Porém, a verdade é que eu não sabia o que tinha visto nela, mas algo mexeu comigo e me impulsionou a querer cuidar dela, me fez desejar poder dar a ela uma vida diferente.
Por isso, quando a vi naquele terraço prestes a pular, não pensei duas vezes em correr para salvá-la.
A ideia de ter um filho foi algo um tanto aleatório, confesso que disse mais como uma desculpa para que ela viesse comigo, mas agora observando Sophia encantada com cada canto da casa que eu mostrava, a ideia começava a se assentar na minha cabeça.
- Eu preciso voltar. - Ela falou, trazendo minha atenção ao presente.
- Pensei que tínhamos passado dessa parte onde você quer continuar fugindo e que finalmente ia me deixar ajudar.
- Claro que já passamos, eu não quero voltar, mas preciso pegar minha mochila, meus documentos, minhas roupas, tudo o que eu tenho ficou lá.
Oh, então era isso, respirei aliviado e apontei para a outra porta para ela entrar. Com toda certeza, esse deveria ser o quarto dela, claro que ela poderia escolher qualquer um dos outros espalhados pela casa, mas esse, além de estar ao lado do meu quarto, também tinha uma vista magnífica.
- Quanto às roupas vamos comprar novas, mas Brian pegou sua mochila, está no carro. - Ela desviou o olhar das paredes em um tom de rosa-claro e me encarou surpresa.
- Como ele pegou? Não tinha como você saber que eu viria com você!
- Não, mas um homem precavido vale por dois. Agora venha ver essa vista. - Atravessei o quarto a passadas largas e abri as portas que davam para a varanda. Mas Sophia estava paralisada no meio do quarto, com um olhar desconfiado em minha direção. - Eu não sabia se viria comigo ou não, mas eu não ia deixar que ficasse ali sabendo que estava sendo perseguida.
Eu não sabia o que tinha acontecido na vida dela, mas sabia que não deveria ser algo fácil, já que ela era desconfiada de tudo. Eu esperava descobrir rápido. Já tinha colocado alguns homens para levantar o histórico familiar dela, mesmo que preferisse que fosse ela mesmo a me contar, se abrindo comigo, mas não podia me dar esse luxo, precisava saber quem era Sophia e do que ela estava fugindo.
- Preciso da minha mochila. - Ela murmurou sem dar nenhum passo na minha direção.
- Vou pedir que tragam para o seu quarto, você só tem que escolher um. - Estendi a mão na direção dela, vendo que a teria que tratar como um animalzinho assustado que acabou de ser resgatado. - Venha ver a vista, tenho certeza que vai te convencer.
Ela olhou para a porta aberta e novamente para minha mão antes de dar um passo na minha direção. Sophia não aceitou a minha mão, mas veio até a varanda e em seus olhos eu vi toda a surpresa quando encarou a distância.
A vista pegava toda a propriedade, ela conseguia ver a quadra de tênis, o campo, a estufa e todo o jardim.
- Aí, meu Deus, isso é... Lindo. - os olhos dela corriam para todos os lados tentando absorver toda a imagem. - Isso é tudo seu?
Eu sorri com o choque na voz dela em me perguntar se era tudo meu. Sophia era realmente alguém que não conhecia a minha realidade e, não sei motivo, mas isso me fez gostar ainda mais de tê-la por perto.
- Sim, tudo aqui é meu. Mas essa não é a minha maior propriedade, na Itália fica a maior...
- Itália? Itália, como o país? - Ela me interrompeu com surpresa e eu não pude evitar sorrir.
- Sim, Itália, o país. Você vai conhecer, tenho certeza de que vai adorar o lugar. - Me aproximei dela, sorrindo com os olhos arregalados. - Eu mesmo vou levá-la para conhecer, vou lhe mostrar o país inteiro.
O vento soprou mais forte, bagunçando o cabelo dela, soprando os fios loiros sobre o rosto e, tomado de um impulso, eu ergui a mão até seu rosto colocando o cabelo para trás de sua orelha.
Nossos olhares ficaram presos por um segundo, Sophia encarou meus olhos quase como se eles tivessem todas as respostas de que ela precisava. As íris azuis mais intensas que eu já tinha visto, pareciam uma maldita piscina natural que me convidava para nadar.
Então ela virou rapidamente o rosto, afastando minha mão e quebrando a nossa conexão.
- Mas eu não tenho um passaporte, nunca viajei para lugar nenhum.
- Isso não é um problema, podemos providenciar hoje mesmo se quiser. - Me virei para frente, respirando fundo e encarando a paisagem e o céu azul. - Agora que pode viajar para onde desejar vai precisar de um passaporte.
Então ficamos ali em um silêncio, apenas encarando a nossa frente sem dizer ou fazer nada. Mesmo que eu tivesse um milhão de perguntas para ela, não queria assustá-la e depois de toda a loucura que foi o dia de hoje ela facilmente fugiria daqui.
Não sei quanto tempo tinha se passado antes que Jenna entrasse no quarto me chamando.
- Ah, Senhor. Não sabia que estava com visitas. - Ela se apressou em dizer quando viu Sophia.
- Venha aqui, Jenna. Essa é Sophia e ela vai morar aqui de agora em diante. - afirmei, recebendo um olhar meio incerto da loira, eu sabia que ela ainda tinha dúvidas, seria até estranho se ela não tivesse. - Sophia, essa é Jenna, a nossa governanta.
A senhora que eu conhecia há metade da minha vida deu um dos seus sorrisos calorosos e apertou a mão de Sophia.
- É um prazer conhecer a senhorita. Eu só vim avisar que o almoço já vai ser servido, se eu soubesse que teríamos visitas, teria feito algo do seu agrado.
- Meu? Oh, não, não se incomode comigo. Eu como absolutamente tudo, não tenho nenhuma frescura. - Sophia foi rápida em responder e o olhar de Jenna voou para mim.
Eu podia imaginar o que estava se passando na cabeça dela, que Sophia não era mais uma das riquinhas, metidas e cheias de frescuras que eu costumo trazer em casa.
- Ok, então querida. Espero que aproveite o almoço. - Ela sorriu, se virando para sair. - Vou deixar vocês dois sozinhos.
Eu ia ter que esclarecer a ela que não estava acontecendo nada entre mim e Sophia, ou Jenna e todos os outros empregados da casa assumiriam que ela era mais uma em minha cama.
- E então, o que achou do quarto? - perguntei e, mais uma vez, ela olhou em volta, avaliando tudo.
- É lindo, acho que vou ficar com esse.
- Acha? - questionei intrigado com a dificuldade dela em escolher um lugar para dormir. - Pode dormir um pouco em casa, quarto até achar o seu favorito.
- Não é sobre o quarto, mas sobre você sendo bondoso, generoso e todo sorrisos. - Ok, eu não tinha percebido isso. - Porque você quer me ajudar, ser bondoso e amigável, nada disso entra na minha cabeça. Você tem tudo isso - ela apontou para a paisagem à nossa frente. - Por que iria querer me ajudar, me dar acesso a tudo isso?
Eu não entendia também, não sabia o porquê de ela ter despertado isso dentro de mim. Mas ainda sim, ali estávamos nós.
- Tenho isso também. - Puxei meu celular do bolso e abri a foto onde mostrava o tumor em meu cérebro. - E uma data de morte, um ano, é tudo o que eu tenho.
- Eu... Sinto muito. - Ela murmurou, olhando para o celular e vendo a mancha em meu cérebro.
- Entendo sua insegurança e medo, mas prometo não lhe fazer nenhum mal, não sei o que me fez querer ajudá-la sendo que milhares de pessoas por aí também precisam, mas algo em você me fez querer te ajudar. - me aproximei dela segurando as duas mãos e olhando bem de perto o rosto dela, torcendo para que dessa vez ela entendesse. - Eu só quero que esse tempo que me resta seja usado para algo bom, algo que vá ficar para ser lembrado, quero que o nome da minha família tenha um futuro e apenas isso!
Sophia suspirou, passeando os olhos por meu rosto, parando por um segundo em meus lábios antes de voltar a focar em meus olhos.
- Está me dizendo que não fará nada comigo que eu não queira? - A pergunta sussurrada se desviou em minha mente e eu não consegui evitar olhar para os lábios rosados e entre abertos.
Ela estava mesmo querendo me dizer isso?