Capítulo 6 Alta

Verônica estava praticamente morando no hospital com Colin. Embora o homem estivesse acordado, ele tinha um tratamento severo pela frente. Além disso, precisava de descanso, e quem o conhecia sabia que, se voltasse para casa, encontraria uma maneira de trabalhar. Por isso, acabou preso no hospital. Verônica havia se acostumado com que ele particularmente não gostava de falar muito, ela notou que isso sempre fez parte de sua personalidade.

Ele odiava bater no papo desnecessariamente, e isso ficou claro quando algumas pessoas o visitaram no hospital; era ele quem menos falava, e todos pareciam acostumados.

O silêncio era algo que ele apreciava naquele lugar, mas às vezes era interrompido pela breve conversa entre Verônica e algumas enfermeiras. Ela não estava tão quieta quanto ele, mas quando eram apenas os dois, o silêncio era uma reação natural para ela, interrompida apenas para perguntar o que ele queria ou se precisava de alguma coisa. Embora essa não fosse sua verdadeira maneira de agir, ninguém poderia negar a espontaneidade de Verônica, sua alegria e confiança, seu amor pelo que fazia. Mas agora não havia mais nada disso para cativá-la, exceto sua mãe, que não podia nem estar com ela.

Colin sempre foi assim, um homem frio que mal conseguia entender seus próprios sentimentos, muito menos os dos outros, por isso suas interações com outras pessoas sempre foram as mesmas: frias e indiferentes. Ele sabia que não era diferente com Verônica.

Colin não pôde deixar de se perguntar o que estava acontecendo, o que ele deveria sentir por ela. Ódio, raiva, desprezo ou apenas nojo? Ele não estaria lá se não fosse o pai dela, mas ele não poderia descontar sua raiva nela por isso; era o pai dela, não ela. Mas ele se perguntava o porquê casar com ele? O que ela queria com isso? Colin tinha muitas perguntas, mas quase nenhuma resposta, por isso, ele não sabia ao certo o que fazer, ainda mais vendo que ela parecia a um passo da destruição.

Verônica estava em declínio. Sua tristeza e raiva haviam se tornado seu fardo. Aquela mulher que um dia fora, a alegria que a havia em sua vida estava afundando em um rio cheio de ressentimento e raiva. Todas as sensações que ela sentia agora estavam presas em sua garganta, sufocando-a. Então agora ela nem gostava de falar mais do que algumas palavras, para não sentir as palavras presas em sua garganta.

Ela sabia que isso era um efeito mental e emocional. Por isso, na maior parte do dia, ela apenas se sentia cansada e geralmente se perdia em pensamentos. À noite, era como uma oração, lágrimas escapando, mesmo silenciosamente. Mas nem sempre foram tão quietos; os gemidos deixavam-lhe os lábios pesados. Sua vida estava presa em um ponto que ela nunca poderia consertar, pelo menos era o que ela pensava. Sua mente e visão estavam turvas pela dor; foi a única coisa que ela viu: sofrimento.

Com o passar do tempo, Colin se tornou um enigma para ela. Até seus suspiros se tornaram um momento para observá-lo. Parecia que ele a estudava o tempo todo, mas ele costumava desviar o olhar quando Verônica o olhava com aqueles olhos escuros sem vida. Era como uma boneca de pano. Colin odiava aqueles que sucumbiam a sentimentos inúteis, e ela estava cheia deles, presa e morrendo por sua própria fraqueza.

Verônica estava quase sempre anestesiada com aquela sensação de vazio, agindo como um morto-vivo sem perceber. Como não poderia, especialmente quando seu coração parecia ter sido arrancado de seu peito? Que emoções ficaram além da tristeza e da dor? Nada sobrou para ela. Por causa disso, era quase sempre desatenta, por isso, enquanto cuidava de Colin, ela frequentemente cometia erros, o que era comum para uma mulher que nunca havia cuidado de uma pessoa ferida, especialmente quando ela parecia quase sempre entorpecida.

Mas, para Colin, alguns desses erros não foram tão simples; eles eram realmente um problema, especialmente quando ela misturava os medicamentos. Para ele, que sofre de transtorno bipolar, uma doença caracterizada por mudanças repentinas de humor, tende ser difícil lidar com erros de outras pessoas.

Colin não era o tipo de pessoa que gostava de erros, então ele podia facilmente se irritar quando ela cometia erros. Eram comuns para ele ou para quem já o conhecia, mas para quem não fazia ideia disso, era realmente problemático. Mesmo que ele às vezes ficasse irritado, não havia uma única explosão de raiva contra ela, mas o tratamento frio e distante ainda persistia.

Verônica só conseguia pensar que o marido a odiava. Mais do que isso, ele a despreza com todas as suas forças. Mas ela conseguia entender por que ele era assim. Sua vida quase foi interrompida por um erro de seu pai; agora ele acorda sendo casado com uma mulher que ele nunca viu. Sentia-se como o próprio caos em sua vida.

Os dias se estenderam de forma chata, fazendo com que ambos se sentissem sufocados. Mas Colin já conseguia andar direito sozinho, não sentia mais dores, por muito pouco não tinha sequelas do acidente. Colin estava completamente bem agora, o que foi um verdadeiro milagre para os médicos. Talvez ser um homem saudável, com boa alimentação e treinamento muscular, tenha sido o motivo. Ninguém sabia ao certo o porquê, mas o importante era que ele finalmente estava bem, às vezes o mundo não pode dar uma resposta lógica para certas coisas.

O médico entrou no quarto do homem; essa não foi sua visita favorita do dia. Vendo que o silêncio reinava ali como todos os dias, ele sabia do transtorno bipolar de Colin, um caso grave como o dele, às vezes difícil de tratar, mesmo com medicação. Ele podia entender que o casamento de Colin e Verônica era problemático, mesmo que ele não os conhecesse. Mas ele sabia que não era problema dele. O homem se aproximou, vendo Colin olhando para ele. Seu rosto tinha sempre a mesma expressão impassível e fria. Ele sempre achava a visita aos pacientes o ponto alto de seu dia, exceto quando se tratava de Colin.

- Bom dia, Sr. e Sr.ᵃ Brenner.

O médico disse com um sorriso no rosto, mas não esperava que eles sorrirem. Quer dizer, Verônica sempre tentou, mas tudo o que saiu foi um puxão dos cantos da boca, triste. Ele sempre imaginou como seria o sorriso de uma mulher como ela; ela era linda demais para passar por algo assim.

- Hoje é o dia que você está esperando há muito tempo. Você pode ir para casa; os papéis de liberação estão prontos e assinados. Vocês podem embalar suas coisas, se precisar de alguma coisa, você pode perguntar ao enfermeiro. Espero não precisar lembrá-lo de que, se sentir alguma coisa, deve procurar nosso pronto-socorro, certo?

            
            

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