Capítulo 4 Pelos olhos dele- parte 1

ELE

O ódio que eu estava sentindo daqueles lobos rebeldes, apoiadores covardes de um usurpador, aumentou quando o meu Beta, Zenir, veio ao meu encontro carregando o corpo do irmão. Um filhote ainda, mal completou catorze ciclos solares, um bom recruta do meu exército.

Theo tinha acabado de passar pela primeira transformação e implorou ao irmão mais velho para fazer parte da campanha de tomada das terras de Rules. Sabendo que era um clã pequeno, que não oferecera resistência diante da divisão dos espólios de guerra, o meu Beta achou que seria uma boa experiência.

No entanto, no meio da noite, esses covardes se me rebelaram e atacaram os meus homens, matando o jovem Theo.

O fedor da dor e tristeza do meu Beta era quase tão nauseante quanto o de carne queimada que exalava do corpo que ele carregava nos braços.

- Alfa, eles atacaram sem motivo algum, exigem que libertemos o alfa deles.

- Rules? Esses idiotas se rebelaram em apoio a um alfa perdedor que foi imbecil o suficiente para se aliar a um pervertido como Alaor?

- Eles incendiaram as barracas dos nossos homens, após servirem bebidas com soníferos. A maioria morreu queimado na própria barraca, os que escaparam com vida estão feridos pelo fogo e fumaça. O meu irmão, Alfa, não bebeu do vinho, jovem demais para apreciar o sabor. Ele conseguiu escapar, mas, não aguentou os ferimentos.

- Theo era um bom filhote, honrado e corajoso, a sua alma certamente está com a Grande Deusa!- Nunca fui bom em consolar pessoas tristes.

As minhas palavras eram verdadeiras, o jovem Theo era possuidor de muito caráter e dignidade. Uma grande perda para a família e para o clã. Sendo Alfa, não podia deixar de me sentir responsável.

Se eu não estivesse na festa de união de Ares com Lídia, em vez de cumprindo o meu dever nas terras que adquiri, nada disso teria acontecido.

- Por favor, senhor, peço o meu direito de vingança!

- Terá a sua vingança, meu amigo! Lutaremos juntos, faremos com que eles entendam que não estão lidando com um alfa fraco como Rules!

*****

O cheiro de morte e sangue serviam como combustível para a minha natureza seguir em frente. A minha fera, como sempre, exigia mais de mim, cobrando coisas, nunca satisfeita com quem eu era ou a maneira em que agia.

Zenir teve a sua vingança, eliminando o covarde do beta que orquestrou o motim. Diante de seus estúpidos "heróis" mortos, o clã finalmente se rendeu. As fêmeas que se atreveram a entrar na batalha desesperadas pela perda dos companheiros foram mortas como forma de misericórdia.

Culpa dos machos inconsequentes, que deveriam ter pensado em suas fêmeas antes de começar uma guerra, que sabiam que não teriam como vencer.

Cuspi naquela terra manchada pelo sangue de perdedoras covardes capazes de incendiar filhotes. Dei a ordem para que os meus homens trouxessem a joia preciosa pela qual morreram.

Alfa Rules.

Um imbecil que se aliou a um alfa usurpador e pervertido como Alaor, contra um grande amigo meu, Alfa Ares, um lobisomem digno e justo que eu tinha em alta conta.

Joguei-o no chão, forçando-o a se ajoelhar diante de mim, na frente do que restava do seu povo.

- É por esse perdedor que vocês arriscaram as suas vidas e de seus filhotes? Para manter um lixo desse vivo? Poderiam ter uma vida mais digna ao estarem sob o meu governo, não de um parasito como esse! Deviam sentir-se honrados por fazerem parte do meu clã, como puderam ser tão tolos?

- O meu povo é leal, Alfa Orium, eles não se vendem pelo seu ouro, nem se rendem ao Conselho Supremo dos Lobos.

- Não, claro que não, porque você, Rules, escolheu se vender e servir a um pervertido que trepava com a própria irmã! Um abusador envolvido com tráfico de ômegas!

A cara de surpresa do imbecil ajoelhado à minha frente era patética. Como um alfa podia não saber disso antes de se aliar a alguém durante uma guerra?

No mínimo, também estava envolvido nos crimes de Alaor!

Zenir começou a escanear o território, atento aos sobreviventes, a maioria fêmeas e filhotes. Todos haviam tentado escapar, mas os meus homens não permitiram.

Ninguém sairia impune.

- O que faremos com eles, Alfa? - Perguntou Zenir, ainda ocupado em analisar aquela gente.

Eu poderia ignorar o mal que eles fizeram e simplesmente tomar o que me interessava: As terras, mas a morte de vários dos meus homens, especialmente a de Theo, me fizeram desejar humilhar aquele alfa menor um pouco mais.

- Tenho uma ideia, Beta. O que acha de testarmos a lealdade dessa gente diante de um alfa perdedor e fraco?

O meu Beta sorriu, satisfeito, sem nem mesmo saber o que eu tinha em mente. Ele me conhecia, sabia que eu não tenho pena de pervertidos e covardes, e se aquele alfa era aliado de Alaor, certamente não prestava.

- Vocês, sobreviventes, darei uma última chance! Aquele que renegar o alfa e cuspir na cara dele, como simbolo de rejeição, poderá passar pelos testes para serem aceitos no meu clã! Deixarei o meu Beta decidir o que fará com aqueles que se recusarem.

Rules abaixou a cabeça, incapaz de encarar os membros do seu "ex" clã. Sabia que eles não teriam escolha a não ser rejeitá-lo publicamente. Como Alfa, essa seria a maior humilhação possível.

Ele merecia!

No entanto, antes que eu ordenasse o início da rejeição de Rules, ouvi galopes se aproximando.

Virei-me na direção do barulho, a essência dela fez com que a minha natureza me ferisse por dentro, ávida por tomar o controle.

Por sorte, ainda estava sob o efeito da beberagem para pacificar a terceira forma...

O rosnado que a minha natureza emitiu fez com que todos os presentes tremessem, incluindo o alfa perdedor. Quando ele viu a fêmea se aproximando, como uma guerreira amazona, montada num cavalo, vi o verdadeiro medo em seus olhos.

Quem era ele para a MINHA fêmea?

Quando os nossos olhos se cruzaram, não havia mais nada a nossa volta, tudo o que eu podia ver era ELA. Ela me encarou, sem abaixar a cabeça, sem respeitar a minha natureza e a minha posição de Alfa.

Eu sei que ela sabia quem eu era e o que eu significava para ela. Fui até ela sem perda de tempo, desafiando-a a tentar fugir de mim.

Aproximei os nossos rostos, incapaz de evitar a sede que tinha por sua essência

O meu membro endureceu de imediato, dolorido e latejante. Os meus caninos se expandiram, produzindo a toxina de união. A minha mente estava anuviada, o meu coração batia descompassado e o peito ardia. A minha natureza estava unida pela primeira vez, inerte a forte atração que ela exercia sobre nós.

Nunca me senti daquele jeito antes, nem por Lìdia....