Capítulo 3 Olímpia

A terra dos deuses era um local magnífico, até mesmo as rochas eram douradas, Yuanji me levou a um palácio imenso e me mandou a um quarto para me preparar para jantar, quando desci as escadas o vi, o deus de cabelos de ébano, junto a um ruivo que tinha o olhar sombrio, me sentei. Eles não tinham mais pratos diante de si, mas ainda

bebiam de cálices de ouro. Ouro de verdade; não pintado ou folheado. Pensei em

nossos talheres prateados quando parei no meio da sala. Tanta riqueza, tanta

riqueza assombrosa, quando não tínhamos nada.

Umas bestas, era como as bruxas os definiam. Mas, em

comparação com ele, em comparação com aquele lugar, em comparação com

o modo elegante e tranquilo com que eles seguravam os cálices, o modo como o de cabelos de ébano me chamava de bruxa... nós que éramos as bestas. Mesmo que fossem eles os que vestiam

peles e tinham garras.

Observei a comida ainda na mesa. Eu estava faminta a cabeça tão zonza

que achei que fosse desmaiar.

- Antes que pergunte: a comida ainda é segura para que coma. - Ele

apontou para a cadeira na outra ponta da mesa.

- O que quer, então?

- Já disse ao seu amigo o que quero, não estou com vontade de repetir _ comecei a comer e escutei a risada de Yuanji

- Criatura insolente!, bruxas não são permitidas nas terras de Olímpia Yuanji,! Livre se dela_ vi o maxilar do deus ajudante trincar, ele parecia querer descarregar um dicionário de palavras nada cordiais

- Apolo! sinceramente! Você falando sobre regras?_ tenho um pressentimento que o clima vai esquentar, mais o ruivo somente suspirou

- olha você faz o que quiser, mas se Hera vier ao seu encontro não diga que não avisei. _ ele sumiu como se fosse só um raio de sol, enquanto o homem ao meu lado sentava com a expressão exausta.

- Sabe, se quiser falar, bruxas são ótimas concelheiras _ e ele riu ironizando minha fala me fazendo ficar com uma bela cara de tédio

- Do que me serviria uma bruxa sem poderes?_ aquele olhar me fazia querer esmura-lo

- Eu tenho poderes!_ ele levantou as mãos em rendição - só não sei usá-los_ ele riu novamente e levantou

- olha, eu vou treinar, quando você aprender a fazer seu bibidibobidi bu você me avisa _ senti minha pele formigar de ódio com o comentário, afinal ele era o deus ajudante ele deveria me ajudar. Levantei - me e fingi passear pelos jardins exóticos e silenciosos enquanto marcava

mentalmente os caminhos e os bons esconderijos, caso precisasse deles.

Roí as unhas curtas enquanto caminhava, considerando cada plano e

armadilha possíveis. Nunca fora muito boa com palavras, jamais aprendi o jogo

de guerra social no qual minha mãe e minha mãe era tão habilidosa, mas...

eu não era tão ruim.

Segui na direção de um banco em um recuo cheio de flores douradas quando o

som de passos sobre cascalho preencheu o ar. Dois pares de pés leves e ágeis.

Estiquei o corpo, olhando pelo caminho de onde tinha vindo, mas o caminho

estava vazio.

Eu me detive no limite de um campo aberto de flores.Atrás de mim se erguia uma

macieira-brava toda retorcida e gloriosamente florida, as pétalas das flores

cobriam o banco sombreado no qual eu estivera prestes a me sentar. Uma brisa

fez os galhos se agitarem, uma cachoeira de pétalas douradas flutuou para baixo.

Como neve.

Continuei verificando o jardim, o campo - com muita, muita atenção,

observando e ouvindo em busca dos sons daqueles dois pares de pés. Não havia

nada na árvore, ou atrás dela. Uma sensação de formigamento percorreu minha

espinha. Eu tinha passado tempo o bastante no bosque para confiar em meus

instintos.

Alguém estava atrás de mim; talvez duas pessoas. Um leve farejar e uma

risada baixa soaram perto, e meu coração saltou para a garganta. Lancei um

olhar cuidadoso por cima do ombro, mas só pude ver uma luz prateada e

brilhante que lampejou no canto de meu campo visual.

Precisava me virar. Precisava enfrentar.

O cascalho estalou mais perto agora. O brilho no canto de meu olho ficou

maior.

Minhas mãos se fecharam em punhos.

-Ayanne! - A voz de Yuanji atravessou o jardim, e dei um salto de espanto

quando ele me chamou de novo. - Ayanne, almoço! - gritou Mas, mesmo enquanto caminhava entre as cercas vivas,

cuidadosamente refazendo meus passos até a casa, não consegui afastar a

sensação arrepiante de que alguém ainda me observava, curioso e querendo

brincar.

O que é este lugar realmente? - perguntei a ele baixinho

- É seguro, e isso é tudo o que precisa saber - respondeu Yuan, comendo

- Com que tipo de... Deuses eu deveria tomar cuidado?

- Todos eles-respondeu. - A minha proteção só vai até certo ponto.

Eles vão caçá-la e matá-la apenas por ser Bruxa.

Um frio percorreu minha espinha, eu sabia que não importa para onde eu fosse alguém tentasse me matar, até que uma ideia surgiu como uma luz em minha mente

- Então me treine_ o olhar irônico dele demonstrava o quão tolo aquilo parecia

- Está bem! Começamos a sete_ o olhei indignada

- mas assim sem nada?

- Se você não souber se defender, eu vou ter que te proteger e eu não tenho tempo é melhor aprender logo. _ seu tom de voz demonstrava o que seria difícil

Naquele dia eu percebi que jamais iria voltar a ser o que era antes, a imagem do meu passado percorria minha mente.

As mortes e o sangue dos inocentes era algo que jamais iria esquecer, jamais perdoaria e viveria como aquele monstro.

                         

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