Na sua sala, Alejandro observava a chuva escorrendo pela janela. Não tinha ânimo para começar o dia. As sombras que o cercavam há semanas permaneciam presentes, e ele não via como se livrar delas. A investigação sobre o sabotagem na Aureum Corp estava cada vez mais complexa. Carlos Muñoz continuava sendo uma peça-chave no quebra-cabeça, mas as pistas eram vagas. A rede de intrigas na empresa era maior do que imaginava, e, por alguma razão, Lucía Torres estava no centro de tudo.
Antes que pudesse se perder mais em seus pensamentos, o intercomunicador o interrompeu.
- Senhor Ferrer - disse a voz de sua assistente, Mónica -, a senhorita Torres está na recepção. Diz que precisa falar com o senhor.
Alejandro ficou tenso. Embora tivesse decidido não confiar plenamente em Lucía, não podia negar que havia algo nela que o intrigava. Talvez fosse sua firmeza ou aquele olhar intenso e determinado. Mas ele não podia se dar ao luxo de cair em seus possíveis jogos. Sabia que as coisas já estavam fora de controle e precisava manter-se firme.
- Pode deixá-la entrar - respondeu, tentando manter a calma.
Lucía entrou na sala sem hesitar, sua presença preenchendo o ambiente. Vestia um elegante vestido preto, simples, e seus cabelos castanhos caíam suavemente sobre os ombros. Seus olhos encontraram os de Alejandro, e, por um instante, ambos se mediram, como se tentassem decifrar os pensamentos um do outro.
- Senhor Ferrer, espero não estar incomodando - disse Lucía com tranquilidade.
Alejandro ergueu a mão em um gesto de cortesia.
- Não é incômodo. Em que posso ajudá-la?
Lucía se sentou sem esperar convite, como se estivesse acostumada àquele tipo de conversa. Alejandro percebeu algo diferente em sua postura: parecia mais difícil de interpretar do que nunca.
- Preciso falar com o senhor sobre algo importante - começou, fixando o olhar em Alejandro. - Estive revisando os documentos relacionados aos projetos recentes da empresa e encontrei algumas irregularidades. Acho que alguém está manipulando os números. Além disso, descobri uma rede de comunicações suspeitas. Algo está acontecendo na Aureum, e não sei exatamente quem está por trás disso.
Alejandro permaneceu em silêncio por alguns segundos, avaliando cada palavra. Algo no tom de Lucía o fazia duvidar de suas intenções.
- E como você sabe de tudo isso? - perguntou Alejandro, arqueando uma sobrancelha. Seu tom era frio, mas controlado.
Lucía manteve a calma, respondendo diretamente:
- Sou observadora. Já trabalhei com esse tipo de projeto antes, e não posso ignorar os sinais. Depois do que aconteceu ontem com as contas, percebi que isso não é coincidência. É um padrão.
Alejandro estava intrigado. Havia algo na história dela que coincidia com o que ele mesmo havia descoberto, mas não estava disposto a aceitar aquilo sem provas mais concretas.
- O que você está dizendo é muito sério, Lucía. Se está insinuando sabotagem, precisamos de evidências claras - disse Alejandro, agora com um tom mais grave.
Lucía o encarou, sua expressão tranquila, mas com uma faísca de determinação nos olhos.
- Tenho as provas, senhor Ferrer. Mas ainda não posso compartilhá-las. Não confio o suficiente em ninguém nesta empresa para arriscar o que encontrei.
Alejandro sentiu uma onda de frustração. Sabia que estava lidando com algo perigoso, mas também sabia que não podia perder a oportunidade de descobrir a verdade, mesmo que isso o colocasse em risco.
- O que você precisa de mim, Lucía? - perguntou, o tom mais suave, mas ainda cauteloso.
Lucía fez uma pausa antes de responder, ponderando suas palavras.
- Preciso da sua ajuda para investigar mais a fundo. Não posso fazer isso sozinha. Há olhos demais sobre mim.
Alejandro a estudou em silêncio, ponderando suas opções. Algo no tom dela parecia genuíno, mas ele ainda não podia ignorar as dúvidas que tinha.
- O que você está pedindo é arriscado - disse ele, finalmente, com o olhar fixo no dela. - Se fizermos isso, não haverá volta. Está preparada?
Lucía assentiu sem hesitar.
- Sim, estou.
Depois que Lucía deixou o escritório, um nó formou-se em seu estômago. Sabia que estava cruzando uma linha perigosa, mas não podia parar agora. A verdade era mais importante que qualquer coisa. Enquanto isso, Alejandro continuava imerso em dúvidas. Lucía havia falado com tanta segurança, mas seria possível confiar nela?
A sensação de desconfiança voltou com força. Ele estava preso em um jogo de intrigas que parecia cada vez mais sem controle. Naquela noite, ao ouvir a chuva tamborilar nos vidros, Alejandro permaneceu acordado, atormentado por uma pergunta que não o deixava em paz: quem realmente estava por trás de tudo isso?