Capítulo 4 Sombras na Escuridão

A noite havia caído mais uma vez sobre a cidade, e a brisa fria que entrava pelas frestas da janela do escritório de Alejandro Ferrer trazia consigo uma sensação de inquietação que parecia ter se instalado em seu peito. Havia algo no ar que o deixava desconcertado. A investigação que havia iniciado após a ligação de Lucía Torres revelara mais perguntas do que respostas. Quanto mais ele tentava chegar ao fundo da questão, mais complicadas se tornavam as peças do quebra-cabeça.

Alejandro estava em seu escritório, diante da mesa, com uma expressão fixa no rosto. À sua frente, havia uma série de documentos que Hugo Morales havia entregue naquela tarde. A investigação sobre Carlos Muñoz começava a tomar forma, e, embora os detalhes ainda fossem vagos, havia algo no perfil dele que não o convencia completamente.

Carlos Muñoz era um nome comum, mas não havia nada de comum na forma como aparecia nos registros internos da empresa. Havia conexões que não faziam sentido com as pessoas que Alejandro conhecia. O histórico de Muñoz era escasso, mas o que fora encontrado até então indicava que sua presença na empresa não era fortuita. Registros de seu nome apareciam em e-mails internos que Alejandro não havia autorizado, e havia algo em seu perfil que despertava uma sensação estranha, como se alguém tivesse tentado apagar seus rastros.

No exato momento em que Alejandro estava imerso em seus pensamentos, o som do telefone interrompeu o silêncio do escritório.

- Alô? - atendeu, erguendo o olhar.

- Senhor Ferrer - disse a voz de Hugo Morales, seu assistente pessoal. - Encontrei algo interessante sobre Carlos Muñoz. Acho que o senhor deveria ver isso.

Alejandro franziu o cenho. Hugo tinha um jeito de falar que indicava algo sério, algo importante. Sem perder tempo, Alejandro desligou o telefone e se dirigiu ao setor de investigações da empresa, onde Hugo o aguardava.

- O que você encontrou? - perguntou Alejandro, com uma voz grave, quase ansiosa.

Hugo entregou-lhe uma pasta contendo vários relatórios e documentos que Alejandro já começara a revisar. No entanto, havia um que se destacava: um e-mail enviado por Carlos Muñoz, a partir de um endereço externo à empresa, algo que Alejandro não havia notado antes.

- Este e-mail - disse Hugo, apontando o documento - foi enviado no mês passado para um endereço que não pertence a nenhum funcionário da empresa. O curioso é que ele menciona vários projetos internos e faz referência a uma operação que não consta em nenhum arquivo oficial.

Alejandro pegou o documento e leu em silêncio. O conteúdo era tão enigmático quanto perturbador. Falava-se de "ajustes estratégicos" e "mudanças na equipe", mas sem especificar o que isso significava exatamente. Contudo, algo no tom do e-mail fazia Alejandro pensar que se tratava de algo muito mais sério.

- Isso não faz sentido - murmurou Alejandro. - Se Carlos Muñoz está por trás disso, ele não está agindo sozinho. Esse tipo de manobra exige alguém com poder. Não sei exatamente o que está acontecendo, mas agora sei que as coisas estão fora de controle.

Hugo assentiu.

- Esse é o meu receio. Além disso, parece que Muñoz não está sozinho. Há menções a outras pessoas em alguns e-mails, mas todos os rastros foram apagados. Não é fácil rastrear a origem.

Alejandro apertou os punhos. A rede de corrupção e sabotagem dentro de sua própria empresa parecia ser muito mais extensa do que ele imaginava.

- Precisamos descobrir quem está por trás disso, Hugo. Custe o que custar. E tem algo mais que me preocupa: Lucía Torres. Não me interprete mal, Hugo. Ela tem ajudado com informações, mas ainda não sei em quem posso confiar. Ela está muito envolvida nisso tudo. Não quero cair em seus jogos.

Hugo o observou atentamente, percebendo a preocupação nos olhos do chefe.

- Entendo o que quer dizer, senhor. Mas também precisamos considerar que Lucía pode ser parte disso ou, por outro lado, a chave para resolver o mistério. Talvez ela esteja tentando protegê-lo, embora ainda não possamos ter certeza.

Alejandro suspirou. A situação era complexa, e não havia como saber com certeza qual era o papel de Lucía em tudo isso. Mas uma coisa era clara: algo estava acontecendo dentro da empresa, e ele precisava agir rápido.

- Continue investigando, Hugo. Não temos tempo a perder.

Enquanto isso, em um canto escuro da cidade, Lucía Torres estava em seu apartamento, observando atentamente a tela de seu laptop. Algo a mantinha acordada à noite, algo que a enchia de ansiedade. Embora sua relação com Alejandro Ferrer estivesse em uma fase de incerteza, ela também sentia que estava à beira de algo muito maior, algo que poderia arrastá-la caso não fosse cautelosa.

Com mãos trêmulas, Lucía discou um número em seu celular. A chamada demorou alguns segundos para ser atendida.

- Alô? - disse uma voz grave do outro lado da linha.

- Sou eu - respondeu Lucía, com a voz baixa e ansiosa. - Falei com Alejandro Ferrer. A investigação está tomando um rumo perigoso. Ele está perto de descobrir a verdade.

A voz do outro lado da linha permaneceu em silêncio por um momento antes de responder:

- Não se preocupe. Sabemos como lidar com isso. Apenas continue com o que está fazendo. Alejandro Ferrer não é um problema. O verdadeiro problema está em outro lugar. Confie em nós.

Lucía respirou fundo, tentando controlar os nervos. Não tinha certeza em quem estava confiando, mas sabia que não havia mais como voltar atrás. O jogo havia começado, e ela estava presa nele.

Naquela mesma noite, Alejandro Ferrer não conseguiu evitar dar uma última olhada nas informações que Hugo havia lhe entregue. Havia algo em sua mente que não o deixava descansar: Lucía Torres. Por que parecia estar tão envolvida em tudo isso? O que a motivava?

De repente, seu telefone vibrou, interrompendo seus pensamentos. Era uma mensagem de texto, sem remetente. O texto continha apenas uma frase curta, mas que fez seu sangue gelar:

"Não confie em Lucía. Ela sabe mais do que diz."

A mensagem era clara, e o fato de ser anônima apenas aumentava a incerteza em sua mente. Quem poderia estar enviando aquela mensagem? Era um alerta legítimo ou uma tentativa de manipulação?

Ele não conseguiu evitar sentir-se preso em um turbilhão de dúvidas e desconfianças. A verdade sobre Lucía Torres, sobre Carlos Muñoz e sobre tudo o que estava acontecendo na Aureum Corp parecia estar fora de seu alcance. Enquanto isso, as sombras continuavam a se mover na escuridão.

Recostou-se na cadeira, olhando para o teto com uma expressão séria. Não podia confiar em nada nem em ninguém. A guerra havia começado, e ele não sabia se estava preparado para enfrentá-la.