Capítulo 5 O cérebro por trás de tudo

Quando Corynn recobrou a consciência, seus pais estavam ao seu redor, os olhos vermelhos de tanto chorar.

Ao sentir um vazio no seu ventre, ela soube imediatamente que seu último vínculo com Elliot não existia mais.

Parte de Corynn esperava chorar e lamentar essa perda, mas isso não aconteceu. Na realidade, ela não conseguia se lembrar de ter se sentido tão calma em toda a sua vida.

Elliot fez tudo o que podia para se certificar que não houvesse qualquer ligação entre eles, tudo em detrimento dela. Depois de passar por tamanho sofrimento, ela pensava que não havia mais nada para sentir.

"Corynn", chamou Shirley, sua voz embargada ao segurar a mão da filha. Ela não compreendia por que Corynn ainda procuraria Elliot após tudo o que aconteceu, até descobrir o cheque e a escritura de uma propriedade ocultos no casaco de Corynn.

"Estou bem, mãe", disse Corryn, conseguindo sorrir serenamente. "Quanto tempo fiquei desacordada?"

"Quase cinco dias. Você nos deixou extremamente assustados!"

"Cinco dias...", murmurou Corynn, olhando para o celular na mesinha de cabeceira. Na tela, havia várias notificações de notícias.

Claro. Elliot e Amanda ficariam noivos naquele dia.

Corynn precisou se esforçar para manter o sorriso no seu rosto. Ela deveria sentir seu coração em pedaços com essa lembrança, mas suas emoções pareciam completamente serenas. Na realidade, ela sentia que seus últimos três anos tinham sido desperdiçados.

Depois de três anos vivendo juntos, ela acabou numa tragédia e nunca seria capaz de recuperar esse tempo perdido.

"Como estão as coisas na empresa?", perguntou ela fracamente.

"Está tudo bem agora. Conseguimos passar pela crise graças ao dinheiro que você trouxe naquela noite terrível. Nesse momento, a única coisa que você deveria se concentrar é na sua plena recuperação."

Os três pareciam evitar deliberadamente falar sobre a gravidez.

Corynn assentiu com a cabeça antes de voltar sua atenção para a TV. Como já era de se esperar, o noticiário estava transmitindo o noivado de Elliot e Amanda.

O casal estava um ao lado do outro diante dos jornalistas, ele usando um terno feito sob medida e ela, um vestido sofisticado. Eles estavam com as mãos entrelaçadas enquanto respondiam às perguntas dos jornalistas.

"Senhor Andrews, o que sua noiva pensa a respeito da sua ex-namorada, a senhorita Harper?"

O rosto de Elliot estava completamente inexpressivo. "Nada."

Soltando a mão dele, Amanda passou o braço ao redor da cintura dele. "Não me importo com o passado dele. Afinal, o mais importante é o nosso futuro juntos."

"Humph!", resmungou Erick, cruzando os braços na altura do peito. "Elliot é um completo bastardo!"

Shirley lançou um olhar de reprimenda ao marido, avisando para não tocar nesse nome na frente da filha.

Corynn não prestou atenção aos pais e, ao invés disso, continuou assistindo ao noticiário. Seu coração disparou ao perceber um dos guarda-costas interpondo-se entre a câmera e um jornalista particularmente insistente. Seus olhos pousaram na mão dele e ela sentiu um nó na garganta.

Sob o cobertor, suas mãos estavam cerradas com tanta força que suas unhas romperam a pele. Ela não sentiu dor alguma quando começou a sangrar.

Seus olhos estavam fixos na TV, na evidente marca de mordida na mão do guarda-costas.

Sentindo a angústia da filha, Shirley imediatamente pegou o controle remoto e desligou a TV. Em seguida, ela se sentou na cama de hospital e puxou Corynn para seus braços.

"Chega disso, sim? Papai e mamãe estão aqui com você."

A visão de Corynn ficou turva quando seus olhos se encheram de lágrimas.

Ainda pensando na marca da mordida, ela percebeu que conhecia aquele guarda-costas, que trabalhava para Elliot, e que ela já o tinha visto reportando-se a ele em diversas ocasiões.

Ela tinha certeza disso.

Até aquele momento, Corynn nutria uma pequena esperança de que alguém tivesse tentado incriminar Elliot e que ele não fora o responsável por causar seu aborto.

No entanto, ela não poderia continuar vivendo essa ilusão.

Elliot era, de fato, o cérebro por trás de tudo e utilizou o método mais impiedoso para assegurar a interrupção da gravidez dela.

Mordendo o lábio inferior, Corynn inspirou profundamente. Ela prometeu a si mesma que nunca mais derramaria uma lágrima sequer por Elliot.

No entanto, ao lado dos seus pais, ela não conseguiu se conter. Escondendo o rosto nas mãos, Corynn caiu no choro.

Shirley apenas abraçou a filha, chorando silenciosamente com ela.

Corynn se sentia tomada pelo remorso. Ela se arrependia profundamente por ter amado Elliot, por ter o priorizado em detrimento dos seus próprios pais, e mais do que tudo, detestava o quanto se rebaixou por ele.

Ele nunca tinha a visto da mesma forma. Prestes a se casar com outra mulher, ele sacrificou o bebê que ela carregava para proteger sua nova vida.

O amor que ela nutria por ele nunca teve qualquer importância para ele. De outra forma, ele não teria agido com tanto desprezo.

"Vai ficar tudo bem, minha querida", sussurrou Shirley, balançando-se com Corynn para frente e para trás. "Chore tudo o que precisar, você irá se sentir melhor quando liberar o que está reprimindo."

A dor eventualmente passaria, mas Corynn tinha medo de conviver com a vergonha para sempre. Ela não pôde deixar de repreender a si mesma por ter ficado obcecada por um homem que não a amava.

Após algum tempo, ela se endireitou e secou as lágrimas. "Estou bem." Apoiando a cabeça no ombro da mãe, ela fechou os olhos.

A partir daquele momento, ela manteria distância de Elliot. Ela nunca mais queria vê-lo na sua frente pelo resto da vida.