Sempre me considerei forte, independente. Alguém que não precisava de ninguém para se sentir completa. Mas Rick mexia comigo de um jeito que desmontava essas certezas, despindo minha alma de suas armaduras.
Ao chegar na clareira onde minha cabana se escondia, soltei um suspiro pesado. Aquele lugar, que antes era meu refúgio, agora parecia vazio, incapaz de abafar a tempestade que crescia dentro de mim. Tudo havia mudado. E, por mais que tentasse ignorar, não havia como voltar ao que eu era antes dele.
Dentro da cabana, cada objeto parecia me observar. As prateleiras com ervas secas, o pequeno caldeirão no canto, a mesa simples, onde muitas vezes jantei sozinha. Nada ali parecia suficiente para conter a força das perguntas que agora me invadiam. Quem era Rick, de verdade? O que ele queria comigo?
Duas escolhas estavam diante de mim: ignorar o que Rick significava e tentar seguir com minha vida, ou aceitar o que ele dizia sobre ser meu destino e arriscar tudo.
No fundo, eu já sabia qual seria minha escolha.
Não demorou muito para que ele aparecesse novamente. Rick parecia ter um talento especial para me encontrar, mesmo quando eu não queria. Desta vez, ele não surgiu das sombras. Ele estava parado na entrada da clareira, com um olhar intenso e determinado, como se tivesse esperado a vida inteira para aquele momento.
- O que você quer, Rick?- , perguntei, minha voz saindo mais firme do que eu esperava.
Ele deu um passo à frente, a luz do luar iluminando o rosto forte e marcado, os olhos brilhando com uma intensidade que fazia meu coração acelerar.
- Você sabe o que eu quero, Ayla -, ele disse, a voz profunda ecoando pela clareira. - Quero que você aceite quem eu sou. Quero que aceite quem você é.
- Você fala como se eu tivesse escolha.
-Você tem -, ele respondeu, parando a poucos passos de mim. - Mas o destino já fez a sua parte. Agora, cabe a você decidir se vai lutar contra ele ou abraçá-lo.
Aquelas palavras me atingiram como uma tempestade. Algo dentro de mim dizia que ele estava certo. Sempre soube que havia algo diferente em mim, algo que nunca consegui explicar. Talvez Rick fosse a chave para entender.
Eu deveria recuar, mas, em vez disso, dei um passo em direção a ele. Sentia como se algo estivesse nos unindo, algo antigo, primal, que transcendia qualquer lógica ou razão.
- Então me diga, Rick. O que significa aceitar quem eu sou?
Ele sorriu, um sorriso enigmático, e estendeu a mão.
- Significa que, juntos, podemos descobrir.
Muito tempo depois de diálogos que pareciam eternos, cruzei os braços e perguntei:
- Você sempre entra sem ser convidado? - Minha voz carregava uma tentativa de firmeza, embora o nervosismo fosse difícil de esconder.
Rick sorriu, aquele sorriso perigoso que me irritava e atraía ao mesmo tempo.
- Apenas quando sei que sou esperado.
Revirei os olhos, mas não pude evitar o sorriso leve que escapou dos meus lábios. Era irritante como ele tinha esse efeito sobre mim.
- O que você quer, Rick? - Perguntei, tentando retomar o controle da situação.
Ele deu alguns passos em minha direção, parando a poucos metros. Seus olhos brilhavam, intensos, como se pudesse enxergar cada parte de mim.
- Saber se você já decidiu.
Meu coração disparou, mas me forcei a manter uma expressão firme, desafiadora.
- Decidi o quê?
Ele inclinou a cabeça levemente, como se estivesse me estudando, o olhar dele parecendo atravessar minha alma.
- Se vai aceitar o que somos um para o outro.
As palavras dele me atingiram com força. Não era só o que ele dizia, mas o peso do significado por trás delas. Ele não estava pedindo apenas que eu confiasse nele; ele queria que eu aceitasse algo maior, algo que eu mal conseguia compreender.
Engoli em seco, sentindo o chão desaparecer sob meus pés.
- E se eu não aceitar? - Minha voz saiu mais baixa, quase como se eu temesse a resposta.
Rick deu mais um passo à frente. Agora, ele estava tão perto que cada movimento dele parecia vibrar no ar entre nós.
- Então eu vou embora.
Ele disse isso com firmeza, e eu sabia que era sério. Mas o que mais me assustava era perceber que eu não queria que ele fosse.
- Por que eu? - Perguntei, minha voz quase um sussurro.
Ele fechou o espaço entre nós, ficando tão perto que eu podia sentir o calor que emanava dele, a respiração pesada, a força silenciosa que ele carregava.
- Porque, Ayla, você não é apenas meu destino. Você é minha força, minha fraqueza. E, no final, você é tudo o que importa.
Minha mente girava com aquelas palavras. Rick não era o tipo de homem que falava em sentimentos, mas cada sílaba parecia carregada de uma verdade crua e inescapável. Eu podia sentir a sinceridade dele, tão palpável quanto o ar ao nosso redor.
- E se eu não conseguir ser tudo isso para você? - Minha pergunta veio sem pensar, um reflexo do medo que estava tentando esconder.
Rick ergueu a mão, hesitando antes de tocar meu rosto. Quando seus dedos finalmente roçaram minha pele, foi como se tudo no mundo silenciasse.
- Você já é.
Minha respiração travou, e meu corpo congelou no lugar. Sua mão, quente e firme, desceu até minha nuca, os dedos se entrelaçando nos fios do meu cabelo. Seu toque não era uma prisão, mas uma promessa, um lembrete de que ele não tinha intenção de me deixar fugir.
- Você acha que tem escolha, Ayla? - Ele murmurou, os olhos fixos nos meus, profundos e sombrios. - Mas você já escolheu. Desde o momento em que não correu, desde o instante em que ficou.
Essas palavras abalaram o que restava da minha resistência. Ele estava certo. Mesmo antes de entender o que sentia por Rick, meu coração já havia decidido. Mas ainda havia algo em mim que queria lutar contra isso, algo que temia o desconhecido.
- E se estivermos errados? - sussurrei, minha voz um fio de dúvida.
Rick inclinou a cabeça, os lábios dele tão próximos dos meus que eu podia sentir a promessa de um beijo, embora ele não avançasse.
- Errado seria não tentar.
O ar parecia desaparecer da clareira, deixando apenas nós dois. A decisão, que antes parecia um abismo, agora era inevitável. Eu sabia o que faria. Sempre soube.
Com um suspiro tremido, fechei os olhos. Rick não precisou dizer mais nada.
E quando finalmente senti seus lábios nos meus, foi como se tudo no mundo fizesse sentido.
Meu coração batia tão rápido que parecia que iria explodir. Cada palavra de Rick era intensa, crua, carregada de um peso que me atingia como uma onda. Pela primeira vez, percebi que talvez eu sentisse o mesmo.
Antes que pudesse pensar no que estava fazendo, dei um passo à frente, encurtando a distância entre nós.
- Você é perigoso, Rick.
Ele sorriu, um sorriso lento, predador, que enviou um arrepio pela minha espinha.
- Eu sei.
- E eu não confio em você. - Acrescentei, embora soubesse que não era completamente verdade.
Ele inclinou a cabeça, o olhar fixo no meu.
- Então confie no que sente.
A voz dele era rouca, um convite e um desafio ao mesmo tempo. Sua mão subiu lentamente, os dedos quentes roçando minha pele. Quando ele tocou meu rosto, foi como se todo o ar tivesse sido sugado da clareira.
Eu deveria recuar. Deveria lutar contra isso. Mas algo em Rick me fazia sentir que, por mais perigoso que fosse, ele era exatamente o que eu precisava.
- Você me assusta. - Admiti, minha voz quase um sussurro.
Os olhos dele brilharam, carregados de algo que parecia mais profundo do que palavras.
- Eu também me assusto. - Ele respondeu, com uma honestidade que me desarmou.
Por um instante, ficamos ali, presos em uma tensão quase palpável. Então, Rick se inclinou. Quando seus lábios tocaram os meus, foi como se tudo ao nosso redor desaparecesse.
O beijo era intenso, feroz, como se toda a tensão acumulada entre nós estivesse explodindo em um momento de pura rendição. Minhas mãos subiram, agarrando os ombros dele, enquanto ele me puxava para mais perto, o calor do corpo dele envolvendo cada pedaço de mim.
Quando nos afastamos, ambos estávamos ofegantes. O sorriso lento que surgiu no rosto de Rick dizia tudo.
- Acho que você acabou de decidir.
Eu ri, balançando a cabeça, tentando esconder o quão verdadeira era aquela afirmação.
- Talvez. - Respondi, mas minha voz carregava pouca convicção.
Rick estreitou os olhos, como se pudesse ver através de mim, e deu um passo para mais perto, até que não houvesse quase nenhum espaço entre nós.
- Não existe talvez, Ayla. Não com a gente.
Eu o encarei, o peso de suas palavras preenchendo o ar entre nós. No fundo, sabia que ele estava certo. Não havia mais talvez. Rick não era apenas perigoso; ele era inevitável.
O silêncio que se seguiu era pesado, mas não desconfortável. Era como se cada um de nós soubesse exatamente o que o outro estava pensando. Eu não confiava nele completamente, mas confiava naquilo que sentíamos, e isso me aterrorizava.
- Você pode ser meu destino, Rick. - Murmurei. - Mas saiba que, se você me quebrar, eu não vou esquecer.
Ele soltou uma risada baixa, sombria, e passou os dedos pelo meu rosto com cuidado, como se estivesse lidando com algo precioso.
- Se eu te quebrar, Ayla, será porque me quebrei primeiro.
O olhar dele dizia tudo: Rick estava tão perdido quanto eu. Dois lados da mesma moeda, ambos tentando se encontrar no caos que nos cercava.
Então, ele estendeu a mão, uma oferta silenciosa. Respirei fundo, meu peito apertado com o peso da decisão, e entrelacei meus dedos nos dele. E naquele momento, eu soube. Não havia volta.