Otávia ficou o resto do dia fora, andando pelas terras, só voltou quando o sol se pôs, foi para o estábulo procurando Miro e na volta passou pela casa do caseiro, estava andando no escuro, ao se aproximar da casa que ele ficou, um cachorro começou a latir, ele estava alerta por causa das ameaças do antigo colega de trabalho, saiu olhar com uma faca na mão, ela parou um pouco longe por causa do cachorro
- Ramiro, venha até aqui.
Ele chamou atenção do cachorro, foi saindo
- Se perdeu no caminho da casa dona Otávia?
Ela continua no escuro
- Vim te pedir para não ir embora, até eu passar tudo da fazenda, eu não tenho ninguém pra colocar no seu lugar, tão rápido.
- Não sei em que pé andam as coisas e pelo que vi, tudo está largado.
- Não posso perder essa colheita e nem meus animais.
Ele contínuo encostado sem parecer se importar com todo o drama dela
- Pagando bem, me prometeram um salário de três mil.
- Pagando metade por quinzena e uma já deu.
- Desde que cheguei, cuidei dos bichos tudo, mas sem as coisas, não posso fazer milagre patroa.
- Disseram que o veterinário não vem a mais de um mês, isso não tá certo não.
Ela foi se afastando
- Não era eu quem estava cuidando de tudo, vou verificar cedo o que falta, e você vai comprar, sou veterinária e vou mesmo cuidar deles.
- Amanhã cedo faço o seu pagamento também.
- Quero que se preocupe com a colheita, é o principal. Você entende das máquinas?
Ele ficou olhando intrigado
- Tá certo, entendo sim, quer que eu te leve até a casa patroa?
- É longe, tá muito escuro! A dona pode se mach ucar, encontrar algum doi do mal intencionado por aí.
- Aqui não é nada seguro não viu.
Ela disse que não pediu, veio sozinha, quando chegou em casa, viu o carro de Matteo, entrou nas pressas desesperadas, já tinha pensado que ele foi se desculpar, o encontrou no escritório enchendo uma caixa com coisas dele, se mudou apreensiva
- Olá Matteo. Onde você está ficando? Temos pendências para resolver.
- Liguei até pra sua mãe.
Ele saiu esnobando
- Minha mãe nunca gostou de você, sempre me disse que não ia dar certo mesmo.
Foi para o quarto apressado
- Não adianta inventar mentiras, todos já sabem que eu venho me tentar divorciar a anos e toda vez, você diz que vai fazer algo contra si.
- Me manipulando e eu com pena de você, adiei isso por tempo demais.
Ela foi desacreditada atrás
- Eu nunca fiz isso e você nunca falou de separação.
‐ Matteo como essa mulher que virou a cabeça dessa forma?
- Nós temos uma vida juntos, você não é assim, o que aconteceu, quando tudo mudou tanto?
Ele estava pegando as roupas e enchendo as malas
- Fazem anos que eu vivo infeliz nesse casamento, que só me trouxe desgosto Otávia.
- Já dei a entrada no dados e estou com alguém, que me entende, não me humilha e nem é briga.
- É uma mulher de verdade, que eu admiro demais.
Otávia começou a chorar, foi pegando o que restava, no guarda roupa, começou a jogar no quintal pela janela
- Então vai ficar com ela e pode esperar que ela vai fazer igual você fez pra mim.
O tocou embora, não deixou pegar tudo, disse que o dinheiro dela quem roubou e ele não ia pegar mais nada, ele já tinha levado muitas coisas de mais valor e ela nem descobriu.
Ele a deixou gritando estérica, como se nunca tivesse tido qualquer carinho ou amor por ela, foi embora rindo da situação, porque tinha pego todas as economias dela, que era para manter uma fazenda independente da colheita.
Amélia a menina da limpeza, estava ouvindo tudo escondido, ficou curiosa e com dó, Otávia saiu do quarto gritando carregando sacos de lixo, foi enfiando tudo o que restou de Matteo, colocou na porta malas do carro, foi para o escritório analisar a situação das contas conjuntas e descobrimos que tudo ainda ia piorar mais, o que restou mal dava para manter os animais e as máquinas da colheita.
Foi até difícil dormir, no dia seguinte assim que o sol começou a nascer, Otávia foi cuidar dos animais, colocou calça jeans, bota galocha, camiseta de manga comprida para esconder as marcas nos braços, colocou boné com o cabelo preso em um coque e passou maquiagem para disfarçar os hematomas no rosto.
Miro já estava no estábulo tratando os cavalos, conversando com um deles falando que não queria saber de bagunça por lá, ela se mudou sorrateira ouvindo, quando viu que ele falava com o animal, foi dar bom dia, só passou por ele e foi ver os outros, ele já estava acabando, não disse nada, ela voltou
- Ramiro, me mostre o que você faz, além da plantação!
- Sabe quantos funcionários estamos trabalhando atualmente?
Ele continuou com o que estava fazendo
- Devem ter uns cinco, contando os temporários.
- Eu comecei bem cedo patroa, vou na horta, volto alimentando os bichos e limpando tudo, recolho os ovos das galinhas.
- Solto os cavalos pra correr.
- Vou pra plantação e paro a tarde, prefiro acordar bem cedo, do que trabalhar no sol o dia todo.
- Antes de anoitecer recolho os cavalos.
- Ninguém falou nada de lavar e escovar eles, nem tem shampoo aqui, os remédios num tem também.
- Tem um ali atrás, que tá com bicho, vai precisar fazer alguma coisa.
- Quando foram vermífugados pela última vez?
Ela ficou olhando algo pensativo
- Não sei. Vou começar com os cavalos, a tarde vou a cidade e compro o que falta, de limpeza e medicação.
Começou a olhar uma porta
- Eu nunca vi esse lugar assim, tão largo, só Deus sabe quando pintaram as coisas aqui.
Ele se mudou limpando o rosto na camiseta
- Preciso ir para a cidade!
Ela ficou olhando o abdômen definido dele, imaginando quantos anos tinha
- Vou te pagar! Quer o dinheiro em mãos ou?
Ele foi se afastando
- Pode ser de pix, tanto faz. O cavalo que falei, é esse aqui.
Ela foi olhando, um por um, ficou emotiva com dó deles, Miro saiu, foi fazer suas obrigações, ficou a achar muito negligente com tudo, decidiu não facilitar a vida dela, porque uma mulher como ela, nunca iria facilitar a dele.
Ramiro era um homem mais velho e solitário, e pulando de trabalho em trabalho, sítios, pomares, roças, já havia feito todo tipo de trabalhos em lugares assim, era muito observador e misterioso, com um pavio bem curto.
Gostava de acordar cedo, dormir cedo e aproveitar o tempo livre na natureza, pescando, nadando, lidando com animais, especialmente os equinos.
Na hora do almoço, Otávia foi até a plantação, procurando Miro, disse que ele não ia nem voltar, ela estava começando a se irritar com tudo, foi procurar ele no refeitório, nas redes de descanso, por último na casa do caseiro, foi de cavalo e chegou entrando.
A porta estava aberta, ele não pegou nada, dormindo, estava deitado na varanda de trás em uma rede, ela estava olhando tudo reparando na simplicidade, não ia lá desde a infância.
Achou que a casa estava vazia, aproveitou para olhar o quarto, fuçar as coisas dele, abriu o guarda roupa, não tinha camisetas, quatro calças, algumas meias, um perfume de catálogo e dois desodorantes, ela foi cheirando com desdenha, começou a olhar embaixo das roupas procurando algo escondido.
Ele acordou, se declarou foi entrando distraído só de cueca, sentindo o cheiro de perfume e suspeitou que tinha alguém lá, a pegou fechando a porta do guarda roupa
- O que está procurando patroa?