Dirigi-me à cozinha e preparei um café. Enquanto esperava que ficasse pronto, olhei os documentos que Alejandro me tinha dado na tarde anterior. Deixara-os sobre a mesa da cozinha, quase como se não quisesse encará-los. Finalmente, com uma xícara de café na mão, sentei-me e comecei a lê-los atentamente.
Cada cláusula estava escrita em uma linguagem legal densa, mas a mensagem era clara. Este casamento seria um contrato de negócios, com regras estritas e sem espaço para amor ou emoção. Viveríamos juntos durante um ano, mantendo as aparências, e depois nos separaríamos, cada um com o que queria: ele, a sua empresa, e eu, o dinheiro.
Entre as cláusulas, algumas se destacavam especialmente:
1. **Confidencialidade**: Ambas as partes deveriam manter em segredo a verdadeira natureza do casamento. Qualquer vazamento resultaria na anulação do contrato e em possíveis ações legais.
2. **Convivência**: Durante o ano do casamento, deveríamos viver na mesma casa e comparecer juntos a eventos públicos, mantendo as aparências de um casal feliz.
3. **Pagamento**: Ao final do ano, eu receberia uma quantia considerável de dinheiro que me permitiria salvar minha floricultura e garantir meu futuro.
4. **Privacidade**: Embora morássemos juntos, teríamos quartos separados e nossas vidas privadas não deveriam interferir uma na outra.
5. **Término**: Se alguma das partes desejasse encerrar o acordo antes do ano, penalidades financeiras seriam aplicadas.
Justo quando estava imersa em meus pensamentos, meu telefone tocou. Era Javier.
- Olá, Elena. Como você está se sentindo? - perguntou suavemente.
- Confusa, Javier. Não sei se posso fazer isso - admiti.
- É natural se sentir assim. Mas lembre-se, você está no controle. Se decidir fazer, pode mudar sua vida. Se não, continuaremos buscando outra solução - disse, sempre o amigo leal.
- Obrigada, Javier. Realmente preciso pensar mais sobre isso - disse, sentindo um pouco de alívio ao falar com ele.
Desconectei e olhei os papéis novamente. Pensei na floricultura e em como cada pétala e cada folha eram um reflexo do meu esforço e dos meus sonhos. Mas esses sonhos estavam prestes a se desvanecer se eu não fizesse algo logo.
O toque da campainha interrompeu meus pensamentos. Levantei-me e abri a porta, encontrando-me cara a cara com Alejandro Ferrer. Ele vestia um terno impecável, como se estivesse pronto para uma reunião de negócios, não para uma visita matutina.
- Bom dia, Elena. Espero não ter lhe acordado - disse, seu tom formal como sempre.
- Não, já estava acordada. Entre - disse, um pouco surpresa ao vê-lo ali.
Ele entrou no meu pequeno apartamento, olhando ao redor com uma leve curiosidade.
- Queria conversar com você pessoalmente. Sei que isso é muito para assimilar, e queria garantir que você tivesse todas as suas perguntas respondidas - disse, sentando-se em uma cadeira ao lado da mesa da cozinha.
Sentei-me em frente a ele, sentindo a tensão no ar.
- Obrigada por vir. A verdade é que ainda tenho muitas dúvidas - disse, tentando soar segura.
- Entendo. Pergunte o que precisar - respondeu, inclinando-se ligeiramente para frente.
- Por que eu? - perguntei diretamente. Era uma das perguntas que mais me rondavam a cabeça.
- Porque, embora não nos conheçamos bem, confio na recomendação de Javier. Você é uma pessoa honesta e está em uma situação que poderia se beneficiar deste acordo. Não quero complicações emocionais, e acho que você também não - disse, seu olhar intenso fixo em mim.
- E se algo der errado? - perguntei, ainda buscando respostas.
- Como te disse, tudo está estipulado no contrato. Se algo não funcionar, teremos advogados que resolverão isso. Mas confio que podemos fazer isso funcionar sem problemas - disse, sua voz firme.
- E durante este ano? Como será viver juntos? - perguntei, sentindo um nó no estômago.
- Será um arranjo profissional. Teremos nossas vidas separadas, mas manteremos as aparências em público. Haverá certas regras de convivência, mas nada que não possamos lidar - respondeu, seu tom um pouco mais suave.
- É muito para assimilar - disse finalmente, sentindo o peso da decisão.
- Eu sei, e não quero pressioná-la. Mas preciso de uma resposta em breve. Se decidir não fazê-lo, eu entenderei. Mas se decidir aceitar, estarei lá para garantir que tudo corra bem - disse, levantando-se.
Acompanhei-o até a porta, sentindo uma mistura de alívio e nervosismo.
- Obrigada por vir, Alejandro. Vou te dar uma resposta o mais rápido possível - disse, tentando soar mais segura do que me sentia.
- Obrigado a você, Elena. Leve o tempo que precisar - respondeu, me lançando um último olhar antes de sair.
Fechei a porta e me apoiei nela, sentindo como a realidade da situação se estabelecia em mim. Voltei para a mesa e olhei os documentos mais uma vez. Sabia que precisava tomar uma decisão, e logo.
Naquela tarde, decidi tirar uma folga e dar um passeio pela cidade. Precisava limpar minha mente e pensar claramente. Caminhei sem rumo, observando as pessoas, os carros e a vida ao meu redor. Acabei em um pequeno café onde costumava ir para escrever nos meus dias livres.
Enquanto me sentava com uma xícara de chá, vi um jovem casal rindo e conversando animadamente em uma mesa próxima. Pareciam tão felizes e despreocupados. Senti uma pontada de inveja e tristeza. Minha vida tinha estado cheia de complicações ultimamente, e a ideia de um casamento por contrato parecia uma solução rápida, mas a que custo?
De repente, meu telefone vibrou. Era uma mensagem de Alejandro.
- Espero que você esteja bem. Não quero apressá-la, mas preciso saber sua decisão em breve.
Suspirei e respondi: - Eu sei. Estou pensando em tudo.
Guardei o telefone e me perdi em meus pensamentos. A vida sempre havia sido complicada, mas essa decisão era a maior que eu já enfrentei. Finalmente, terminei meu chá e decidi que era hora de encarar a realidade.
De volta ao meu apartamento, sentei-me novamente em frente aos documentos. Pensei na minha floricultura, nos meus sonhos e nas oportunidades que poderiam surgir dessa loucura. A decisão não era fácil, mas sabia que precisava tomá-la.
Liguei para Javier.
- Javier, decidi. Eu farei. Aceitarei a proposta do Alejandro - disse, sentindo uma mistura de alívio e nervosismo.
- Elena, tenho certeza de que você está tomando a decisão certa. Se precisar de algo, você sabe que sempre estarei aqui para você - respondeu com calor.
- Obrigada, Javier. Eu precisava ouvir isso - disse, sentindo uma lágrima solitária escorrer pela minha bochecha.
Desconectei e olhei os documentos uma última vez. Em seguida, peguei meu telefone e liguei para Alejandro.
- Alejandro, tomei uma decisão. Aceito sua proposta - disse, minha voz firme.
- Fico feliz em ouvir isso, Elena. Nos encontraremos amanhã para assinar os papéis e discutir os detalhes. Obrigado por confiar em mim - respondeu, sua voz mais calorosa do que antes.