- O que você está procurando, Isabela? - murmurou para si mesmo.
A queda dos Valtieri havia sido um capítulo sombrio, mas necessário, na história de Alexander. Aquela família havia sido um obstáculo em seu caminho, uma barreira que precisava ser removida para que seu império alcançasse novas alturas. Eles haviam desafiado sua autoridade, tentado interferir em seus planos e, no final, pagaram o preço.
No entanto, nunca havia sido parte do plano deixar alguém vivo. Isabela havia sido um erro, um fio solto que deveria ter sido cortado há dois anos. Mas Alexander não acreditava em sorte nem em erros. Se Isabela estava viva, era por uma razão, uma que ele ainda não entendia completamente.
Dominic entrou no escritório, interrompendo seus pensamentos.
- Senhor Cain. Aqui está o relatório completo sobre os movimentos da senhorita Valtieri.
Alexander pegou a pasta, folheando as páginas rapidamente.
- Algo de incomum? - perguntou sem levantar os olhos.
- Ela encontrou um arquivo relacionado aos Valtieri. Abriu-o, mas não teve tempo de explorar muito antes que eu interviesse.
Alexander fechou a pasta com força e se levantou da cadeira, caminhando até as janelas.
- Era de se esperar. Sendo quem ela é, mais cedo ou mais tarde ela começaria a fazer perguntas.
- Quer que tome alguma providência? - perguntou Dominic, com uma voz sem emoção.
Alexander virou-se lentamente, seus olhos cinzentos gelados como aço.
- Não. Quero que a observe. Não interfira, a menos que seja absolutamente necessário.
Dominic assentiu, entendendo que Alexander preferia lidar com esse jogo à sua maneira.
- E Dominic... certifique-se de que ela não tenha acesso a informações sensíveis.
- Entendido, senhor.
Quando Dominic saiu, Alexander permaneceu de pé, olhando para a cidade como um predador observando seu território.
Naquela noite, Alexander revisou novamente o expediente de Isabela. Ele havia feito seu dever de casa: sabia onde ela esteve nos últimos dois anos, como havia sobrevivido e como conseguiu se candidatar a uma vaga em sua empresa. O que ele não sabia era se havia algum propósito oculto por trás de sua chegada.
Pegou um copo de uísque e caminhou até um cofre escondido atrás de um painel na parede. Abriu-o com um movimento rápido, retirando um envelope grosso. Dentro havia fotografias de Isabela em diferentes momentos dos últimos anos: trabalhando em um café, caminhando sozinha pela cidade, até conversando com estranhos.
Alexander estudou uma das imagens, onde Isabela estava sentada em um parque com uma expressão distante. Havia algo em seu rosto que lhe lembrava alguém, um lampejo de força misturado com vulnerabilidade.
"Ela não sabe quem sou", pensou. "Mas isso pode mudar a qualquer momento."
Na manhã seguinte, Alexander chegou cedo ao escritório, como sempre. Seus dias eram planejados até o minuto, e qualquer desvio era um luxo que raramente se permitia. No entanto, hoje havia algo que o mantinha alerta.
Evelyn, sua assistente pessoal, entrou com uma pasta.
- Senhor Cain, aqui estão os documentos para a reunião da tarde. Além disso, o senhor Bennett solicitou um momento para discutir a campanha de relações públicas.
Alexander mal levantou os olhos.
- Diga ao Bennett para esperar. Tenho outros assuntos para resolver primeiro.
Evelyn assentiu, acostumada com as prioridades mutáveis de seu chefe. Antes de sair, hesitou por um momento.
- Ah, e a senhorita Valtieri chegou há alguns minutos. Está em sua mesa.
Alexander não respondeu, mas a menção de Isabela fez com que ele apertasse a mandíbula.
Quando revisou sua agenda, decidiu adiantar uma reunião improvisada com Isabela. Queria observá-la, testá-la e ver se conseguia decifrar suas verdadeiras intenções.
Pressionou um botão em seu telefone.
- Senhorita Valtieri, venha ao meu escritório. Agora.
Isabela chegou alguns minutos depois, com uma pasta na mão e uma expressão tentando esconder seus nervos.
- Bom dia, senhor Cain.
Alexander apontou para uma cadeira em frente à sua mesa.
- Sente-se.
Ela obedeceu, colocando a pasta na mesa com cuidado.
- Quero falar sobre seu desempenho até agora - começou Alexander, com um tom frio, mas medido. - Você fez um bom trabalho organizando minha agenda e lidando com tarefas básicas, mas quero saber algo: por que acha que merece este cargo?
Isabela o olhou, surpresa com a pergunta.
- Estou comprometida a fazer o meu trabalho da melhor forma possível, senhor. Quero aprender e crescer profissionalmente.
Alexander inclinou a cabeça, como se estivesse analisando cada palavra.
- Isso é o que todos dizem. Mas trabalhar aqui não é para qualquer um. A Cain Enterprises não é um lugar para aprender; é um lugar para se destacar. Você acha que pode fazer isso?
Isabela sustentou seu olhar, embora sentisse que suas mãos tremiam levemente.
- Sim, senhor. Estou disposta a provar isso.
Alexander se recostou na cadeira, avaliando-a em silêncio antes de acenar com a cabeça.
- Muito bem. Volte ao seu trabalho.
Quando Isabela saiu do escritório, Alexander exalou lentamente. Havia algo nela que não fazia sentido, e embora não soubesse exatamente o que era, estava determinado a descobrir.
Naquela tarde, enquanto revisava mais documentos, Alexander recebeu uma ligação de Dominic.
- Senhor Cain, detectamos atividade incomum na conta de usuário da senhorita Valtieri. Parece que ela tentou acessar um arquivo restrito ontem à noite.
A notícia não o surpreendeu.
- Garanta que ela não tenha acesso a nada que comprometa a segurança da companhia. Mas deixe-a acreditar que ainda tem acesso.
- Quer que tomemos alguma medida adicional?
Alexander sorriu, embora não houvesse calor em seu gesto.
- Não. Deixe que ela jogue um pouco mais.
Desligou a ligação e se levantou da cadeira, caminhando até a janela. A noite caía sobre a cidade, e com ela vinha a certeza de que as peças em seu jogo começavam a se mover.
Isabela Valtieri não sabia no que estava se metendo, mas Alexander estava disposto a garantir que cada passo que ela desse fosse cuidadosamente vigiado. Porque nesse jogo de poder, só havia um vencedor, e sempre seria ele.