eu sou grata. - Como dizia antes da interrupção, o mestre da torre está certo. Magos podem ter outro propósito em nosso Império, além de desperdiçarem suas vidas na batalha. Peço um tempo para pensar mais calmamente no assunto, mas uma nova estratégia será entregue até o fim do dia, senhor Eufante.

- É uma honra para nós, Imperatriz, não duvide disso, por favor. - Eufante diz humildemente.

- Sendo assim, devem os guerreiros sagrados morreram no lugar deles? - Muriel questiona, audacioso.

- Existe uma diferença que você, parece se esquecer, Sacerdote. - Calmamente aponto a falta de fé nas falas do homem. - É nosso dever sagrado.

- Assim como é dever de um cidadão do império oferecer sua vida ao propósito dos seus monarcas. - Retruca.

- Belas palavras. - Um curto sorriso se forma em meus lábios. - Vazias, mas ainda bonitas. O Sacerdote fala de dever, mas se irrita quando digo para cumprir o seu, respondendo a sua questão anterior, sim, deveríamos sim morremos no lugar deles, pela minha posição como Santa, e a sua como Sacerdote, sim, deveríamos. - Em silencio ele abaixa a cabeça, finalmente se calando. - Encerraremos por aqui. Tenham um bom dia senhores. - Ao me aproximar da saída da sala e paro ao lado do soldado que havia trazido o objeto a ser abençoado, um colar simples, que só seria usado por um plebeu, um nobre é orgulhoso demais para usar algo feio aos olhos, assim, quando eles se recusarem a comprar será vendido por um preço menor, uma ótima escolha, devo pedir para Joana oferecer uma recompensa ao soldado depois.

Abençoar um objeto é fácil, só preciso tê-lo em vista e orar. E assim o fiz, sempre que repito as palavras sagradas o poder da Mãe Deusa se esvai de meu corpo, escapa por cada poro de minha pele e habita ao meu redor, minha única função é direcioná-lo ao colar. Quando esse colar for entregue a algum fiel poderei sentir, encontrar e devolver o dinheiro, assim como todas as outras vezes.

***

O resto do dia foi tranquilo, os enfermos do hospital receberam a unção da Deusa, o culto das treze horas foi bem-sucedido, e finalmente encontraria com meus avós. Desde que perdi minha criança, me fechei para a minha família, trocava cartas, mas nada além disso, a última vez que os vi foi no meu aniversário, mas ainda estava tão fragilizada que não consegui encará-los por muito tempo. Sentia que iria desabar com a presença deles.

Joana me encaminhou até a sala onde meus avós estavam à minha espera, e quando os vi não contive meu sorriso, que cresceu mais ainda ao ver meu tio Adam ao lado deles, ele é o general na tropa do sul, então vê-lo ali é uma grande surpresa.

- Lua imperial. - Cumprimentaram.

- Duques do Sul. - respondi.

- Somente "duque" agora. - Meu avô respondeu sorridente, dando tapinhas no ombro do meu tio.

- Seu avô decidiu finalmente passar o posto adiante. - Minha avó já com marcas da idade sorriu, a semelhança comigo acabava nos vermelhos do cabelo, ela é uma mulher alta, mas extremamente franzida, enquanto a mim, sou mais baixa, mas com músculos e cicatrizes ganhas em batalha, e diferente de toda a minha família que possuía olhos verdes tão reluzentes quanto as esmeraldas, os meus são um negrume profundo que às vezes quando me olho no espelho não parecem nem reluzir, vazios.

- Como tem estado, minha sobrinha? - meu tio perguntou me tirando dos meus pensamentos distantes.

- Bem, como pode ver. - sorri ao rodar uma vez.

-Não parece bem. - Minha avó disse aproximando para um curto abraço.

- Bom... - suspirei. - Estou melhor. - A confortei.

- Então, conte para nós o que está planejando para a sua festa. - Aradinda perguntou animada.

- Joana já está cuidando de tudo. - A mesma sorri pequeno em concordância.

- Novamente deixará tudo nas mãos da criada? - Minha avó desvia o olhar para Joana que já acostumada com a descriminação da Duquesa, não abaixa a cabeça, continua firme ao meu lado.

- Ela não é uma criada, avó. - Esfregando minhas têmporas suspiro baixo, cansada dessa infantil implicância. - Joana é o braço direito da Santa desse Império. - olho diretamente em seus olhos, superior. - Mostre respeito.

A mais velha mostra o leve desconforto, mas elegantemente curva sua cabeça em concordância.

- Perdoe-me, Majestade. - pede ainda de cabeça curvada.

- Bom... - meu avô quebra o silêncio após minha recusa em responder a Duquesa. Minha avó é uma ótima mulher, mas após meu casamento, e a morte da antiga imperatriz, o poder lhe subiu à cabeça. Havia se tornado a segunda mulher mais poderosa de todo o Império dos Sol, ninguém além de mim estava acima dela, então, ela se mostra arrogante a qualquer outra mulher. Me causa pena, essa busca sem fim por superioridade.

-Tudo bem. - A respondo sem deixar meu avô tentar acalmar a situação. Realmente está tudo bem, entendo o porquê de minha avó agir de tal forma, sei de suas razões, sei das suas necessidades de ser ver no topo, inalcançável, inatingível, não me chateia realmente, mas o visível nervosismo no rosto do meu avô com o medo da situação piorar, me causa um desconforto. Desviei meu olhar a Joana e levemente balanceia a cabeça, era o sinal para que ela deixasse a sala, e assim ela faz, com um educado a curvar se retira da sala, mas não antes da Duquesa soltar um pequeno estalo com a boca. Está tudo bem com as ações de minha avó, mas Joana não tem que passar por tais situações. Me aproximei da confortável poltrona no centro da sala e me sentei com um longo suspiro, seguindo meus movimentos minha família também se sentou. - Não acho que viriam até aqui simplesmente para parabenizar pelos meus 27 anos.

- Não seja assim, Sobrinha, sabe que 27 anos é uma idade importante. - Meu tio diz leve.

- No meu ver é uma idade como qualquer outra.

- As pessoas esperam... - meu avô começou. - Esperam que a Deusa recompense os fiéis pelo vigésimo sétimo ano de vida da filha Dela. - Ele diz sorrindo fraco.

- Vinte e sete anos... - minha avó abatida diz baixinho. E o silêncio paira sobre nós novamente.

- Está certa. - Meu tio chama a minha atenção. - Não foi só por isso que viemos te visitar, sobrinha. - Aceno a cabeça para que ele continue. - No sul... - Ele me encara seriamente. - Surgiu um rumor. - Ele respira fundo, como se tomasse coragem para falar.

- Continue. - Peço firme, que rumores poderia deixá-lo tão abalado?

- Rumor de uma nova Santa. - Ele finalmente diz. Meu rosto se ilumina com a notícia, um Território abençoado por dois Deuses em uma única geração é um acontecimento de extrema raridade. Há muitas falsas santas pelo império, pessoas sem escrúpulos tentado buscar dinheiro fácil com a fé dos outros, mas minha família não viria até aqui por um boato falso. - Uma jovem garota se intitulando Santa e faz milagres nas pequenas vilas do Sul.

- Oh! - exclamo contente. - Que notícia maravilhosa, tio. Que Divindade nos deu a honra de nos presentear com uma Santa? - sem conter o sorriso questiono verdadeiramente feliz. Finalmente alguém para dividir o fardo de ser receptáculo nesse grande império.

- A Senhora da compaixão e da fertilidade, a Deusa Louriysca de Flarite. A Mãe da Santa de Gesinthe.

                         

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