Um arrepio percorreu minha espinha, e meu coração bateu descompassado. Por que ele me deixava assim?
Engoli em seco, tentando me manter profissional.
Era apenas um elogio, certo?
No entanto, a intensidade do seu olhar fazia cada palavra parecer mais carregada de significados ocultos.
- Obrigada, Sr. Leonardo. É uma honra trabalhar ao seu lado. - Minha voz saiu mais firme do que eu esperava, mas meu corpo inteiro denunciava o nervosismo. Minhas mãos tremiam levemente, e eu me forcei a não olhar diretamente em seus olhos.
Ele sorriu. Não um sorriso comum, mas algo que aquecia a sala, preenchendo o espaço com uma energia que eu mal conseguia definir. Era como se, por um breve momento, estivéssemos em um universo à parte, apenas nós dois, e todas as formalidades desaparecessem.
Ele se aproximou de mim, devagar, como quem mede cada passo, cada centímetro de distância entre nós. Em qualquer outra situação, eu teria recuado, mas naquele momento, algo dentro de mim simplesmente congelou. Não consegui, nem quis, me mover. Havia uma tensão no ar, algo elétrico que eu nunca tinha sentido antes.
- Ayla, há algo que eu tenho desejado fazer há muito tempo. - Ele começou, sua voz agora mais suave, quase um sussurro. - Espero que você não me interprete mal, mas... preciso fazer isso.
Antes que eu pudesse reagir ou processar suas palavras, seus lábios estavam nos meus. O beijo foi inesperado, quente, intenso. Meus olhos se fecharam instintivamente, e meu corpo cedeu àquele toque. Nunca tinha experimentado algo assim. Eu, que ainda era virgem, nunca tinha estado com um homem antes, senti uma explosão de sensações.
Sua boca movia-se com uma urgência, mas ao mesmo tempo com cuidado, como se estivesse descobrindo algo novo também. Suas mãos firmes seguraram minha cintura, trazendo-me para mais perto, e todo o meu corpo reagiu, como se estivesse aguardando por esse momento sem que eu soubesse.
O turbilhão de sentimentos me tomou por completo. Não havia mais racionalidade, apenas a intensidade daquele instante, e eu me entreguei. Suas mãos, seu toque, o jeito como ele me segurava – tudo parecia tão certo, mas, ao mesmo tempo, assustadoramente novo.
Quando finalmente nos afastamos, eu abri os olhos lentamente, ainda tentando recobrar o fôlego. O silêncio que se seguiu era quase palpável, cheio de tensão. Ele me olhava, seus olhos intensos como sempre, mas agora com algo mais – algo que eu não conseguia identificar.
- Ayla, eu... - Ele começou, mas suas palavras pareciam presas. Parecia estar lutando internamente, como se a razão e o desejo travassem uma batalha.
Eu ainda estava tentando processar o que tinha acontecido. Um beijo. Não apenas um beijo qualquer, mas o beijo que mudaria tudo. Meu trabalho, minha relação com ele, e o que eu achava que sabia sobre mim mesma.
O que eu deveria fazer agora?
- Acho que... é melhor eu ir. - Murmurei, minha voz quase inaudível, ainda abalada pela intensidade do que acabara de acontecer.
Leonardo me encarou por alguns segundos que pareceram eternos. Seu olhar era uma mistura de desejo e dúvida. Ele assentiu devagar, como se estivesse aceitando o que, no fundo, não queria.
- Sim, claro. Até amanhã, Ayla. - Sua voz estava rouca, mais grave do que o habitual.
Saí da sala em um estado de completo choque. Meus passos pareciam automáticos, movendo-se pelo corredor sem que eu realmente tivesse controle sobre eles.
O que aquilo significava?
O que eu deveria fazer agora?
O beijo tinha mexido comigo de um jeito que eu não sabia explicar.
O que isso significava para nós?
Para meu trabalho?
Eu estava prestes a descobrir que a linha entre o profissional e o pessoal era muito mais tênue e complicada do que eu imaginava.
Quando o expediente terminou, as memórias daquele beijo ainda ecoavam em minha mente. Meus pensamentos estavam confusos, misturados com sensações que eu nunca havia experimentado antes. O que ele tinha feito comigo? Senti meu rosto esquentar, o rubor tomando conta de mim. Eu precisava sair dali, precisava de espaço para pensar.
Peguei um táxi e pedi para me levar para casa. Enquanto o carro percorria as ruas, eu observava as luzes da cidade piscando lá fora, mas minha mente estava a quilômetros de distância.
Por que ele me beijou?
E, pior ainda, por que eu correspondi?
Cheguei em casa e fui recebida por Lourdes, minha governanta fiel, que estava comigo desde que eu era criança.
- Bem-vinda, minha querida. - Ela me abraçou com o carinho de sempre.
- É tão bom ter você aqui, Lourdes. - Disse, sentindo as lágrimas se acumularem em meus olhos.
- Você sabe que não precisa enfrentar nada disso sozinha, certo? - Seus olhos estavam cheios de preocupação enquanto me observava.
Assenti, mas não consegui responder. Dei-lhe um beijo rápido na bochecha e fui para o meu quarto, o cansaço finalmente pesando em meu corpo. Deitei na cama e deixei que a exaustão me dominasse. Mas minha mente estava longe de descansar. Amanhã eu teria que enfrentar Leonardo novamente, e não sabia como isso iria acontecer.
Ao acordar, o dia seguinte trouxe um misto de ansiedade e determinação. Eu precisava evitá-lo a todo custo. No entanto, a presença de Leonardo era algo que não se apagava tão facilmente. Uma reunião de última hora foi agendada, e o nervosismo voltou a me dominar. Talvez eu devesse contar a Lourdes ou à minha amiga Clara sobre o que havia acontecido... mas e se elas sugerissem algo que eu não estivesse pronta para ouvir?