Nos dias que se seguiram, Beatriz mergulhou de cabeça em seu novo papel, equilibrando-se entre as demandas de Gabriel Costa e o ambiente competitivo da TechNova. Cada dia era uma nova maratona de reuniões, e-mails urgentes e tarefas inesperadas. Bia logo percebeu que, embora Gabriel fosse o núcleo de todas as decisões, a verdadeira força da empresa vinha de seus executivos, cada um mais ambicioso e determinado que o outro.
Na terça-feira pela manhã, Bia estava organizando os relatórios para a reunião da tarde quando seu telefone tocou. Era Camila Vieira, a diretora de operações que a havia confrontado na semana anterior.
- Srta. Nogueira, venha ao meu escritório agora. - A voz de Camila era fria e direta, sem espaço para questionamentos.
Bia sentiu o estômago revirar por um momento, mas rapidamente retomou o controle. Ela sabia que não poderia se dar ao luxo de mostrar qualquer sinal de fraqueza. Quando chegou ao escritório de Camila, a diretora estava sentada em sua mesa, analisando uma pilha de documentos com uma expressão impassível.
- Sente-se - disse Camila, sem tirar os olhos dos papéis.
Bia obedeceu, mantendo a postura firme. Camila finalmente levantou os olhos, observando-a com um olhar clínico.
- Preciso saber qual é sua intenção aqui, Srta. Nogueira. - A voz de Camila era controlada, mas havia uma clara nota de desconfiança nela. - Todos sabemos que Gabriel é um líder difícil de agradar, mas você parece estar se saindo bem. Rápido até demais, para ser honesta.
Bia respirou fundo antes de responder.
- Minha única intenção é fazer meu trabalho da melhor forma possível, Sra. Vieira. Estou aqui para garantir que as coisas corram bem para o Sr. Costa e para a TechNova.
Camila sorriu, mas não era um sorriso caloroso.
- Bom, espero que seja verdade. - Ela se inclinou para frente, seu olhar se intensificando. - Mas saiba que aqui, cada movimento é observado. Não há espaço para erros, e certamente não há espaço para agendas ocultas.
Bia entendeu imediatamente. Camila estava testando-a, sondando para ver se ela tinha alguma intenção de se destacar às custas dos outros. A diretora de operações claramente não confiava facilmente, especialmente em alguém novo e relativamente inexperiente como Bia.
- Acredito que todos estamos aqui para um único objetivo: o sucesso da empresa - respondeu Bia, mantendo a voz calma. - E, para mim, isso significa apoiar o Sr. Costa em suas decisões e garantir que a TechNova continue crescendo.
Camila a estudou por mais alguns segundos antes de se recostar na cadeira, parecendo ligeiramente satisfeita.
- Vamos ver se você consegue manter essa atitude. Agora, volte ao seu trabalho. - Ela dispensou Bia com um aceno, voltando sua atenção para os documentos em sua mesa.
De volta à sua estação de trabalho, Bia sentiu a pressão aumentar. Ela já sabia que Gabriel era exigente, mas agora ficava claro que todos ao redor dele também estavam constantemente testando sua lealdade e competência. Cada palavra, cada ação era analisada, e um único erro poderia significar o fim de sua carreira ali.
Apesar disso, Bia se manteve focada. Sabia que o verdadeiro desafio não era apenas impressionar Gabriel, mas também navegar com cuidado pelas dinâmicas de poder que permeavam a empresa. E isso exigia mais do que competência técnica; exigia inteligência emocional e uma compreensão profunda das pessoas ao seu redor.
Mais tarde, naquele mesmo dia, durante uma reunião com a equipe de marketing, Bia viu essa dinâmica em ação. Gabriel estava ao lado de Camila e de outros diretores, revisando as propostas para a nova campanha publicitária da TechNova. Cada slide era analisado meticulosamente, e cada sugestão recebia uma resposta precisa e direta de Gabriel.
- Isso é muito genérico - Gabriel disse, cortando uma das apresentações. - Nós precisamos de algo que reflita a inovação da TechNova. Algo que não seja apenas uma campanha, mas que se torne um marco. Vocês têm uma semana para me trazer algo melhor. Algo ousado.
A sala ficou em silêncio, e Bia pôde sentir a tensão. As expectativas de Gabriel eram sempre altas, e ele não hesitava em expressar sua insatisfação. Ela observou os diretores trocarem olhares discretos, alguns claramente preocupados, outros frustrados.
Enquanto a reunião avançava, Gabriel de repente olhou para Bia, que estava sentada em silêncio, anotando todos os pontos importantes.
- Srta. Nogueira - chamou Gabriel, com aquele tom que exigia uma resposta imediata. - O que você acha?
Foi uma pergunta simples, mas carregada de peso. Ele queria saber se ela estava prestando atenção, se ela tinha uma opinião formada e se estava disposta a expressá-la diante dos outros.
Bia respirou fundo e falou com firmeza, embora por dentro sentisse o peso das expectativas.
- Concordo com o Sr. Costa. A campanha atual não captura a essência da TechNova. Precisamos de algo mais ousado, algo que desafie as percepções do mercado e reforce nossa posição como líderes em inovação. Talvez devêssemos explorar novas formas de comunicação, algo que engaje nossos clientes de maneira mais pessoal e memorável.
Gabriel observou-a em silêncio, e Bia não conseguiu ler sua expressão. Camila, por outro lado, a olhou de relance, como se estivesse avaliando cada palavra que ela havia dito.
- Interessante - respondeu Gabriel, finalmente. - Vamos explorar isso. Quero ver propostas concretas na próxima reunião.
A reunião prosseguiu, mas Bia sabia que aquele momento havia sido crucial. Ela tinha dado um passo à frente, exposto sua opinião e, felizmente, não havia tropeçado. Quando a reunião terminou, ela sentiu um misto de alívio e satisfação. Havia passado por mais um teste.
Enquanto arrumava suas coisas para voltar à sua mesa, Camila se aproximou, com aquele mesmo olhar calculista.
- Você está se saindo bem até agora, Srta. Nogueira - disse ela, em tom de alerta. - Mas lembre-se: o que impressiona hoje pode não ser suficiente amanhã.
Bia apenas assentiu, entendendo a mensagem por trás das palavras de Camila. Ela teria que continuar se provando dia após dia, sem baixar a guarda. O ambiente da TechNova era implacável, mas Bia estava determinada a se adaptar e a crescer.
Ao fim do dia, quando finalmente se sentou em sua mesa e revisou a agenda do dia seguinte, Bia refletiu sobre tudo o que havia aprendido até então. A TechNova era uma selva corporativa, onde apenas os mais fortes sobreviveriam. Mas se havia algo que Bia sabia sobre si mesma, era que ela não desistiria facilmente.
Ainda havia muito a aprender, muitas batalhas a serem travadas, mas Bia estava pronta para enfrentar tudo o que viesse pela frente. No fundo, ela sabia que essa experiência a mudaria para sempre, e, embora o caminho fosse desafiador, ela estava disposta a seguir em frente. Porque, no final das contas, ela não estava ali apenas para sobreviver. Ela estava ali para vencer.