Leonardo não era apenas o CEO da empresa onde eu trabalhava. Ele exercia uma atração inexplicável sobre mim, algo mais profundo que a simples admiração profissional. Havia um magnetismo em seus gestos, em suas palavras calculadas, e em seu sorriso, que alternava entre a formalidade e uma intensidade que me deixava sem chão. Ele conseguia equilibrar perfeitamente a postura firme de um líder com uma gentileza que me fazia querer conhecê-lo mais.
Durante a reunião daquela manhã, as discussões sobre o plano de marketing da empresa seguiram um caminho que, na minha visão, não traria os resultados desejados. Meu pai, que tinha seu próprio negócio, me ensinou a importância de estratégias focadas e segmentadas, e eu sabia que tinha algo de valor a acrescentar. Mesmo sentindo a tensão entre Leonardo e eu, resolvi falar.
- Acredito que, se seguirmos esse plano, não atingiremos o impacto que esperamos - declarei, interrompendo a apresentação de Amanda, que não parecia muito satisfeita com a minha intervenção.
Ela me olhou de forma irônica, como se esperasse que eu cometesse algum erro.
- E qual é a sua experiência em marketing, Ayla? - ela provocou, com um sorriso debochado.
Antes que eu pudesse responder, Julius, o líder do departamento de marketing, interveio:
- Fale mais sobre sua ideia, Ayla. Estamos abertos a sugestões.
Respirei fundo, tentando ignorar o tom de Amanda e foquei em Julius. Eu sabia que minhas ideias eram boas, mas falar em frente a Leonardo, que observava cada palavra minha com atenção, me deixava nervosa.
- A empresa atua em muitos setores diferentes. Um plano de marketing genérico não vai nos destacar. Precisamos de campanhas direcionadas para cada público-alvo, usando estratégias específicas para cada segmento. Isso nos dará uma vantagem competitiva, já que poderemos focar nas necessidades de cada cliente.
Julius pareceu considerar minhas palavras, e Leonardo permaneceu em silêncio por um momento, apenas me observando. Ele finalmente falou, rompendo a tensão que pairava no ar:
- Concordo com você. - Disse ele, me encarando com um olhar penetrante. - Ayla, prepare um relatório detalhado com sua proposta e entregue até o fim do dia.
Assenti, tentando não demonstrar o turbilhão de emoções que borbulhava dentro de mim. Estava animada pela oportunidade, mas a maneira como ele disse meu nome e a intensidade do seu olhar me deixavam desconcertada.
Depois da reunião, voltei para minha mesa e comecei a trabalhar no relatório que prometi. A cada palavra que escrevia, sentia a presença de Leonardo em minha mente. Não conseguia parar de pensar no que havia acontecido entre nós. Tentei me concentrar, mas era difícil. Ele estava em todos os lugares – nos corredores, nas reuniões, e nos meus pensamentos.
Meu celular tocou, interrompendo meus devaneios. Era Clara, minha amiga e confidente. Ela sempre sabia quando eu precisava de uma conversa, e agora não era diferente.
- Como você está? - Ela perguntou, com a voz suave, mas cheia de preocupação.
- Tentando sobreviver. - Respondi com um suspiro. - Hoje foi um dia cheio. Tenho um projeto importante para entregar e estou focada nisso.
- E o Leonardo? - Clara perguntou, sem rodeios, sabendo exatamente o que estava acontecendo.
O nome dele fez meu estômago revirar. Não era só o trabalho que estava me consumindo, mas a incerteza sobre o que havia entre nós. Eu não sabia como lidar com a situação, especialmente porque precisava provar meu valor na empresa.
- Não sei, Clara. - Confessei, baixinho. - Algo aconteceu entre nós, mas estou tentando focar no trabalho. Só que está sendo difícil.
Ela fez uma pausa antes de responder.
- Ayla, cuidado com ele. Já ouvi algumas histórias sobre Leonardo. Ele pode parecer perfeito, mas ninguém é exatamente o que parece. Só quero que você não se machuque.
Suas palavras me deixaram inquieta. Clara sempre foi protetora comigo, mas dessa vez havia algo a mais em sua preocupação. O que ela sabia sobre Leonardo que eu não sabia?
- Não sei se ele é o que você está imaginando, Clara. - Disse, tentando soar confiante. - Até agora, ele foi respeitoso e muito profissional.
- Só estou dizendo para você não se iludir. - Ela disse, suspirando. - Apenas tome cuidado, está bem?
Agradeci por sua preocupação e desliguei, mas suas palavras continuaram ecoando na minha mente. Havia uma parte de mim que queria confiar em Leonardo, que acreditava que ele era um bom homem. Mas a outra parte, a parte racional, sabia que eu precisava ser cuidadosa.
Concentrei-me novamente no trabalho. O relatório estava quase pronto, e eu sabia que ele poderia ser a minha chance de mostrar meu potencial. Não queria que minhas emoções em relação a Leonardo interferissem na minha carreira.
Quando finalizei o relatório, fui até a sala de Leonardo para entregá-lo. Bati na porta e, ao entrar, senti o ar pesado entre nós. Ele levantou o olhar do que estava fazendo e me encarou, com aquele mesmo olhar intenso de sempre.
- Aqui está o relatório, Sr. Leonardo. - Disse, mantendo meu tom formal.
- Obrigado, Ayla. - Ele respondeu, com a voz grave. - Vou revisar e lhe dou um retorno.
Eu fiz menção de sair, mas algo me segurou. Fiquei parada por alguns segundos, encarando a porta, sem saber o que dizer ou fazer. Era como se uma parte de mim quisesse dizer algo, mas a outra parte gritasse para eu me manter distante.
- Ayla... - A voz de Leonardo me fez virar de volta para ele. - Sobre o que aconteceu entre nós... ainda não conversamos sobre isso.
Senti meu coração disparar. Aquele era o momento que eu temia e esperava ao mesmo tempo.
- Eu sei, mas talvez não devêssemos... misturar as coisas. - Respondi, hesitante.
Ele assentiu, com um sorriso triste no rosto.
- Talvez você tenha razão.
Sai da sala, sentindo um alívio misturado com uma tristeza inexplicável. Sabia que, por mais que tentasse evitar, aquela história entre nós estava longe de terminar.